Cinema foi refúgio do menino que cresceu no interior e anotava filmes
Jornalista usou a quarentena para falar no Instragram sobre uma paixão, o cinema, e expor suas anotações dos filmes assistidos
No filme franco-italiano Cinema Paradiso, de 1988, um famoso cineasta chamado Salvatore Di Vita, após receber a notícia do falecimento de um grande amigo, volta à cidade do interior onde aprendeu a amar os filmes. Ele, na infância chamado de Toto, passava horas na sala do Cinema Paradiso, fazendo daquele ambiente um refugio, transformando-o em paixão e, no futuro, em ofício.
Foi lembrando esse filme que o jornalista Lucas Francisquini Pellicioni fez a primeira postagem no perfil “366 filmes em quarentena” no Instagram. “Eu costumo dizer que o cinema mudou a minha trajetória, talvez até tenha me salvado ao me mostrar que vida é cheia de possibilidades. A primeira foto é uma cena de Cinema Paradiso, quando o menino Toto se apaixona pelo cinema ao ficar amigo do projetista de cinema em um pequeno vilarejo da Itália. Eu não me tornei um cineasta como o personagem, mas fiz jornalismo por causa do cinema”, diz uma parte do post.
É possível sim traçar um paralelo entre as duas histórias, principalmente quando vemos nos filmes um refúgio, um recurso escapista. “Ser 'diferente' quando criança e, principalmente, adolescente, numa cidade do interior não é fácil. A gente precisa encontrar ferramentas pra lidar com o preconceito, o bullying. Não que isso seja uma exclusividade do interior, mas no caso de pessoas LGBTs, como eu, acho que é um agravante. Então o cinema foi essa ferramenta”, completa Lucas.
A página, nascida durante e por conta da quarentena, traz análises de filmes assistidos por Lucas; e são muitos. “Recentemente perdi meu emprego e, como já disse, essa quarentena a gente quase enlouquecendo, achei que seria bom para o meu estado mental resgatar essa prática e meio que me reconectar, por mais clichê que isso seja, com meus gostos da adolescência e infância”, explica o jornalista.
A prática a qual se refere não é só a de assistir filmes, Lucas também tinha o costume anotar num caderno o nome da película, do diretor, o ano de estreia e data em que assistiu. Fez isso da adolescência até o começo da vida adulta, de 2006 a 2011, pra ser mais exato.
“Sempre gostei desse tipo de organização, era uma terapia quando adolescente ficar contando os filmes no caderno e vendo quais diretores eu já conhecia. Também sempre carreguei esse caderno em todas as mudanças de casa e, dias desses, fiz uma limpeza no armário e o encontrei numa caixa”.
O reencontro com o passado, assim como Salvatore reencontrou o seu, fez com que Lucas retomasse o hábito das anotações. “Sem poder sair e isolado, achei que seria divertido voltar a anotar os filmes. Meu novo caderno já tem 41 títulos”.
As anotações, apesar de simples, são essenciais para a memória de Lucas. “Por muito tempo achei que queria ser cineasta, não rolou, acho que faltou nascer numa família rica (risos), mas eu comecei a acumular muitas referências na minha mente e achei que anotar me faria lembrar”.
O perfil no Instagram, segundo ele mesmo, não tem grandes pretensões, a ideia é compartilhar não só as experiências cinematográficas, mas o sentimento que a sétima arte lhe proporciona: de amor.
“Porque amor deve ser compartilhado, dizem. Acho que assim me sinto menos sozinho. Vou postar tudo o que vejo. Espero que passe dos 366 desse título. Aproveitem”.
Acompanhe as análises no @366filmesemquarentena.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.