De Ilton Silva, ficaram obras e homenagem à mãe no estúdio de Otilhiane
Empresária de Curitiba se encantou com o artista sul-mato-grossense durante uma viagem à praia e hoje expõe mais de 30 obras de Ilton
Em uma casa antiga e ao mesmo intimista no Bairro Bacacheri, em Curitiba, mais de 30 obras são o vestígio de que o amor do artista plástico sul-mato-grossense Ilton Silva pelas cores mudou tudo por ali. Adquiridas pela empresária Otilhiane Maria Juchem, o acervo e as palavras de Ilton desde 2015 foram inspiração para ela dar início a um sonho em uma casa com aproximadamente 50 anos de história.
Profissional da área de móveis e decoração há 20 anos, foi quando conheceu Ilton que sentiu o desejo e a coragem de trabalhar com a arte como forma de revelar tradições e valorizar raízes.
A proximidade com o artista veio do jeito mais inesperado, em 2015, quando Otilhiane resolveu passar uns dias em uma praia tranquila em Itapoá (SC). Numa casa alugada a família passou cerca de 10 dias, mas o período chuvoso fez com que quase ninguém saísse de casa. “E durante toda noite eu observava pela janela um senhor que pintava uma tela e passava horas sentada na varanda da casa, bem em frente à casa onde estávamos”, lembra.
O homem observado pela empresária era Ilton que fazia os primeiros traços numa tela, sem imaginar que sua obra encantaria a empresária. “Passei praticamente todas as noites observando o trabalho dele, e sentia que eu deveria ir até ele e conversar”.
No último dia de viagem, Otilhiane atravessou a rua e foi conhecê-lo. “Muito paciente e tranquilo ele começou a falar um pouco sobre a sua trajetória, mostrou alguns materiais, recortes de jornais e revistas onde haviam publicações sobre ele. Mas, quando vi aquela tela que eu observava do outro lado da rua pronta eu tive certeza: esta tela é minha”.
Na obra Otilhiane reconheceu ela e as filhas. “Coincidência ou não, aqui foi decisivo para comprá-las. Identifiquei minha relação com minhas filhas, reconheci sua ligação com as raízes de toda natureza brasileira, com a sua ancestralidade, uma mistura de suas experiências de vida com o lado místico e folclórico da sua região”, descreve.
Dali em diante ela comprou mais de 30 obras de Ilton, acervo que hoje estão no Tilli House, um estúdio de móveis e decoração, onde um sótão deu lugar aos sonhos da empresária. “Seu Ilton inspirou nosso Espaço Arte, que tem a proposta de fortalecer nosso projeto, a Essência Criativa Brasileira, com obras de artistas e peças de designers focados em nossas raízes”.
Ilton esteve algumas vezes no espaço de Otilhiane, entre conversas e cores que chegavam ao estúdio, o que não faltava era identificação. “Pessoalmente, além dos elementos e representação da sua cultura, lembrei-me também da infância quando nas férias tínhamos fazenda próximo a Campo Grande e pude conviveu muito com a região. Então tenho uma ligação forte com o Mato Grosso do Sul e boas lembranças”
Ao conhecer Ilton, foi quase impossível não se apaixonar pelo trabalho da artesã Conceição dos Bugres, com bugrinhos entalhados em madeira, símbolo da identidade sul-mato-grossense. Especialmente por isso, Otilhiane dedicou uma das salas da casa às obras que falam da mãe do artista. “Ele sempre reverenciava a mãe em nossas conversas e também conheci muito de Conceição retratada por Katia D´Angelo, na série Conceição dos Bugres”.
No verão seguinte, quando foi procurar Ilton novamente, Otilhiane encontrou Katia, que foi esposa de Ilton e conviveu com Conceição, por isso a retrata com tanto carinho nas telas. “Ela considera a Conceição como mãe. E foi neste encontro que tive contato pela primeira vez com suas obras, e dentre elas, algumas inspiradas na Conceição. Foi então que solicitei uma obra marcante em tons terrosos, e ela produziu uma obra espetacular de óleo sobre tela que está na sala principal de nosso espaço”.
A última conversa que teve com Ilton foi uma semana antes dele ser hospitalizado. “Comentamos sobre o trabalho que estávamos fazendo de divulgação de suas obras, para levar a novas exposições”, lembra.
Para Otilhiane, o que ficou de Ilton foi a imagem de um homem simples, com uma profundidade nas palavras que a fazia refletir em cada conversa. “Não vou esquecer que numa ocasião, sentado num banquinho na varanda da casa onde ele morava me disse: Para mim estar diante de uma tela pintando basta e toda minha obra e a contribuição que fiz aos Pais e filhos já se concretizou”, narra a empresária. “Sinto saudades de meu sábio amigo”.
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