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Artes

Escritor revive momentos com Manoel de Barros em imersão na casa do poeta

“Mergulho” na casa onde viveu Manoel de Barros aconteceu às vésperas do lançamento do livro “Diálogos do Ócio”

Por Thailla Torres | 14/12/2023 07:01
Um “mergulho” do jornalista Bosco Martins na casa onde viveu o poeta Manoel de Barros trouxe as lembranças de momentos marcantes
Um “mergulho” do jornalista Bosco Martins na casa onde viveu o poeta Manoel de Barros trouxe as lembranças de momentos marcantes

“Mergulho” na casa onde viveu Manoel de Barros aconteceu às vésperas do lançamento do livro “Diálogos do Ócio”, que marca a abertura de semana de atividades culturais e lúdicas em comemoração aos 107 anos de nascimento do poeta. O anfitrião, herdeiro e mantenedor, neto mais novo do poeta, Silvestre Barros e que morou um tempo com os avós na casa fala das lembranças da infância quando o jornalista visitava o avô.

“Era uma descontração na rotina de meu avô”, Assim o neto Silvestre Barros narrou os momentos leves no cotidiano de Manoel de Barros proporcionados pelas visitas frequentes de Bosco Martins e também de outros amigos mais chegados, segundo conta o neto do poeta ao comentar a visita do autor de “Diálogos do Ócio.”

“O Bosco era o cara que tirava meu avô do foco da rotina, tomada pela poesia e pelos assuntos sérios, como a política. As pessoas que iam conhecer Manoel de Barros treinavam para conversar com ele. Manoel era muito afiado quando o assunto tratava de literatura, poesia, dramaturgia. Então, o Bosco e outros amigos como Pedro Spíndola, Douglas Diegues, Luiz Taques e Ricardo Câmara eram as pessoas que tiravam meu avô daquele mundo, com conversas inteligentes e alegres sobre outros assuntos, tirando ele daquela rotina pesada, da mesmice, tornando a vida dele mais leve e meu avô se divertia muito. Eu morei na casa, me lembro mais da presença do Bosco, por suas visitas frequentes, ele ficava ali mais tempo, conversando sobre tudo, e isso divertia meu avô, eram encontros prazerosos”.

Sala da casa do poeta segue intacta
Sala da casa do poeta segue intacta

Como “guardião” do espaço, Silvestre reforça sua disposição de preservar tudo no espaço, cada objeto, móvel, utensílio, dividindo seu tempo como produtor rural e gestor da Casa-Quintal junto com a Sociedade de Artistas Amigos de Manoel de Barros. Silvestre se dedica ao agronegócio, administrando uma parte da fazenda no Pantanal que o poeta herdou e passou parte de sua vida, mas também encontra tempo para cuidar da Casa-Quintal.

Silvestre Barros diz que o lançamento do livro de Bosco Martins tem relação muito afetiva, de uma longa amizade, e quando soube da ideia de o lançamento ocorrer na Casa-Quintal, de pronto apoiou a iniciativa. “Ele foi e continua sendo até hoje uma pessoa dedicada em difundir o nome do poeta e da Casa-Quintal, ajuda tanto na contribuição cultural quanto na contribuição pessoal. Nos indicou para representar a casa com a indicação de Melhores do Ano na categoria Destaque Cultural, um mérito da própria trajetória e significado da casa, mas a indicação, o reconhecimento, partiu dele que atua na área cultural a muitos anos, e como amigo que foi do poeta e como um jornalista reconhecido por tudo que tem feito para a cultura. Assim que soube do lançamento de pronto afirmei: tem que ser aqui, o lugar é aqui, o personagem principal do livro dele, o protagonista, é Manoel de Barros, o lançamento tem que ser onde se deu a proximidade e intimidade que o Bosco tinha na casa”.

Diálogos do Ócio busca resgatar momentos criativos do poeta
Diálogos do Ócio busca resgatar momentos criativos do poeta

Um “mergulho” do jornalista Bosco Martins na casa onde viveu o poeta Manoel de Barros trouxe as lembranças de momentos marcantes do tempo em que o autor do livro “Diálogos do Ócio” frequentou a residência da família Barros. O lançamento do livro, na manhã de domingo do dia 17 de dezembro, abre a programação comemorativa aos 107 anos de nascimento do poeta. Toda a programação será realizada na Casa-Quintal Manoel de Barros, a residência onde o poeta viveu seus últimos anos e foi transformada em um patrimônio histórico-cultural do mundo literário e que o neto Silvestre, adiantou a reportagem, que pretende ampliar locar uma residência vizinha para ampliar ainda mais o espaço para receber seus visitantes, amigos e admiradores do avô.

Conversas sobre poesia e o singular universo que cercava Manoel de Barros, confidências e muitos “diálogos do ócio”, momentos marcantes da amizade com o poeta passaram como um filme na cabeça do jornalista Bosco Martins, durante imersão no ambiente que foi o lar de um dos maiores expoentes do Pós-Modernismo da Literatura Brasileira.

“Aqui era o ponto do encontro mais verdadeiro de Manoel de Barros consigo mesmo, foi o seu lar, ambiente de descontração e diálogos de ócio, momentos indispensáveis na fertilização da mente criativa”, lembra Bosco Martins.

A casa, em um dos endereços mais conhecidos de Campo Grande ficou sendo Casa-Quintal e essa denominação remete à obra Meu Quintal é Maior que o Mundo, antologia de poemas de Manoel de Barros em que demonstrava o apego por um espaço natural onde ele podia viver a essência da infância, nos momentos em família, de criação e de descontração com os amigos mais próximos. O poeta no seu lar e quintal com todos os mundos, grande e pequeno, com o outro e consigo mesmo. E foi na casa do poeta que o jornalista e escritor Bosco Martins reuniu os “diálogos” para, ortografar e reunir em seu livro a essência do poeta.

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Um presente ao legado – Para Ricardo Câmara, um dos idealizadores do “museu” junto com artistas e produtores culturais que se reuniram na Sociedade Amigos da Casa-Quintal Manoel de Barros, “a presença do Bosco Martins, lançando um livro na casa é uma questão orgânica, porque ele tinha uma amizade muito próxima com o poeta, frequentava o ambiente, convivia com toda a família, com a esposa dona Stella, filhos, netos. E, agora, retornar para lançar um livro, é um presente, tanto para a Casa como para a comunidade. Manoel de Barros esteve em vários momentos citados na obra de Bosco Martins, com entrevistas, citações, seus livros... Fecha um ciclo esse lançamento sobre uma amizade que perdurou por muitos anos. Além do lançamento do livro, Bosco Martins traz itens para o acervo da Casa-Quintal Manoel de Barros, e esta é uma das missões do espaço, reunir acervos afetivos, de amigos que conviveram com o poeta, para estar à disposição da comunidade acadêmica e de toda a sociedade”, destaca Ricardo Câmara.

Bosco Martins diz que Diálogos do Ócio busca resgatar momentos criativos do poeta. Foi em pleno cotidiano que o poeta deixava aflorar e se aprofundar no pensamento. Assim nasceram o “escritório de ser inútil”, o “idioleto manoelês archaico”, “baticum gererê” (quando já andava meio baleado), “vanguarda prymitiva” ou “Diálogos do Ócio”, entre outras expressões que compunham o glossário bem particular do poeta e que de forma inédita “Diálogos do Ócio” traz em um de seus capítulos.

Eram invenções dele que utilizava para se “divertir” e “zombar” em contraponto com as dificuldades de seus últimos anos de vida. Época em que o poeta já vivia de “amarrar o tempo no poste”. O manual próprio de sobrevivência era prolongar o tempo “praticando o ócio”. Tivemos o prazer de desfrutar bons momentos transformados em “Diálogos do Ócio”, por meio dos quais revelava seu espírito brincalhão. “Ele gostava de momentos leves”, recorda Martins.

 O espaço que preserva o lar onde viveu o poeta e irradia sua obra enquanto centro cultural
O espaço que preserva o lar onde viveu o poeta e irradia sua obra enquanto centro cultural

A Casa-Quintal 

Em sua imersão na Casa-Quintal, Bosco Martins reviveu cada ambiente daquele espaço, a vasta biblioteca e o escritório “Lugar de Ser Inútil”, a sala-de-estar onde declamava para o poeta nas descontraídas conversas. As declamações de Bosco eram tão entusiasmadas que Manoel de Barros chamava o amigo de “bardo”, termo usado na Europa antiga para designar pessoa encarregada de transmitir histórias, mitos, lendas e poemas de forma oral, cantando as histórias em poemas recitados.

Bosco Martins diz que a Casa-Quintal é um “ambiente completo que retrata com fidelidade como era o cotidiano de Manoel de Barroso, graças ao movimento que assegurou a preservação do acervo, citando a contribuição do artista visual Ivan Soares, através de imagens de Manoel de Barros dos filmes “Caramujo-Flor”, de Joel Pizzini, e “Planuras”, de Maurício Copetti bem como registros audiovisuais de Ricardo Câmara no interior da residência.

A criação do novo espaço cultural em Campo Grande voltado à memória e a invenção poética foi fruto de um movimento que aglutinou artistas e produtores do estado e de todo o país, que se reuniram enquanto Sociedade dos Amigos da Casa-Quintal Manoel de Barros em projeto realizado pela Fundação Nelito Câmara, Polo Filme e correalizado pelo Sesc Cultura.

Relíquias - O museu guarda relíquias como a máquina de escrever e uma caderneta com poema nunca publicado. O cômodo e o quarto se transformaram em sala imersiva, com reproduções de poemas. “Aqui a gente vê e percebe como as pequenas coisas se tornam grandes”, dizia Bosco Martins enquanto fazia a sua “imersão” na Casa-Quintal.

O jornalista Bosco Martins detalha em “Diálogos do Ócio” uma rotina metódica de Manoel de Barros no seu último refúgio, observada ao longo da amizade com o poeta. Manoel acordava todos os dias às cinco da manhã, tomava guaraná natural e caminhava pelas imediações. Às sete, já estava no escritório, onde ficava até as onze. Antes do almoço uma dose de uísque”. A última garrafa de uísque segue preservada, guardada em um tanger, integrada ao acervo.

O lugar mais marcante para Bosco é o escritório, onde o poeta juntava as palavras diariamente, subindo e descendo dois lances de escada. Toda criação aflorava dali, do “escritório de ser inútil”, de cuja rotina sobraram lápis apontados quase que até o fim. Os óculos, que ajudavam a conferir a grafia que perpetuava tudo que saltava de sua fértil e singular imaginação.

Por isso o escritório está preservado, do jeito que o poeta deixou. Como também estão preservados os objetos e materiais usados por ele: os lápis na gaveta da escrivaninha, miniaturas de decoração e alguns blocos de notas, fita adesiva, tubo de cola, marcadores de páginas e a velha máquina de escrever, cercada por objetos singelos e ignificados pessoais.

No mergulho pelo lar de Manoel de Barros o autor de “Diálogos do Ócio” observou a cama, o guarda-roupas, relógio, terço, pente... Ao lado do quarto, integrado ao espaço, no jardim, as cadeiras de ferro fundido, gastas pela ação do tempo. Ricardo Câmara vê o museu como um tesouro cultural, pois agora, além da memória física e doméstica, se vem a somar ao acervo o registro dos momentos emblemáticos do cotidiano do poeta, por meio da publicação de “Diálogos do Ócio”. O espaço que preserva o lar onde viveu o poeta e irradia sua obra enquanto centro cultural, segundo o cineasta Joel Pizzini, “presentifica” Manoel de Barros.

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A Semana de Diálogos

A semana dos 107 anos de nascimento do poeta Manoel de Barros começa no domingo, 17 de dezembro, a partir das 9, com lançamento e sessão de autógrafos do livro “Diálogos do Ócio”.

Na segunda-feira, 18, exibição de audiovisual; terça-feira, 19, Diálogos com Escritores; quarta-feira, 20, Diálogos com Educadores; quinta-feira, 21, Diálogos da Cultura; sexta-feira, 22 de dezembro, Uma Prática Casa-Quintal, Diálogo Capacitistas, e Brincar Heurística.

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