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Artes

Gosto pelo "modão" faz pai e filho se unirem e fabricar instrumentos raiz

Marcenaria deu lugar à produção de violões e violas caipiras, e ainda faz curso intensivão para você fazer o seu artesanalmente

Raul Delvizio | 12/09/2020 08:10


Conversa vira música ao vivo, quando Arthur resolveu dar uma palhinha pro Lado B (Foto: Silas Lima)
Conversa vira música ao vivo, quando Arthur resolveu dar uma palhinha pro Lado B (Foto: Silas Lima)

Quem não se emociona ao som de um violeiro? Se tudo é sertão e paixão, isso eu já não sei, mas verdade é que é impossível escondermos nossas raízes sertanejas. "Eu nem sei tocar viola direito! Mas o pouquinho que aprendi foi o suficiente para incentivar meu filho a gostar pra vida inteira". Arthur fez questão de dar uma palhinha durante a conversa pro Lado B, pegou a viola que ele mesmo construiu e dedilhou bonito. Herança do pai, que juntos exercem o ofício de uma vida inteira.

Seu Armando segura encomenda de viola caipira ainda a ser finalizada (Foto: Silas Lima)
Seu Armando segura encomenda de viola caipira ainda a ser finalizada (Foto: Silas Lima)

"Nunca havia sequer pensado em me tornar luthier. Mas o gosto pela música de raiz, o "modão", me trouxe pro lado contrário. Porque não fazer então uma viola caipira, esse instrumento de som tão bonito?", questionou Armando Vitorio, marceneiro com 35 anos de experiência – 12 deles só em luthieria. Na adolescência, seu primeiro trabalho foi como auxiliar de carpintaria, e nunca mais largou mão do ofício. "Eu percebi que tinha o dom, a facilidade de trabalhar com madeira. Gostei do ambiente, do cheiro que tem uma marcenaria", confessa.

Na época, quem trabalhava junto à Armando era seu irmão, o primeiro incentivador para que ele construísse o instrumento. Decidiram pegar um modelo de viola e copiar o projeto. E assim foi. "Sem ter o menor conhecimento de luthieria, fomos testando. Até acrescentamos marchetaria. O resultado final saiu bom", garante.

Conhecimento de marcenaria fez com que desenvolvesse melhor a técnica da luthieria (Foto: Silas Lima)
Conhecimento de marcenaria fez com que desenvolvesse melhor a técnica da luthieria (Foto: Silas Lima)

Venderam aquela unidade experimental. Na empolgação, fizeram outras 5-6 violas. "Acabei que fui lá no Seu Zé da Musical, na antiga rodoviária. Ele como um luthier de referência, achei interessante levar o instrumento para que ele mesmo avaliasse. Quando viu, duvidou: 'se você tá dizendo que é seu primeiro instrumento mesmo, tudo bem...', disse".

O encontro proporcionou sugestões e outras dicas, que Armando compartilhou com o Lado B. "Nada de compensado. O tampo tem que ser de abeto alemão. Laterais e frente, de madeira maciça. O resto, opção de fazer com material nacional ou importado, mas o tampo sempre deve ser europeu". Aprendizado que culminou em uma especialização em 2011. Desde então, o plano era "abandonar" a marcenaria e praticar somente o ofício de luthier.

Pai e filho, Seu Armando e Arthur Vitorio trabalham juntos com o que mais gostam (Foto: Silas Lima)
Pai e filho, Seu Armando e Arthur Vitorio trabalham juntos com o que mais gostam (Foto: Silas Lima)

O irmão já não estava mais junto à Seu Vitorio, e quem entrou na jogada foi o filho Arthur. "No começo não curtia muito não, mas bisbilhotava. Fui crescendo e mudando de olhar, curtindo o som. Meu pai até me presenteou com uma viola que ele mesmo construiu. Daí pra frente, uni o gostar de tocar com a marcenaria e a fabricação dos instrumentos junto ao meu pai", relata o rapaz. Cada vez mais, o ateliê Vitorio's é totalmente dedicado exclusivamente à arte da luthieria.

O violeiro e compositor Aurélio Miranda, Flavinho Coelho Neto (do trio Derrama), João Carreiro (da dupla com Capataz) e Walter Filho (da dupla com João Lucas), todos eles conhecem bem de perto o trabalho de Arthur e Seu Armando. "Fazemos, trabalhamos e construímos juntos, pai e filho. Toda essa habilidade que o ofício exige, só se adquire com o tempo mesmo, e estou passando aos poucos. Mas ele já tá mais que apto na profissão", afirma o pai coruja.

Detalhe da marchetaria (ao centro) na madeira, e mão na viola (Foto: Silas Lima)
Detalhe da marchetaria (ao centro) na madeira, e mão na viola (Foto: Silas Lima)

Forma de terapia – Já pensou em você mesmo criar seu próprio instrumento? Vitorio já, e pensando nisso lançou o curso intensivo em seu próprio ateliê para aquelas pessoas que desejam praticar uma forma terapia ocupacional ou queiram construir seu próprio instrumento mesmo, seja profissionalmente ou não.

Em simetria, desenho na madeira indica novo instrumento que vem por aí (Foto: Silas Lima)
Em simetria, desenho na madeira indica novo instrumento que vem por aí (Foto: Silas Lima)

"Tudo é possível se houver gosto pela coisa. Por mais que o aluno nunca tenha tido o contato com a arte, ele conseguirá trabalhar de modo prático e objetivo. É bem envolvente". Envolvimento a que Seu Armando se refere provavelmente deve ser o fato do curso ser intensivo mesmo, com duração de 1 semana, de segunda a domingo, das 8h às 18h.

Mas Arthur vê isso por um outro lado. "Hoje em dia só se vive em função das redes sociais, da internet, não vivemos o momento. Eu vivo. Precisamos de respiro, paciência. Tenho a sorte de ter descoberto com meu pai o que eu realmente gosto, e ainda trabalhar com ele, fazendo tudo com o zelo e capricho que se necessita". Conversa de luthier? Poesia de violeiro.

Encomendas de instrumento, assim como o curso de luthieria, podem ser solicitados em Vitorio's Luthier ou diretamente pelo telefone (67) 99953-1451.

Vitorio's Luthier (Foto: Silas Lima)
Vitorio's Luthier (Foto: Silas Lima)

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