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Artes

Milton Nascimento come sobá e curte a cidade ao lado do filho campo-grandense

Thailla Torres | 23/12/2016 10:18
Milton é um homem de poucas palavras, mas demonstrou simpatia durante encontro nesta quinta-feira. (Foto: Fernando Antunes)
Milton é um homem de poucas palavras, mas demonstrou simpatia durante encontro nesta quinta-feira. (Foto: Fernando Antunes)

Milton Nascimento passa pelo portão, ao lado de Danilo, o assessor de imprensa, e de amigos de Campo Grande. Na varanda espaçosa, em uma das casas da Vila Carvalho, a mesa está pronta com a cadeira mais alta à espera da visita.

Aos 74 anos, caminhando de um jeito tranquilo, de óculos escuros, Milton mostra que é sereno até no jeito de sorrir. Foi essa a primeira impressão na chegada do cantor, ontem, ao jantar organizado pelos amigos e que o Lado B teve a honra do convite.

A noite não foi de entrevistas, só de observações sobre o afeto pela cultura sul-mato-grossense. Junto dele, Augusto Kesrouani, filho adotivo do cantor, é a revelação de outro motivo sobre a proximidade com a cidade. O rapaz é campo-grandense, mas entrou na vida de Milton ainda criança, em Juiz de Fora (MG). 

Milton Nascimento, ao lado de um sobrinho (esquerda), o filho (de branco) e o cantor Paulo Simões. (Foto: Fernando Antunes)
Milton Nascimento, ao lado de um sobrinho (esquerda), o filho (de branco) e o cantor Paulo Simões. (Foto: Fernando Antunes)

Na cozinha, parte da família de Danilo Nuha ficou responsável pelo cardápio bem sul-mato-grossense: sobá, peixe assado recheado com banana da terra e sashimi de pacu.

A noite foi organizada em detalhes. Milton recebeu os músicos sul-mato-grossenses Gabriel Sater e Paulo Simões, viu cinco apresentações de dança e música da cultura Okinawa e também foi convidado a entrar na dança. O cantor não arriscou, mas fez questão de levantar para o abraço e a fotografia. Mostrando-se bem a vontade, tirou por minutos o óculos escuro para manusear o yotsudake, instrumento de Okinawa feito de bambu, semelhante a uma castanhola.

O sabor não é desconhecido ao paladar do cantor. Ele conheceu o sobá em 2010, durante uma visita à casa de dona Isabel, mãe de Danilo, quando ela ainda morava perto ao Mercadão Municipal. Novamente o sorriso foi a prova de que experiência valeu a pena.

Milton Nascimento conversa com Dona Isabel (meio) e uma das tias de Danilo (na frente). Foram elas que prepararam o cardápio.
Milton Nascimento conversa com Dona Isabel (meio) e uma das tias de Danilo (na frente). Foram elas que prepararam o cardápio.
Milton assistiu apresentações e depois experimentou sobá. (Foto: Fernando Antunes)
Milton assistiu apresentações e depois experimentou sobá. (Foto: Fernando Antunes)

Danilo Nuha, de 31 anos, já acompanha Milton Nascimento há 8 anos. "Apesar dele já ter vindo, esse momento aqui está sendo muito importante. Muita gente entrou em contato para cantar e tocar com ele, mas não é esse o objetivo. Ele tem outras ligações com a cidade", explica. 

Danilo conta que conheceu Milton em 2007, quando era correspondente em Tóquio. Lá trabalhava como jornalista do International Press e fazia a cobertura de shows do Blue Note, um espaço conceituado para shows. Foi em uma das apresentações do cantor que a oportunidade surgiu. "Ele foi fazer 10 shows e entrevistei ele ao lado de dois campo-grandenses que tiraram fotos e filmaram. Depois da entrevista, Milton gostou e manteve contato. Nos reencontramos no Brasil, me chamou para trabalhar com ele e já estou há 8 anos", descreve.

Apesar dos anos de parceria, trabalhar com o cantor ainda surpreende. "Porque Milton  é dos artistas que atinge desde a pessoa mais humilde até a de classe mais alta. Todo mundo que o conhece canta suas músicas. Ele tem um alcance impressionante. Onde você chega com ele, vem um adulto ou uma criança",revela.

Milton Nascimento com família japonesa durante encontro na noite de ontem. (Foto: Fernando Antunes)
Milton Nascimento com família japonesa durante encontro na noite de ontem. (Foto: Fernando Antunes)

Visita - Milton está em Campo Grande 6 anos depois de ser batizado por indígenas em Mato Grosso do Sul, o que também é uma das maiores ligações do cantor com o Estado. 

Ele acompanha a situação de 'guerra' em que vivem os índios sul-mato-grossenses e veio em busca de um diálogo, para oferecer ajuda.

Por enquanto, esse contato ainda não foi feito. Tudo está sendo preparado com calma, para que o objetivo seja alcançado.

"Muita gente esta se perguntando porque ele não vai logo até os índios. Mas em uma situação de guerra, o apoio e o diálogo com as lideranças podem gerar mais força. A proposta é ter um papo tranquilo, porque ele não quer e nem precisa de holofote. Ir até uma tribo, tirar foto com os índios não é o objetivo. Ele vai conversar de forma restrita", diz Danilo.

O cantor vai passar o Natal na cidade, mas não fará shows e deve permanecer por aqui até a visita com as lideranças indígenas.

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