Milton Nascimento come sobá e curte a cidade ao lado do filho campo-grandense
Milton Nascimento passa pelo portão, ao lado de Danilo, o assessor de imprensa, e de amigos de Campo Grande. Na varanda espaçosa, em uma das casas da Vila Carvalho, a mesa está pronta com a cadeira mais alta à espera da visita.
Aos 74 anos, caminhando de um jeito tranquilo, de óculos escuros, Milton mostra que é sereno até no jeito de sorrir. Foi essa a primeira impressão na chegada do cantor, ontem, ao jantar organizado pelos amigos e que o Lado B teve a honra do convite.
A noite não foi de entrevistas, só de observações sobre o afeto pela cultura sul-mato-grossense. Junto dele, Augusto Kesrouani, filho adotivo do cantor, é a revelação de outro motivo sobre a proximidade com a cidade. O rapaz é campo-grandense, mas entrou na vida de Milton ainda criança, em Juiz de Fora (MG).
Na cozinha, parte da família de Danilo Nuha ficou responsável pelo cardápio bem sul-mato-grossense: sobá, peixe assado recheado com banana da terra e sashimi de pacu.
A noite foi organizada em detalhes. Milton recebeu os músicos sul-mato-grossenses Gabriel Sater e Paulo Simões, viu cinco apresentações de dança e música da cultura Okinawa e também foi convidado a entrar na dança. O cantor não arriscou, mas fez questão de levantar para o abraço e a fotografia. Mostrando-se bem a vontade, tirou por minutos o óculos escuro para manusear o yotsudake, instrumento de Okinawa feito de bambu, semelhante a uma castanhola.
O sabor não é desconhecido ao paladar do cantor. Ele conheceu o sobá em 2010, durante uma visita à casa de dona Isabel, mãe de Danilo, quando ela ainda morava perto ao Mercadão Municipal. Novamente o sorriso foi a prova de que experiência valeu a pena.
Danilo Nuha, de 31 anos, já acompanha Milton Nascimento há 8 anos. "Apesar dele já ter vindo, esse momento aqui está sendo muito importante. Muita gente entrou em contato para cantar e tocar com ele, mas não é esse o objetivo. Ele tem outras ligações com a cidade", explica.
Danilo conta que conheceu Milton em 2007, quando era correspondente em Tóquio. Lá trabalhava como jornalista do International Press e fazia a cobertura de shows do Blue Note, um espaço conceituado para shows. Foi em uma das apresentações do cantor que a oportunidade surgiu. "Ele foi fazer 10 shows e entrevistei ele ao lado de dois campo-grandenses que tiraram fotos e filmaram. Depois da entrevista, Milton gostou e manteve contato. Nos reencontramos no Brasil, me chamou para trabalhar com ele e já estou há 8 anos", descreve.
Apesar dos anos de parceria, trabalhar com o cantor ainda surpreende. "Porque Milton é dos artistas que atinge desde a pessoa mais humilde até a de classe mais alta. Todo mundo que o conhece canta suas músicas. Ele tem um alcance impressionante. Onde você chega com ele, vem um adulto ou uma criança",revela.
Visita - Milton está em Campo Grande 6 anos depois de ser batizado por indígenas em Mato Grosso do Sul, o que também é uma das maiores ligações do cantor com o Estado.
Ele acompanha a situação de 'guerra' em que vivem os índios sul-mato-grossenses e veio em busca de um diálogo, para oferecer ajuda.
Por enquanto, esse contato ainda não foi feito. Tudo está sendo preparado com calma, para que o objetivo seja alcançado.
"Muita gente esta se perguntando porque ele não vai logo até os índios. Mas em uma situação de guerra, o apoio e o diálogo com as lideranças podem gerar mais força. A proposta é ter um papo tranquilo, porque ele não quer e nem precisa de holofote. Ir até uma tribo, tirar foto com os índios não é o objetivo. Ele vai conversar de forma restrita", diz Danilo.
O cantor vai passar o Natal na cidade, mas não fará shows e deve permanecer por aqui até a visita com as lideranças indígenas.