Para morte não ser tão ruim, arte ocupa túmulo e cemitério começa ganhar cores
Ideia foi do fotógrafo Roberto Higa, diante do abandono do Cemitério Santo Antônio
Depois de mais de 50 anos cuidando, o fotógrafo Roberto Higa convidou neste mês um artista plástico para transformar o túmulo da família em obra de arte. Poderia ser mais uma pintura de manutenção, mas o desenho feito pelo campo-grandense Apres Gomes tem um valor especial para o fotógrafo, que hoje é quem mais se preocupa em preservar o local.
Tanto cuidado encontra motivos extras na história. "Aqui tem bem mais de 10 parentes. Estão enterrados pai, mãe e os avós do meu avô. Tem gente que veio do Japão depois de muito tempo, em cinzas petrificadas, que são guardadas aqui com todo carinho", justifica.
A ideia de Higa também é valorizar o Cemitério Santo Antônio, que ao longo dos anos vem perdendo a grandeza pela falta de zelo. "Eu decidi fazer porque essa pintura representa as delicadezas da vida. E morrer não significa que a história dessas pessoas acabou. A gente deve continuar cuidando da memória deles".
E como pequenas iniciativas vão ganhando força, a ponto de mudar o comportamento de uma comunidade, depois que Higa decidiu levar a obra de arte para o próprio túmulo, outras pessoas investiram na pintura. Já tem tumulo cor de rosa e outro também amarelo. "Andando pelo cemitério neste mês eu já vi que algumas pessoas pintaram de tons bem vibrantes. Quem sabe aos poucos ele não vai ganhando vida novamente".
O amarelo vibrante agora deixa em destaque a estrutura de alvenaria. O mármore que cobre o túmulo recebeu o desenho de um ipê amarelo. "São traços bem suaves de algo que faz parte da minha vida aqui em Campo Grande", diz.
Ao lado do túmulo dos pais, avós e bisavós de Higa, está outro jazigo, que pertence a um primo. Por ali a pintura também chegou, para fortalecer os mais de dois séculos de história.
Os dois pontos destoam da maioria, onde o cuidado não é o mesmo. Parte da arquitetura já está morta pelo tempo, porque não recebeu a devida manutenção ou tem sofrido com o vandalismo. Túmulos abertos, objetos furtados e depredação é visto por quem passa. Um situação que entristece o fotógrafo, que decidiu reagir.
"As pessoas estão roubando e sujando sem dar conta que toda história de Campo Grande começa por esse cemitério. Nele está enterrado José Antônio Pereira, o fundador da cidade. A gente precisa dar um pouco mais de respeito".
Comparando a cemitérios ao redor do mundo, que pela arquitetura tornaram-se pontos turísticos, Higa sugere que o lugar seja mais respeitado pela população. "Cemitério não pode ser visto como algo ruim. Tem lugares pelo mundo que ele é uma atração. Alguns até tombado como patrimônio histórico. Então, todo mundo tem que zelar por esses túmulos", acredita.