Um dos maiores nomes da arte de MS, Izulina Xavier morre aos 97 anos
Ela é criadora de obras como o Cristo Rei do Pantanal e morreu em Corumbá, vítima da pneumonia
No alto do Morro do Cruzeiro, em Corumbá, o Cristo Rei do Pantanal a partir de hoje imortaliza uma das maiores artistas plásticas de Mato Grosso do Sul. Não só ele, mas o Cristo que recebe quem passa por Três Lagoas e todas as obras assinadas por Izulina Xavier, que morreu nesta quarta-feira (16), após internação por pneumonia, aos 97 anos completados em abril.
O velório será no lugar preferido da artista, a casa da Rua Cuiabá, a partir das 16 horas, no recanto de criatividade e sensibilidade aos poucos moldado pela mulher religiosa.
O corpo frágil já não refletia o dom de esculpir há 2 anos. Piauíense autodidata se mudou para Corumbá quando o marido veio trabalhar na fábrica de armamento, em época de guerra. Mãe de três filhos homens e uma mulher, a função de dona de casa durou pouco. A partir do final da década de 70, foi moldar cerâmica, tralhar madeira até começar a esculpir no concreto.
Para o neto, a avó deixa um legado de esperança. "É um orgulho imenso pra família, ela nos ensinou que nunca é tarde para construir um sonho", diz o médico Cristiano Xavier.
A primeira obra nasceu em madeira. "Aquela ali era uma índia, a Anita, mulher de um índio que ajudava a gente na fazenda. Quando ficou grávida, ela não usava roupas porque apertavam e doíam a barriga e todo serviço que ela ia fazer, não de casa, mas lá fora, era nua. Eu ficava tão incomodada, nunca tinha visto ninguém andar assim", contou em entrevista ao Lado B em 2015.
Algumas vezes, a produção era por promessa, como depois que quebrou o braço em dois locais. Então surgiu a estátua de São Francisco, de 3,5 metros que ocupa jardim da casa da família.
Ela sempre repetia que o talento começou com a menina a qual o pai nunca proibiu de fazer arte em barro. "Aconteceu que ninguém nunca me proibiu. Eu queria e estava feito, ia mexer com barro e dali nasceu, eu desenvolvi esse lado. Meu pai só elogiava".
A residência vai ficar intacta, garante o neto Cristiano; e ali ela será velada por tudo que o espaço representa para a cultura da cidade.
O lugar, conhecido com Art Izu, é um retrato do coração de Izulina, com reproduções de escrituras sagradas, a Via Sacra, a homenagem à Corumbá no muro, além da história da Cidade Branca desde o antigo Mato Grosso, espalhada pelas paredes.
Os pilares da antiga oficina são sustentados por quatro homens em concreto, que representam as pessoas mais importantes da sua vida: o marido e os três filhos.
Mas também tem Preto Velho e a mãe de leite, figuras do velho caseiro que ela teve na infância, mestre-sala e porta-bandeira, o desbravador da região de Corumbá, Marechal Cândido Mariano Rondon, e ainda, por duas vezes, a reprodução fiel à toda sua família.
Dona Izulina também compôs músicas e escreveu vários livros de romance, poesia e história infantil. E descrevia a si nos versos.
"Já fui muito feliz. E nada me impede, com tudo o que eu passei, de eu ainda ter a minha felicidade. De vez em quando eu me descubro voando, feliz da vida. Uma sensação tão boa, tão gostosa... Quando eu consigo terminar uma escultura que eu gosto, eu fico numa felicidade que você não queira nem saber”
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