Com o verde na bandeira e Murtinho no enredo, Bandido busca o tetra
Touro Bandido disputa com o Touro Encantado durante o Festival de Porto Murtinho
Campeão nos últimos três anos, o Touro Bandido finaliza os últimos detalhes para enfrentar a Disputa dos Touros, tradicional do Festival Internacional de Porto Murtinho. No “curral”, onde é a oficina do grupo, todas as fantasias já estão prontas, precisando apenas de retoques.
O sábado foi de muito ensaio para as 80 crianças e adolescentes que representam o Bandido. “Agora é uma correria pra ficar tudo pronto para amanhã. Os últimos ensaios são já com as fantasias para não ter erro na apresentação”, diz a coordenadora Carmem Gomes.
O grande momento esperado acontece neste domingo (13), quando os touros Bandido e Encantado entram na arena para a Disputa de Touros. O vencedor ganha o título de paternidade legítima do Touro Candil, do folclore paraguaio.
O enredo deste ano é "Guardiões do Pantanal", fazendo homenagem aos 100 anos de Porto Murtinho, que serão completados em 2012. Todas as músicas da apresentação são de composição dos próprios adolescentes.
Fantasias - Cada figurino da apresentação traz um pouco da cultura da fronteira, que mistura elementos de Mato Grosso do Sul e Paraguai. Carmem explica que o objetivo é mostrar as cores regionais, junto com o colorido do Pantanal, nas fantasias.
Por isso, a maioria dos materiais utilizados é colhido nas redondezas de Porto Murtinho, No grupo dos indígenas, a madeira Carandá, comum na região, é a principal matéria-prima.
“Iria ficar mais glamoroso se enchêssemos de paetês e lantejoulas, mas o importante aqui é o folclore e por isso procuramos utilizar o máximo dos nossos materiais da região”, diz.
O figurinista Francis Fabian esclarece que, principalmente neste ano, o cuidado maior foi em separar o que é carnaval do que é folclore. Ele é carnavalesco em Campo Grande e há 7 anos, desde a primeira edição, cuida das fantasias do Festival, sendo que desde o ano passado passou a se dedicar exclusivamente ao Bandido e o Encantado ganhou outro figurinista.
“É claro que uma coisa ou outra de fora é usada, mas focamos em mostrar o que é folclore nas fantasias. Muita palha de Carandá, penas e sementes daqui”, diz.
A confecção das 80 fantasias e toda a preparação para a apresentação tem gastos de cerca de R$ 35 mil, segundo a coordenadoria do grupo. O dinheiro é arrecado por meio de eventos, patrocínios e o recurso da Prefeitura Municipal.
Todas as fantasias são confeccionadas pela própria comunidade, que participa de oficinas de artesanato durante o ano. O trabalho do grupo começou em julho deste ano.
Tradição - O respeito a tradição e ao folclore da região também é visto nos adolescentes, que fazem questão de preservar a identidade da festa e do Bandido.
“É muito legal vestir as fantasias, fazer as danças. A gente mostra a nossa cultura”, conta Giovana Arguelho, de 13 anos.
O carinho ao Touro de coração permanece até entre os adolescentes que já não moram em Murtinho. O estudante José Eduardo Ruiz, de 18 anos, mora em Campo Grande há 1 ano, mas fez questão de continuar participando da festa.
“Desde 2007 participo e gosto muito. Avisei que mesmo longe viria para os ensaios e a apresentação”, frisa.
Ele afirma que tem orgulho da cultura e já levou a festa para os colegas de escola da Capital. “Levei fotos, vídeos e todo que viu gostou, queria vir. Zuaram um pouco minha fantasia de zebra, porque era dos africanos, mas é algo cultural e eu tenho orgulho”, diz.
O jovem ainda completa dizendo que a festa é uma tradição na região, mas ainda falta que seja conhecida por muitos que moram no Estado. “Já viajamos para fora do Estado e a festa está crescendo a cada ano. O que falta é as pessoas conhecerem, porque quem vem gosta”, garante.
Comunidade - Para participar do projeto é preciso ter entre 12 e 17 anos, estar estudando e fazer a inscrição. O Bandido é de responsabilidade da Secretaria de Assistência Social (SAS), enquanto o Encantado da Secretaria de Educação.
A secretaria da SAS e primeira-dama, Maria Lucia Ribeiro, explica que o projeto além de preservar o folclore da região também proporciona futuro de qualidade para os adolescentes.
“É um incentivo para eles, porque só pode permanecer no grupo se estiver indo bem na escola. O projeto envolve eles durante todo o ano”, diz.
Os estudantes recebem acompanhamento psicológico e de assistentes sociais também. Carmem diz que cada um recebe um atendimento especifico, de acordo com sua realidade.
“A gente conhece cada um deles, sabe quando é preciso ser mais rígido ou não, e quando precisam de um acompanhamento psicológico. No período antes das apresentações eles passam mais tempo com a gente do que com os pais”, frisa.
Com o projeto, muitos adolescentes melhoraram na escola e estão longe do crime. “Temos adolescentes que já foram presos aqui e hoje são super empenhados no grupo. Isso é muito importante, mostrar para eles que é possível ser melhor”, diz.
Tradição - A Disputa dos Touros surgiu há 7 anos, inspirada no folclore paraguaio do Touro Candil.
“Era muito comum a dança e as brincadeira do Candil aqui, mas entre os adultos. Resolvemos aperfeiçoar para a nossa cultura e criamos os filhos do Candil, que são brasileiros”, diz.
Nas primeiras edições do Festival Internacional os touros mudaram de nome até chegar ao Encantado e Bandido. Nesta 7ª edição, a disputa entre os dois promete ser mais acirrada porque cada um agora conta seu próprio figurinista e coreógrafo.
Os dois grupos concorrem ao título de vencedor com pontuação em vários quesitos. Sexta foi a vez do Bandido apresentar uma prévia e hoje o Encantado se apresenta. Os dois também desfilaram em carreata pela cidade, colocando as bandeiras com as cores de cada um nas casas. Bandido é de cor verde e Encantado de cor amarela.
A festa continua até segunda-feira (14), com apresentações culturais, feira de artesanato e o anúncio do Touro vencedor. A cantora Gil e Tony Massa também se apresentam na segunda.
A programação completa no site: www.portomurtinho.ms.gov.br.