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Comportamento

"Carimbado" por escola como "aluno laudado", jovem tem matrícula negada

Mãe ficou revoltada depois de Colégio Adventista dizer que não tem vaga para alunos como o filho com síndrome de DiGeorge

Paula Maciulevicius Brasil | 10/01/2020 10:44
Desabafo da mãe foi feito no Facebook.
Desabafo da mãe foi feito no Facebook.

A escola não sabe o aluno que perdeu, diz a mãe. "Um menino super inteligente. Se você conversar, ele vai falar de futebol como ninguém. Sabe sobre qualquer campeonato europeu, nome de time, de jogador". Essa é a descrição de Keyla da Costa Meneses, de 39 anos, faz sobre o filho depois de ter a matrícula negada por parte da coordenação do Colégio Adventista Jardim dos Estados.

O jovem tem a chamada síndrome de DiGeorge, que acarretou atraso no desenvolvimento, inclusive o escolar, e por isso aos 19 anos ele está à procura de uma escola para fazer o 1º ano do Ensino Médio. "Se você pesquisar na internet, vai encontrar que existem graus dela, meu filho tem o menor deles, o que acarretou foi ele ter um pequeno atraso de desenvolvimento em relação à escola. Ele também demorou para engatinhar, precisou de auxílio de fono, mas dentro do restante, é tudo dentro da normalidade", conta a mãe.

Auxiliar administrativo, Keyla desabafou nas redes sociais nessa quinta-feira (9), após sair do colégio onde foi, a pedido do filho, fazer a matrícula. "Ele sempre foi muito bem recebido na escola onde estava, a coordenação, os professores, todos sempre o acolheram de uma forma muito bacana. Ele não quer continuar por questões de amizades, como o amigo dele foi para lá [Colégio Adventista], ele pediu para ir também", relata a mãe. "E eu falei que tudo bem, conversaria, faria a matrícula e fui. Nunca passei por isso, sabe?", completa.

Na recepção, Keyla relata ter sido muito bem atendida, e inclusive foi informada de que havia vagas para o ano que ela buscava, qual apostila era utilizada e valores. Em seguida, a recepcionista ofereceu para a mãe de conhecer as dependências da escola e falar com o coordenador. "Ele me levou, mostrou todo o espaço físico, e tinham me dado uma ficha para preencher com o nome do aluno, algumas perguntas básicas e se ele tinha algum atraso de desenvolvimento. Entre as várias questões, respondi que sim, ele tinha um atraso no estudo", descreve. 

A mãe conta que estava sendo muito bem tratada até a hora em que a observação foi vista. "Ele então virou para mim, muito grosso, e disse: 'aqui na escola não temos vaga para o seu filho, seu filho é um laudado e, para laudados não temos vagas disponíveis", repete Keyla. Sem entender, ela pediu explicações acerca do "laudado". "Ninguém nunca se referiu ao meu filho dessa forma e ele me disse que eram duas vagas para laudados e que nunca estavam disponíveis. Eu repeti, meu senhor, me perdoe, ninguém nunca se referiu ao meu filho dessa forma, nunca passei por isso".

Ao recolher os papeis com as informações de matrícula, a auxiliar relata ainda que foi interpelada com a seguinte proposta. "Se você quiser, pode pagar R$ 350,00 de taxa e no dia 20 você traz seu filho passar para uma psicóloga. Se ela achar que ele pode estudar aqui..." Keyla conta que nem deixou o coordenador terminar e disse "essa escola não merece o meu filho". 

A postagem feita no Facebook teve compartilhamentos e muitos comentários. "Outras mães contaram de experiência que tiveram lá. Olha, eu vou te falar, desde que ele nasceu eu fiz de tudo pelo meu filho. A única expressão que eu ouvi, das escolas por onde ele passou, era a referência de "Gui", "nosso menino", "ele é muito especial para nós". Ele só foi chamado dessa forma, como "laudado" eu jamais ouvi. Fiquei super chateada no momento".

A mãe ainda não sabe que medidas tomará e diz que o interesse vai além de processos. "O que eu quero mostrar é que eles estão tendo atitudes erradas. Fico imaginando que ele tem algo simples, tão pequeno, pensa aquelas mães que realmente precisam de ajuda? De um carinho maior? De uma atenção maior dentro de uma escola? O que elas devem passar, então?", questiona Keyla. 

A auxiliar administrativo inclusive foi aluna de uma escola adventista na adolescência. Para o filho, Keyla contou sobre o episódio, mas ocultando detalhes. "Eu tive que contar, mas não com todas as palavras. Só disse que fui fazer a matrícula e que fui destratada".

Em nota, o Colégio Adventista unidade Jardim dos Estados garantiu que pratica a inclusão e, em momento algum, agiu de forma discriminatória ou negou a vaga em razão da condição do aluno. Ainda conforme o colégio, a turma pretendida pelo aluno na unidade escolar já havia preenchido as vagas destinadas aos alunos de inclusão, conforme Edital de Matrículas.

O documento pontua que a Rede Adventista de Educação tem compromisso com o valor constitucional da igualdade, presente nos mais de 120 anos de Educação no Brasil e 80 em solo sul- mato-grossense e que todos os todos os alunos e pais são tratados de forma igualitária e sem discriminação.

A unidade garante que os alunos são atendidos em suas necessidades especiais e incluídos nos limites daquilo que cabe ao ensino regular, a fim de assegurar o direito fundamental da criança à educação, bem como a qualidade do serviço prestado.

Pela legislação, não existe a imposição de "cotas máximas" para estudantes com deficiência em sala de aula. E, se houver (seja distrital, estadual ou municipal), a mesma deve ser declarada como inconstitucional, por ferir dispositivos constitutivos como, por exemplo, os artigos 205 e 208 da Constituição Federal e os artigos 2 e 24 do Decreto n. 6.949/09.

Veja abaixo a publicação de Keyla no Facebook: 

(Matéria editada às 12h, de 10 de janeiro de 2020, para inclusão do posicionamento da Rede Adventista de Educação)

"Carimbado" por escola como "aluno laudado", jovem tem matrícula negada
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