A sociedade patriarcal e o mito da mulher guerreira
Sabe aquele papinho furado de que mulher tem a habilidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, enquanto o homem só é capaz de desempenhar uma função por vez? Então, ele foi feito para romantizar a sobrecarga feminina.
Veja bem, te vendem o rótulo de guerreira para te convencer de que é normal você dar conta de tudo enquanto seu companheiro, seu pai, seu irmão, seu tio, seu amigo ou seja lá quem for do sexo oposto, permanecem na linda e bela zona de conforto sem dividir tarefas básicas do dia a dia.
'Ah, vocês mulheres são tão fortes que nem doentes se rendem!'. Meu amigo, deixa eu te contar uma coisa, a gente não se dá o direito de parar quando estamos mal - seja física ou psicologicamente - porque tem o mundo nas nossas costas. Se ficarmos na cama quem é que vai cuidar das crianças, quem é que vai dar conta da casa, quem é que vai repor o trabalho atrasado?
Quem vai saber se tem fralda ou não, se tem comida ou não, se as contas estão pagas ou a água está prestes a ser cortada? E ainda ouvir piadinha de colega de trabalho falando que não passa de TPM. Portanto é bem mais fácil nos convencer de que somos 'mulher-maravilha' para seguir com essa cultura de deixar acumular tarefas nas costas da mulher.
'Olha que lindo ela tem jornada tripla e ainda arruma tempo para cuidar de si, isso sim é um mulherão da porr@, sem mimimi', baita discurso lindo, né não? Não, não é. É conversinha pra gente acreditar que só não se cuida a mulher que não quer e de quebra tentar enfiar goela abaixo a historinha de que é possível ser mãe, esposa, trabalhadora, dona de casa e ainda estar sempre linda, bela, bem humorada e disponível.
Passou da hora de rejeitarmos elogios que na verdade não passam de uma forma de manter tudo como está. Que reforçam a ideia do 'mulher nasceu pra isso'.
Que raios de ser humano não sabe executar tarefas triviais? Coisas básicas para sobrevivência de qualquer adulto? Essa desculpa do 'é que vocês, mulheres, fazem melhor' já tá batida! Me poupe, se poupe, nos poupe. Guerreira é o caramba, eu quero é descansar!
*Jéssica Benitez, jornalista e mãe do Caetano e da Maria Cecília, além de criadora do perfil Eu nem queria ser mãe
