Alegria de ex-mecânico da Aeronáutica é criar réplicas de aviões
Miniaturas feitas de madeira são frutos de 32 anos de trabalho com aviação e encantam pela riqueza de detalhes
Idaicy Solano | 08/07/2023 07:30
Mêcanico aposentado da Aeronáutica ao lado de réplicas em miniatura de aviões feitas por ele. (Foto: Alex Machado)
Após 32 anos servindo ao país, a nova oficina do ex-mecânico da Aeronáutica Eduardo Coutinho, 59 anos, fica no quintal de casa, onde produz réplicas em miniatura de aviões feitos com madeira, pintados com tinta de PVA e finalizados com verniz. A coleção é fruto de anos trabalhando na manutenção das aviações e caiu no gosto dos amigos e da família.
Havia apenas dez modelos expostos na mesa, mas a coleção já chegou a 25 miniaturas. Eduardo não tinha mais onde guardar, então doou boa parte no último Natal. Ele relembra que pegou os aviões, colocou no carro e foi procurar para quem doar, achou um grupo de voluntários angariando brinquedos para crianças de comunidades carentes e entregou para eles.
Entre os modelos expostos, um avião azul se destacava pelas asas. Empolgado, Eduardo explicou que se tratava de um modelo utilizado pela Marinha Americana durante a Segunda Guerra Mundial. A peça chamava atenção, pois as asas se recolhiam, igual ao modelo real. “Esse aqui eu inventei uma vez e deu certo. Ele fechava [as asas] para poder entrar no porta avião, eles não tinham muito espaço”.
Modelo era utilizado na Segunda Guerra Mundial, e as asas sobem, igual modelo original (Foto: Alex Machado)
As réplicas se tornaram uma forma de presentear pessoas queridas com um produto pessoal e único, feito pelas mãos do ex-mecânico. Não demorou muito para que as miniaturas cheias de detalhes, cores e com acabamento impecável encantassem os olhos dos familiares e amigos de Eduardo.
Atualmente, Eduardo mora no Bairro Jardim Itatiaia e "trabalha" em uma oficina no quintal de casa, onde se dedica a esculpir aviões em miniatura, feitos com retalhos de madeira, na companhia de Buddy, o cachorrinho da família, e dos passarinhos que aparecem para visitar as várias unidades de plantas do jardim. A área é ampla e bem arejada, exatamente como o ex-mecânico gosta.
Para Eduardo, o artesanato é terapêutico e uma forma de ocupar o tempo livre, então nunca passou pela cabeça dele tornar isso uma fonte de renda. Ele faz questão de que suas criações sejam um trabalho 100% manual e orgânico. Eduardo reproduz as réplicas em miniatura apenas olhando a imagem e memorizando a silhueta das aviações, não precisa de molde nem nada do tipo.
Trabalhei muitos anos com o Xavante, foram 23 anos só nesse modelo de avião, então você cria aquela imagem, então não precisava nem de uma foto. Não ficava muito igual porque é artesanal. Depois fui trabalhar com o Super Tucano. Cheguei a fazer dois Super Tucano, que eu tinha mais ou menos o desenho dele na mente. Aí foi ficando bacaninha, o pessoal foi gostando. Mandei para o meu irmão, ele adorou. A família falou 'rapaz, de onde você tirou essas ideias?', e eu 'não sei cara, vou fazendo e vai saindo'.
Eduardo passou dois anos se especializando em mecânica de aviação na escola de formação da Força Aérea Brasileira, em Guaratinguetá, no estado de São Paulo, aos 16 anos de idade, em 1981. Iniciou a carreira na aeronáutica aos 18, em Natal, no Rio Grande do Norte, onde trabalhou com o modelo Xavante, até ser transferido para a Capital sul-mato-grossense, em 2004, onde se aposentou nove anos depois, após servir por 32 anos.
Quando questionado pela reportagem se ele conhecia os aviões de cima abaixo e de trás para frente, por conta dos anos de experiência, Eduardo respondeu com humildade e em tom simpático que "não, sempre tenho o que aprender”.
Eduardo cria as peças com madeira, sem necessidade de moldes. (Foto: Alex Machado)
O fruto dos 32 anos dedicados aos aviões, é a paixão que desenvolveu pela aviação e pelo artesanato e o orgulho de ter servido ao Estado e ao País. Para Eduardo, o sentimento é de dever cumprido. Agora, o ex-mecânico se dedica a curtir a aposentadoria e a criar belas peças em miniatura.
Graças a Deus eu fiz o que quis na minha vida. Profissionalmente, eu me realizei. Com 16 anos você não sabe [o que quer], mas eu acertei. Sempre gostei muito do que eu fazia. Sempre procurei fazer bem feito, era meu compromisso. Foi uma escolha muito nova, mas graças a Deus foi gratificante”, finaliza Eduardo Coutinho.
