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Comportamento

Alice se orgulha em poder dizer que é uma mulher transexual na Marinha

Thailla Torres | 30/03/2021 07:26
Alice está no processo de hormonização e tem orgulho de ser quem é. (Foto: Arquivo Pessoal)
Alice está no processo de hormonização e tem orgulho de ser quem é. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por muito tempo Alice Costa, hoje com 31 anos, se olhou no espelho sem o reconhecimento que merecia. Viveu momentos difíceis para conseguir dizer ao mundo quem ela realmente é, principalmente por ter uma escolhido uma profissão onde o preconceito tem espaço por todos os lados.

Hoje ela tem o maior orgulho e enche o peito para dizer: “sou uma mulher transexual, sargento da Marinha”. Morando em Ladário, a conversa por telefone divide espaço com a risada e a simpatia da mulher que se sente feliz em contar sua história.

Natural de Mesquita, uma cidade da baixada fluminense, no Rio de Janeiro, Alice decidiu encarar a vida militar há mais de 10 anos. Não era um sonho, diz. “Tive uma vida familiar bem complicada. Eu cheguei a ouvir de pessoas próximas que seria mendiga e que não teria nada. Uns amigos precisavam de ajuda para passar na prova e também me inscreveram, por acreditarem na minha capacidade. Até que, só eu passei e eles não”, lembra.

Alice entrou em 2011 no concurso de aprendiz de Marinheiro. Em dezembro de 2011 foi nomeada marinheira. Em dezembro de 2014 tornou-se cabo e em junho do ano passado foi nomeada sargento.

Com o novo cargo e a estabilidade no trabalho, Alice hoje se sente segura para revelar não só aos amigos e familiares como aos colegas de trabalho a transexualidade. Há seis meses ela iniciou o processo de hormonização e se sente feliz com cada conquista.

Ela ingressou na Marinha em 2011. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela ingressou na Marinha em 2011. (Foto: Arquivo Pessoal)

A transexualidade ficou mais clara para Alice em 2014, quando se viu como mulher pela primeira vez. “E voltei a me olhar no espelho, depois de 12 anos ou mais”, conta.

A decisão pelo processo de transição ocorreu quando ela tudo fez sentido e ela se sentiu bem resolvida com as próprias decisões. “Então só esperei a parte administrativa do trabalho”.

Mas esse processo não foi nada fácil, Alice diz que no caminho já enfrentou muito preconceito. “Já sofri calúnia, difamação, agressão verbal. Também já cheguei a ser agredida fisicamente. No começo era pior, hoje em dia são mais leves até na forma de falar e agir. Sinto que que estão evoluindo na forma de lidar conosco”, diz.

Hoje, no setor em que trabalha, todos sabem da transexualidade de Alice e isso a conforta. Agora, seu maior sonho, é inspirar outras mulheres transexuais. “Sei que existem outras antes de mim que lutam pelos seus direitos de retornarem à ativa. Ao mesmo tempo quero ser um exemplo para as próximas.

Para a família, o assunto ainda é difícil, mas ela não desiste. “Eu não abro mão de falar da minha transexualidade e dos meus processos porque acredito que o preconceito se vence com o diálogo. Quero poder ajudar outras mulheres”.

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