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Comportamento

Ambulante que viveu fugindo de fiscais, Tio do Quebra Queixo comemora 62 na rua

Durante as tardes, é na calçada de um supermercado que Antônio vende o doce feito apenas de coco, açúcar e limão.

Willian Leite | 17/06/2018 07:20
Em um carrinho feito em serralheria, ambulante que perdeu vaga no Terminal General Osório, hoje ganha vida aproveitando as pessoas que saem do Supermercado (Foto: Silas Souza)
Em um carrinho feito em serralheria, ambulante que perdeu vaga no Terminal General Osório, hoje ganha vida aproveitando as pessoas que saem do Supermercado (Foto: Silas Souza)

Conhecido como Tio do Quebra Queixo, José Antônio da Silva, 79 anos, vende o doce simples e servido em folha de papel há 62 anos. A história do vendedor ambulante começou em Dourados, segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, onde conheceu um homem chamado pelo apelido de “Baiano”, com quem começou trabalhar de sócio na venda. Em 1956, José Antônio tinha apenas 17 anos e já trabalhava com o que o ajuda no sustento da família ainda hoje.

Foi contando de real em real que Antônio sustentou a mulher e sete filhas. “Rapaz, sabe que baiano e eu gastávamos o que seria 20 reais hoje para comprar os ingredientes e depois de pronto tínhamos R$ 10,00 de lucro e repartíamos ao meio, cinco pra cada”, explica.

Ainda em Dourados, não quis mais trabalhar em sociedade, pois estava ganhando muito pouco. “Pedi a receita e ele (Baiano) me ensinou errado, e eu vendia rapadura achando que era quebra queixo”, declara.

Em Campo Grande, o vendedor ambulante chegou em 1963 e iniciou suas vendas na antiga rua 14 de Julho, próximo a Maracaju, em tempos dos velhos paralelepípedos. Por lá ficou por pouco tempo e logo fugiu por conta da fiscalização. Naquela época, segundo ele, o doce era vendido em uma bandeja pequena e dava para correr.

Seu Antônio que fugiu de fiscais da prefeitura por 20 anos, hoje vende quebra queixo em frente ao Supermercado Gaúcho no Coronel Antonino(Foto: Silas Souza)
Seu Antônio que fugiu de fiscais da prefeitura por 20 anos, hoje vende quebra queixo em frente ao Supermercado Gaúcho no Coronel Antonino(Foto: Silas Souza)

O homem que morava da região do Bairro Coronel Antonino afirma ter visto o desenvolvimento dos bairros no entorno. “Naquela época, a única rua que tinha asfalto era a Avenida Coronel Antonino. Assim que o Terminal General Osório foi construído, se tornou meu ponto de venda”, conta.

Ele mandou fazer um carinho para que tivesse mais espaço e com isso conseguisse aumentar as vendas, hoje ainda usa o carrinho que ganhou uma boa reforma e pintura nova.  “No antigo terminal, só tinha uma plataforma e era lá que ficávamos eu e mais um outro senhor que vendia maça do amor”, lembra.

Ao Lado B, seu Antônio confidência que, apesar de ser filiado e possuir identificação do Sindicato dos Vendedores Ambulantes de Campo Grande, sempre foi perseguidos por fiscais da prefeitura “Meu lema sempre foi trabalhar de forma honesta e mesmo assim sempre tive que trabalhar fugindo, se não acabava não ganhando meu dinheiro e ainda tinha prejuízo”.

Hoje, Antônio é aposentado e foi obrigado a mudar de ponto, o local é em frente ao Supermercado Gaúcho na Rua Santo Ângelo, no bairro Coronel Antonino. Por ali, diz que não é incomodado pelos donos e é de onde tira renda para concluir o orçamento da casa. “Depois de muitos anos correndo encontrei aqui paz pra trabalhar”.

Por mês, fatura em torno de R$ 1.200,00 vendendo a porção de quebra queixo a R$ 3,00. Desse montante tira R$ 600,00 e compra os ingredientes para produzir de novo. O doce que até cinco anos atrás era feito no fogão a lenha, hoje ainda é feito no taxo, mas no fogão a gás.

Com todos esses percalços, Antônio ainda ajuda dois netos.“ Minha renda é pouca, mas graças a Deus que minha casa é própria e o que me sobra tenta ajudar meus netos que moram comigo”, acrescenta.

O nordestino que saiu do Pernambuco aos 15 anos passou pelo estado de São Paulo e Paraná antes de desembarcar em Mato Grosso do Sul. A vida de luta não deixa que o mau humor chegue nem perto do “Tio do Quebra Queixo”. “Nunca em minha vida precisei me envolver com coisas erradas, me considero uma estrela que nasceu para brilhar e fazer o bem as pessoas” finaliza.

 

Em cada cliente que sai uma oportunidade de conversa e ganho (Foto: Willian Leite)
Em cada cliente que sai uma oportunidade de conversa e ganho (Foto: Willian Leite)
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