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Comportamento

Amigo mais divertido morreu, mas mural trouxe a alegria dele de volta

Amigos criaram arte que representa a essência do cara mais divertido da turma.

Jéssica Fernandes | 01/07/2022 06:49
Amigos durante a homenagem realizada no dia 26. (Foto: Arquivo pessoal)
Amigos durante a homenagem realizada no dia 26. (Foto: Arquivo pessoal)

Junior Fernandes morreu aos 31 anos em junho de 2021. O auxiliar de carga e descarga, conhecido como Ginga, foi mais uma das vítimas da covid-19 em Campo Grande. Após um ano, amigos próximos se reuniram para prestar uma homenagem que rendeu um mural colorido na parede.

O professor Douglas Deusdete de Souza, de 35 anos, integra o grupo que tinha Ginga como o eixo principal que unia a todos. Douglas conta sobre o início da amizade, o luto e a falta que Junior faz em cada reunião da turma.

Amigos desde os 11 anos de idade, os dois moravam no mesmo bairro, sendo que Douglas estudou com o irmão de Junior. A relação baseada em soltar pipa, jogar bola no campo de terra da região, conforme o professor, ficou mais forte com o tempo.

Ginga (à esquerda) ao lado de Douglas Deusdete. (Foto: Arquivo pessoal).
Ginga (à esquerda) ao lado de Douglas Deusdete. (Foto: Arquivo pessoal).

Na época do quartel, Douglas conta que o grupo ganhou mais um membro. Os três sempre davam um jeito de fazerem algo juntos. “A aproximação maior veio depois dos 18 anos quando servimos o quartel. Minha tia alugava quartos e lá morava nosso amigo cujo apelido é Paulo Gazela. O Junior tinha um talento de imitar as pessoas e o Paulo Gazela também, então era diversão o tempo todo quando ele estava", recroda.

Pessoa animada, Junior também era a alma de qualquer encontro. “Todo final de semana nos reuníamos. Eu, Deniel, Aguinaldo, Karina, Danilo, Max e Reginaldo. A casa do casal Ronaldo e Danielly se tornou nosso QG e a festa só era animada se o Ginga estivesse. Ele tinha um brilho para nos fazer rir, adorava uma boa mentira que ninguém acreditava e ainda ficava bravo se discordasse”, lembra.

Durante a pandemia, o pessoal esteve junto em algumas ocasiões, sendo uma delas o aniversário de Ginga. “Apesar da pandemia, sempre que possível íamos a casa dele dar um oi, tomar uma cerveja e bater um papo. Em agosto de 2020, reuni cinco amigos e fomos dar um abraço nele em seu aniversário. Tudo na surpresa, ele ficou feliz, renderam boas histórias”, relata. A celebração foi a última antes dele falecer no ano seguinte.

Nas reuniões, Ginga é quem garantia a diversão do grupo. (Foto: Arquivo pessoal)
Nas reuniões, Ginga é quem garantia a diversão do grupo. (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo Douglas, a mãe e o irmão de Ginga morreram pelo mesmo motivo. “Eram dias difíceis que teríamos que enfrentar sem nosso querido Ginga. A covid o levou junto com seu irmão e sua mãe. Uma família cuja casa também era nosso lar”, lamenta.

Homenagem - No dia 26 deste mês completou um ano que Junior se foi. Na data, o grupo fez uma reunião na casa de Ronaldo. Além do almoço especial, eles inauguraram o mural colorido que está estampado num dos ambientes externos da residência. “A homenagem surgiu a partir de uma necessidade de traduzir toda a importância que o Ginga tinha. Seu carisma, sua alegria, sua forma de ver e viver o mundo fazia bem pra gente. Busquei usar a arte, a criatividade que tanto curtíamos para fazer algo que fosse alegre e que lembrasse ele na sua melhor característica”, frisa.

Para Douglas, é difícil dimensionar a importância que Junior ocupava na vida de todos. Hoje, a turma mantém a relação de amizade, porém a saudade e a ausência de Ginga são constantes. O professor resume quem era o amigo. “Sabe aquela figura no meio de qualquer grupo de amigo que é  especial, porque simplesmente ela é assim? Esse era o ginga”, pontua.

Na parede da casa de um amigo, o rapaz virou arte colorida. (Foto: Arquivo pessoal)
Na parede da casa de um amigo, o rapaz virou arte colorida. (Foto: Arquivo pessoal)

Amigos que compartilhavam gostos em comum, Douglas comenta que só o Ginga entendia certas coisas. “Por mais que havíamos saído dos 30 nós adorávamos viver um mundo paralelo. Falávamos de coisas que só nós gostávamos. Eram assuntos que só tinha sentido se fosse com ele, pois ao trocar ideias nós nos desconectávamos do mundo", diz.

Agora, a arte será eterna, assim como as lembranças do amigo. "Eternamente lembrarei dele. Quando a memória falhar, a arte eternizada no nosso espaço de confraternização se encarregará de me lembrar de uma das pessoas mais incríveis que conheci", conclui.

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