Amor platônico em tempos de redes sociais é "crush", mas tem de durar pouco
A pessoa perfeita nas redes sociais hoje tem um nome que o povo com mais de 40 anos de idade nunca ouviu falar. O “crush” é aquela quedinha por uma pessoa que não imagina seu interesse.
O termo surgiu entre os adolescentes e na tradução literal até tem alguma relação com paixão. Em inglês significa “esmagamento” ou “colisão”. A gíria se tornou a maior referência para falar sobre aquela paixonite aguda por alguém, aquele sentimento de dar.
A diferença é que nas gerações anteriores o amor platônico era sonhar com uma única pessoa, de longe e sem que ela soubesse ou pensasse na possibilidade de retribuir. Hoje, você pode ter um, dois , três crushs e em qualquer luga. Seja na escola, no ônibus, na igreja e até no supermercado. Idealizar a paixão é rápido e, se o crush decepcionar mesmo sem saber, é trocado facilmente por outra pessoa.
O sorriso de Camila Agnes, de 20 anos, não nega o conhecimento a fundo da palavra crush. “É a paquera que ele não sabe que é paquera”. Para ela, o relacionamento imaginário de hoje é um pouco diferente da época dos pais. “O amor platônico de antigamente era mais sério, você conhecia e tudo mais. O crush de hoje é só olhar, ficar afim e a paixão dura só enquanto você vê a pessoa”, diz.
E se tiver a sorte de você ser o crush da mesma pessoa, pode até rolar uma "ficada". “Eu não sou dessas que tomo atitude, então só rola se eu for o crush dele também”, comenta Camila.
Já para Kerollayn Cortiana, de 19 anos, a sorte de ter um crush rendeu até relacionamento sério, daquele de mudar status no Facebook. “Tive um crush em que no fim acabei virando amiga e ajudando ele a conquistar outra garota. Mas também tive outro crush que acabou virando um namoro que durou meses”, conta.
Mas a regra de ter um crush em qualquer canto não vale para todo mundo. A estudante Luizalice Mendes, de 18 anos, acredita que é perda de tempo manter a paixonite na imaginação, apesar de já ter entrado nessa onda. “Eu tive, é aquela paixonite que você fica pensando na pessoa, acha bonito, mas passa. Hoje eu não perco tempo, porque tenho que estudar e nem sobra tempo para manter um crush”, esclare.
Ao lado dela, a mãe Alessandra de Moraes, de 36 anos, desconhece o termo e compara à paixão platônica da geração anterior. “Antes a gente tinha a arte da conquista, do olhar, de sonhar com aquela pessoa e as vezes lutar para aquele amor dar certo. Hoje é tão diferente, tudo acontece muito rápido”, avalia.
Mas nem tudo são flores. Ter um crush não significa só ficar imaginando o quando é lindo, tem gente que acaba vivendo na sofrência. É o caso da estagiária Júlia Kaifanny, de 24 anos. Depois de todo expediente de trabalho, ela sofre porque vai encontrar ele por aí e nem ser notada.
"Ele é bonito, loiro, do olho claro e alto. É o meu tipo e a gente se conheceu no bar, quando eu vi ele, logo pensei: eu quero". Mesmo assim lamenta porque até agora nada rolou e o cara continua na imaginação.
Onde quer que esteja, se surgir alguém bonito, acaba virando crush. A psicológa e terapeuta familiar Rosilene Gisoato esclarece que a nova moda aconteceu naturalmente e acompanhando as mudanças culturais, mas é preciso cuidado para que não vire um ciclo vicioso e ninguém saia de coração partido.
"Ter o crush é algo bastante instável, porque não tem o vínculo com o real. Mas eu explico aos jovens sobre risco do imaginário se tornar um sofrimento. Existem casos em que a pessoa fica tão obcecada, que isso passa a controlar a vida", diz.
Ela explica que idealizar a pessoa encantada faz parte, desde que seja uma maneira descontraída de admirar outras pessoas. "Se for uma alegria para o coração, pelo simples fato de estar apaixonado, não há nenhum problema. O único cuidado é para que isso não seja a forma exclusiva de se manter emocionalmente", orienta.