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Comportamento

Ana quer fortalecer associação para falar com outros filhos adotados

Ana Carolina Medeiros faz parte do grupo e defende que história de adotivos não precisa ser assunto sensível

Bárbara Cavalcanti | 30/11/2021 08:50
Ana Carolina, à direita, com a mãe, Léa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana Carolina, à direita, com a mãe, Léa. (Foto: Arquivo Pessoal)

A professora e intérprete de Libras Ana Carolina Medeiros Murilo, de 35 anos, foi adotada quando ainda era bebê. Ela só descobriu na adolescência e, desde então, sente a necessidade de poder conversar mais sobre o assunto da sua história anterior a da sua família.

Hoje, ela faz parte de um grupo de WhatsApp só para pessoas adotadas de todo o Brasil, que tem o objetivo de debater a adoção com foco na experiência dos filhos. Ela ainda faz parte da Associação Brasileira de Pessoas Adotadas, que quer disseminar e ampliar o debate de maneira mais formal.

Ana Carolina defende que a história dos filhos adotivos antes de chegarem na família, não precisa ser tratada como tabu. “No assunto adoção, se fala muito na experiência dos pais. Eles têm todo um preparo, precisam fazer cursos. Mas o filho, ele tem toda uma história antes daquela família, que não precisa ser tratada como tabu. Além disso, parece que se cobra muito mais gratidão dos filhos adotivos do que dos filhos biológicos. É sobre esses assuntos que conversamos no grupo e queremos também disseminar por meio da associação”, comenta.

Ana Carolina foi adotada ainda bebê, da forma conhecida como "adoção à brasileira", onde os pais adotivos apenas registram a criança no nome dela. Durante  muito tempo, inclusive, o assunto era sensível na família, conforme relata.

A mãe dela, Léa Medeiros Leite, comenta que sempre quis ter uma filha, mas que não esperava ter encontrado Ana Carolina da maneira que encontrou. "Eu trabalhava em um hospital em Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso. Na época, chegou uma mulher lá querendo fazer um aborto, porque não queria a criança. Então, eu ofereci de ficar com ela, porque não queria que ela fosse abandonada", explica.

Ainda de acordo com Léa, ela entende o anseio da filha em querer saber mais sobre os laços biológicos. "Eu sinto uma frustração muito grande em não poder ajudá-la melhor nesse sentido. Tudo o que eu tenho é um primeiro nome de uma mulher que nem quis saber dela depois. E pra mim, não tem distinção, ela é minha filha, a filha que eu sempre quis ter", comenta.

Ana Carolina, à esquerda, com todo o restante da família. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana Carolina, à esquerda, com todo o restante da família. (Foto: Arquivo Pessoal)

Histórias como a de Ana Carolina são realidade comum. Se hoje os trâmites, às vezes, são complicados, décadas atrás, havia ainda menos informação. "Além disso, a situação era bem precária na época, o hospital mesmo era em chão batido, era algo muito precário", acrescenta Léa.

Para Ana Carolina, sua própria experiência é mais um motivo do debate ser ampliado e mais discutido. “Eu descobri que fui adotada aos 13 anos, por meio de uma pessoa que não se importava tanto assim com meus sentimentos. No ano passado, encontrei esse grupo nas redes sociais. Foi muito importante para mim poder trocar as experiências que só quem foi adotado sabe como é”, ressalta.

Ana Carolina comenta sobre alguns tratamentos diferenciados que filhos adotivos recebem, até mesmo da própria família. “Ninguém duvida do amor dos pais aos filhos. Eu mesma tenho certeza que meus pais me amam e eu os amo de volta. Ouço muito sobre a obrigação de ser grata, mas sinto que essa cobrança não é feita nessa proporção de filhos biológicos, por exemplo”, detalha.

A Associação tem o objetivo de ampliar a troca de experiências que acontece no grupo. O objetivo é promover encontros que vão tratar de vários assuntos, como adoção tardia, ou adoção inter-raciais. “No final, o que a gente quer é promover esse debate, focando mais no lado da pessoa adotada. O objetivo é reconhecer que ninguém duvida do amor daquela família pelo filho, mas que ali existe uma história anterior que deve ser reconhecida”, reforça.

A fundação oficial da Associação ainda acontece em dezembro, mas algumas informações sobre a dinâmica já estão disponíveis no perfil do Instagram do grupo.

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