Antes de trabalhar com o que sonhava, Mirella cuidou até de furão
Campo-grandense foi da limpeza até entrega de pizza e conseguiu espaço como tatuadora
Apaixonada por desenhos e tatuagens desde criança, Mirella Sanches Rodrigues, de 26 anos, precisou cuidar até de furão antes de finalmente conseguir espaço na área em que sempre sonhou. Imigrante nos Estados Unidos, a campo-grandense conta que a trajetória teve momentos de tristeza e riso até deslanchar como tatuadora.
Morando em Hartford, no estado de Connecticut, Mirella detalha que antes de tomar coragem e tentar a vida trabalhando com arte, muitos medos precisaram ser vencidos. Ela conta que os desenhos surgiram em sua vida quando ainda era criança, mas com medo não conseguir emprego ou ter mais dificuldades, tentou mudar de aŕea.
“Desde que tenho memória, já rabiscava as paredes de casa, gastava meus cadernos desenhando e rabiscando, enfim, era a forma mais fácil de se comunicar comigo. No Ensino Médio comecei a me riscar de canetinha, alguns colegas achavam legal e eu desenhava neles também”, conta MIrella.
Sabendo que gostava do espaço artístico, a tatuadora explica que no momento de escolher a graduação até pensou em fazer faculdade de Artes, mas foi mesmo para o Direito. “A área de tatuagens e desenhos sempre foi algo que admirei, mas mesmo assim tentei me moldar em algo como o Direito para fugir de enfrentar e correr atrás dos meus objetivos”, diz.
Depois de se formar, MIrella começou a estudar para concursos e, um pouco antes da pandemia, decidiu tentar a vida nos Estados Unidos. Ela detalha que uma irmã já morava no país e, por isso, resolveu ir atrás de uma nova etapa.
Por precisar se encontrar em algum emprego, ela explica que tentou uma renda extra com caricaturas, retratos e desenhos de pets, mas sempre como segunda opção porque os valores não pagavam as contas. Neste período, MIrella chegou a comprar uma máquina para tatuar, mas em pouco tempo desistiu.
“Era péssima, um kit todo péssimo. Parecia aquelas de cadeia e não desenvolvi muito. Na verdade, acreditei que não era para mim, que era muito difícil e que eu preferia lápis de cor”, explica.
Enquanto a carreira de tatuadora não vinha, os serviços aleatórios começaram a ficar mais fortes. “Eu entregava pizza, lavava louça e no fim da noite ainda limpava todo restaurante. Da pizzaria resolvi virar cuidadora de pets, cachorro, gato, hamster, furão e até mini pig”, diz.
Por não se identificar com nenhum dos serviços, Mirella conta que a tristeza em ter que trabalhar com essas áreas também foi o que a motivou para tentar novamente a vida como tatuadora.
Todo dia que eu acordava e tinha que limpar um banheiro, eu chegava em casa, chorava e estudava mais sobre tattoo. Fiz o curso e fui perdendo medo. Até que conseguir largar a limpeza e hoje vivo apenas disso, conta Mirella.
Com apoio dos familiares, ela conta que além da tristeza, o suporte foi também importante. De acordo com Mirella, seu namorado é quem deu uma nova máquina de tatuagem e sua mãe, irmã e amigos continuaram com o apoio.
Garantindo que a vida não é um sonho o tempo todo, a tatuadora completa os pensamentos dizendo que mesmo assim tudo tem valido a pena. “Tenho dias ruins como qualquer pessoa. O atendimento de pessoas é sempre a parte mais difícil, ainda mais com tattoo que é algo visto como “eterno”. Meu punho e dedos doem no fim de alguns dias, mas eu amo o que faço de verdade”.
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