Ao volante de carretas desde os 14, Janaína largou mão do Direito pela estrada
Casada e mãe de duas filhas, caminhoneira divide rotina familiar com a profissional transportando alimentos MS afora
Foi em meio a produção do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Direito, que Janaína Paim da Silva, de 35 anos, resolveu retomar de vez à paixão descoberta aos 14 anos. Diferente da maioria das pessoas, a campo-grandense aprendeu a dirigir em uma carreta e, desde então, teve a certeza do que queria para o resto da vida.
Janaína recebeu o Lado B durante os preparativos para voltar à estrada. A bordo de um LS Baú puxado por um cavalinho Iveco cursor, 330 cavalos, a caminhoneira corta estados do país em um caminhão no toco, que transporta até 28 toneladas. Há sete meses, a caminhoneira leva o que se chama de carga seca pela empresa Brasil Central.
Casada e mãe de duas filhas, de 4 e 9 anos, há dez anos Janaína divide a rotina familiar com a profissional, transportando alimentos Mato Grosso do Sul afora.
A motorista sempre é a primeira mulher nas empresas por onde passa e por amor ao que faz não abre mão de rodar quilômetros com toneladas sob sua responsabilidade.
O primeiro casamento de Janaína durou 15 anos e foi o ex-marido quem a ensinou dirigir, quando tinha apenas 14 anos. Depois disso, Janaína passou a conciliar a boleia do caminhão com a faculdade de Direito, mas a paixão pela estrada foi maior que o sonho do diploma e a motorista trancou o curso no oitavo semestre.
“Desde que aprendi a dirigir vivia na boleia do caminhão. Nesse meio tempo fiz Direito e já estava fazendo o TCC, quando decidi trancar e voltar a dirigir”, conta.
Assim que separou, Janaína voltou a morar com a mãe e começou a transportar cimento. Entre os transportes do material a um canteiro de obras da MS-040, em Santa Rita do Pardo, conheceu o atual marido com quem teve a segunda filha.
“Ele era laboratorista de solo de outra empresa e eu dei uma carona até o alojamento da cidade. Trocamos telefone e uma semana depois já estávamos namorando. Quando eu o vi foi amor à primeira vista. Depois de cimenteira, fui motorista de ônibus da Cruzeiro do Sul, motorista no Canavieiro em Nova Alvorada do Sul, onde também passei a ser instrutora e agora estou no baú”, explica.
Para quem encontra com a pequena grande mulher em postos de rodovias do país, mal imagina o veículo que ela está conduzindo. Além disso, a motorista põe a mão na massa quando precisa.
“Às vezes eu paro em posto e motorista de um caminhãozinho truck fica me esperado passar para ver onde eu vou. Quando eu passo a pessoa se surpreende: é você que está com essa carreta? E eu respondo que sim. Às vezes também estraga alguma coisa e se eu souber consertar eu conserto. As vezes uma lâmpada, completar óleo, desengatar, tudo isso eu faço sozinha. O bom de ser mulher é que sempre te oferecem ajuda”, frisa.
Em toda a carreira, a rota mais longe feita por Janaína foi Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Mas na atual empresa a entrega mais distante foi em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
Nos últimos dez anos, Janaína tentou parar de dirigir para ficar mais tempo com a família, mas segundo ela, “quando o diesel entra nas veias” não tem jeito. O atual marido é quem ajuda com as filhas.
“Eu tinha saído das estradas, mas a paixão pelas estradas falou mais alto. Meu marido ajuda muito. As vezes viajamos juntos e voltamos até redes dentro da cabine”, frisa.
Em época de férias, a família encara viagens de carreta e arma até redes na cabine do caminhão. Na cozinha de Janaína tem de tudo e o cardápio é variado. Entre as mercadorias da mini-despensa, a erva de tereré que não pode faltar.
Para quem pensa em começar a dirigir, Janaína incentiva. “Aproveita enquanto há tempo. A vida passa depressa então, corre atrás. Tem as dificuldades, tem. Como qualquer outra profissão. Mas é muito gratificante. Não adianta insistir no que não gosta porque você não vai ser feliz”, finaliza.