Aos 71 anos, Sebastião é segurança respeitado como pai em boates gays
Na função há 18 anos, pernambucano já viu de tudo, inclusive, a evolução das baladas
É na função que normalmente exige “cara fechada”, que o segurança Sebastião Bernadinho Gomes, de 71 anos, ficou conhecido pelos bons conselhos. Na noite LGBT+ há 18 anos, o pernambucano conquistou respeito e diz garantir uma festa sem brigas desde o primeiro show recebido pelo extinto Bistrot Dance.
Fã do estilo sertanejo, Sebastião recebeu o Lado B em casa, longe das batidas envolventes da música eletrônica. Antes de chegar à Capital, em 1973, passou por Jateí, a 265 km de Campo Grande, onde moram familiares. “Vim para visitar parentes e fiquei até hoje”, conta.
Com disposição invejável, o segurança cumpre todo o expediente exigido pela profissão: chega antes de todos e só vai embora quando a casa se esvazia por completo. O que poucos sabem é que a história de Sebastião na noite campo-grandense começa lá em 2001.
“Eu trabalhei no Bistrot do primeiro show que teve, quando ainda nem tinha cobertura, até a data que ele fechou. Quando o Bistrot terminou, a Non Stop começou e os proprietários me convidaram para trabalhar com eles, onde fiquei até uns 90 dias atrás. Agora voltei a trabalhar com o Christian, mas na nova boate que se chama Wave”, conta.
Sem preguiça para enfrentar as noites, Sebastião lembra que começou a trabalhar cedo, aos 10 anos, quando já encarava lavouras de café debaixo do sol e com a enxada na mão. O trabalho pesado seguiu até os 49 anos. “Sempre trabalhei em propriedade da família. Em certa altura também fui pecuarista mexi com gado. Hoje gosto do meu ambiente de trabalho”, lembra.
Sebastião garante que não chama ninguém por gírias impostas pela sociedade. “99% das pessoas me conhecem pelo tempo de trabalho e eu chamo todos pelo nome. As travestis que conheci sempre tratei pelo nome. Desde o início, todos sempre foram meus amigos”, frisa.
Conhecido, o segurança também pontua que raramente presenciou confusões e em poucas vezes que precisou intervir chegou a receber pedido de desculpas. Pai, avô e bisavô, Sebastião também criou laços no trabalho e é visto como um “paizão” por todos que o conhecem.
“Sempre onde existem muitas pessoas pode acontecer um desentendimento. Às vezes já precisei tirar alguém, mas quando a pessoa voltava em outras vezes até me pediam desculpas. Me dou bem com todos, do público aos funcionários. Todos que frequentavam e trabalhavam no Bistrot e seguiram para outras boates têm muito respeito por mim e eu tenho por eles”, ressalta.
Evolução e modernidade – O segurança pegou toda a era de revolução da diversidade trazida pelo Bistrot. Foi na Rua Pimenta Bueno, no Bairro Amambaí, que a boate ganhou fama como “balada gay” e deu espaço as, então desconhecidas, performances de drags queens. A casa resistiu por mais de uma década e é lembrada até hoje pelo movimento desenvolvido.
As mudanças foram surgindo e a modernidade tomando conta das baladas. Atualmente, Sebastião trabalha na Wave e se arrisca em dizer que trabalha na boate gay mais bonita que Campo Grande já teve. “O Christian é um empresário da noite muito bem organizado. O público gosta dele e essa boate que ele abriu é a mais bonita de Campo Grande”, elogia.
Mas os elogios não partem somente de um lado. O empresário Christian Queiff sócio proprietário da casa, não economiza nos adjetivos. “Sebastião trabalhou comigo há uns 15 anos, quando eu ainda era funcionário no Bistrot. Hoje ele é um dos meus melhores parceiros, muito mais que um colaborador, eu o considero meu segundo pai. Só abre a boca pra me dar bons conselhos”, garante Christian.
Firme e forte, Sebastião planeja continuar na função enquanto Deus permitir.