Apesar de obra, cruz resiste para lembrar assassinato de universitária
Na Avenida Cafezais monumento faz parte do cenário que causa tristeza em quem conheceu a jovem assassinada
“Até hoje quando eu passo lá me bate uma tristeza”, declara Antônio Carlos Rodrigues de Oliveira, de 58 anos. O desabafo do radialista está relacionado a Elizete Lourdes Boldori. Em 1994, ela tinha 19 anos quando desceu do ônibus e no caminho para casa foi abordada por jovens que a estupraram e a mataram.
Vinte e oito anos após o crime, o radialista mantém viva na memória quem considerava como ‘amiga irmã’. Por isso, para ele, é inevitável não ficar triste ao se deparar com a cruz erguida em homenagem a ela num trecho da Avenida Cafezais.
A cruz é ornamentada por uma coroa de rosas metálicas, que traz uma placa com a foto de Elizete e versículos da bíblia. Em breve, a estrutura sairá dali para ocupar outro ponto da avenida que no momento passa por obras de revitalização.
Um dos responsáveis pela obra, o engenheiro civil Tony Wilson explica que a estrutura continuará na avenida em respeito à família. “O que a gente pretende fazer é tirar da pista, trocar de lugar. A ideia em respeito à família é colocar no mesmo sentido, mas na borda”, explica.
A mesma lógica será seguida com outra cruz que também faz parte da paisagem de quem transita na região. Na cruz está gravado o nome de Vilson Pinheiro de Castro, que faleceu na avenida após sofrer um acidente de moto em 2010.
“Alegrava o ambiente” - O caso de Elizete causou repercussão em Campo Grande e na época chegou a sair em jornais de outros estados, como a Folha de São Paulo. Carlos acompanhou tudo de perto, desde o desaparecimento até ao momento em que o corpo dela foi encontrado num terreno baldio próximo à Avenida Gury Marques. “Teve uma comoção muito grande”, afirma.
Carlos relata que conheceu Elizete na Paróquia Nossa Senhora Aparecida das Moreninhas. “Ela deveria ter 15, 16 anos. Era uma jovem ativa que nos auxiliava na catequese, uma pessoa que além de trabalhar, estudava e tirava os finais de semana para servir”, fala. A jovem, conforme ele, tinha um ‘brilho’ que alegrava o ambiente.
No ano em que foi assassinada, Elizete estudava na Universidade Católica Dom Bosco. Através dos estudos, conforme o radialista, ela pretendia melhorar a condição da família. “O desejo dela era se formar para ajudar a família, porque a família era muito humilde. Ela queria melhorar a qualidade da família”, afirma.
Esses planos foram interrompidos no dia 23 de março de 1994, quando a estudante retornava da faculdade para o Bairro Marajoara de transporte público. Colega de faculdade na época, Inez Rozana Lima estava na mesma linha do ônibus.
“Na noite que ela desapareceu, voltou no mesmo ônibus. Eu e uma colega estávamos sentadas e pegamos os livros dela para segurar, o que era praxe entre os estudantes. Não me lembro bem, mas acho que tivemos um fim de semana ou feriado e só fiquei sabendo do desaparecimento dela na volta às aulas”, recorda.
A morte de Elizete é descrita como uma ‘tragédia’ por Carlinhos e como ‘crime muito cruel’ por Inez. Para encontrar a estudante diversas buscas foram realizadas pela família e amigos da igreja. “Tinham mais de 200 pessoas, sem falar na polícia”, explica Carlos.
A procura chegou ao fim no dia 29 de março e, posteriormente, os envolvidos no crime foram presos.
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