Após 15 dias de buscas em MG, Cindy volta para casa com missão cumprida
Ela é uma labradora, tem sete anos e foi convocada em setembro para auxiliar os bombeiros nas buscas por corpos
Após 15 dias de trabalho duro, a labradora Cindy, de 7 anos, voltou para Mato Grosso do Sul na tarde desta quinta-feira, com a missão cumprida. Ela foi um dos cachorros convocados para auxiliar nas buscas por corpos em Brumadinho (MG), região de rompimento de barragem da mineradora Vale, em janeiro deste ano, que deixou destruição e muitas vítimas desaparecidas.
Apesar do trabalho intenso, Cindy e Duke, o pastor Belga que também saiu daqui para auxiliar nas buscas, conseguiram localizar um corpo e indicou outras possíveis áreas. “Ela fez a localização de um corpo, que estava cerca de dois metros de profundidade. Agora voltamos para ficar 15 dias em casa e depois retornaremos para Brumadinho (MG)”, conta o tutor Luciclei da Silva Lima. Ele é sargento do Corpo de Bombeiros em Coxim.
O intervalo é o tempo para Cindy recuperar as energias e depois voltar ao local onde ocorreu o rompimento da barragem da mineradora Vale, em janeiro deste ano. “Ficará de férias e eu vou me adequando as demandas. Porém, no dia 25 deste mês, retornaremos a Minas Gerais, onde ficaremos por mais 15 dias pra ajudar. Depois voltamos pra ficar em casa, pois lá, os cães têm que ficar em quarentena por conta do contato com os metais”, explica.
Na tragédia em Brumadinho, várias pessoas foram soterrados e mortas pela lama. Até setembro, 21 vítimas ainda estavam desaparecidas. No entanto, para facilitar os serviços de buscas, cães estão sendo convocados. “Após o rompimento, notou-se que a melhor ferramenta para localização é o cachorro. Eles são responsáveis por mais de 80% dos corpos achados. Cada estado cedeu seus cães para os trabalhos e chegou à vez de Mato Grosso do Sul”, diz Luciclei.
De pelos claros, Cindy foi adotada por Luciclei que a treinou para missões de resgate desde filhotinha. “O treinamento começou nos primeiros passos até chegar à fase adulta, e ela ganhou certificações. Antes, fazia busca por pessoas com vida, principalmente na região pantaneira, mas há sete meses mudou de área”, conta.
Foram dias de trabalho em equipe e debaixo do sol quente. De segunda a segunda, Luciclei e Cindy vasculharam o local em busca das vítimas. Faziam um intervalo para se alimentarem, descansavam por algumas horas e retornavam ao batente. “É uma área gigantesca, maior que a gente pode imaginar, com raio de pelo menos 10 quilômetros. É uma experiência pra gente, principalmente por conta do contato com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Contudo, foi um trabalho desgastante, pois tem parte que ainda está úmida e é difícil para os cães se deslocarem”, relata.
A lama ainda dificulta o rastreamento do cheiro, mas uma máquina fez perfurações de seis metros de profundidade em alguns pontos, para o odor exalar e facilitar o serviço canino. Foi à primeira missão de Cindy fora do Estado.
A cachorra vive com o tutor em Coxim e por conta da capacidade foi convocada para ir a Brumadinho. Foi tudo novo e desafiador para a bombeira de quatro patas, ela embarcou pela primeira vez em um avião no final de setembro. “A vejo como uma militar e minha filha. Na viagem ficou com um pouco de medo, mas passei confiança, dei carinho e aconchego e ela ficou tranquila. Deitou no assoalho e até dormiu”.
Retorno - Cindy chegou ontem de viagem e o Lado B foi encontrá-la no aeroporto de Campo Grande. Com aparência de cansada após horas de voo, ela se aproximou de todos e lambeu alguns que sentiu mais afinidade. Ao lado do sargento, a cachorra estava tranquila parecia saber que seu dever foi cumprido com sucesso.
Apesar do trabalho puxado, ela é muito dócil e até fez pose para tirar foto. Agora, a amiguinha poderá descansar e se preparar para a próxima missão.
Em Brumadinho, Cindy contou com a ajuda do parceiro de quatro patas, também sul-mato-grossense, Duke. Ele é um pastor alemão e encontrou um corpo que estava desaparecido nos escombros. O cachorro retorna amanhã para o Estado e terá seus 15 dias de férias até retornar ao local da tragédia e contribuir na busca dos últimos 19 corpos.