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Comportamento

Após 26 anos, PM reencontra menino que foi levado por enchente em 1994

Ezídio tinha 11 anos quando foi levado por enchente na Avenida Ernesto Geisel, em tempestade que deixou famílias desabrigadas

Thailla Torres | 12/08/2020 07:35
Policial auxiliou colegas da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros naquele dia e nunca esqueceu do menino que foi salvo pelas equipes. (Foto: Marcos Maluf)
Policial auxiliou colegas da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros naquele dia e nunca esqueceu do menino que foi salvo pelas equipes. (Foto: Marcos Maluf)

Ezídio Rafael de Lima Nascimento tinha 11 anos quando na noite chuvosa do dia 20 de fevereiro de 1994 abriu a porta de casa às margens do rio Anhanduí, na Avenida Ernesto Geisel, e viu a água se aproximando da residência. Foram poucos minutos até a mãe sair de casa com os irmãos e o pai quebrar o telhado para escapar da enchente. Ele, no entanto, foi levado pela correnteza.

Hoje, aos 37 anos, ele diz que essa é a última lembrança daquele dia triste. “Depois disso só me lembro de quase me afogar, descer o rio naquela água rápida e depois de ver uma luz forte. Era a luz da equipe que me achou”, conta.

O menino foi encontrado horas depois, na madrugada, por uma equipe da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e voluntários. Entre as pessoas que auxiliavam nas buscas estava o então soldado da PM Joanézio da Guia de Jesus, que na época se voluntariou para ajudar os colegas de trabalho.

Joanézio guarda uma das matérias do jornal Correio do Estado sobre  a inundação. (Foto: Arquivo Pessoal)
Joanézio guarda uma das matérias do jornal Correio do Estado sobre  a inundação. (Foto: Arquivo Pessoal)

Naquele dia, o temporal causou destruição em Campo Grande. Barracos foram arrastados pelas águas do córrego. Mais de 70 famílias perderam tudo o que tinham e ficaram desabrigadas. No cenário de destruição, além do prejuízo incalculável, o que nunca saiu da cabeça do policial foi o menino resgatado do córrego pelos colegas.

Vinte e seis anos depois ele pediu ajuda para outro amigo policial para encontrar o tal menino. Foram dias de buscas até conseguir telefone e endereço de Ezídio, que hoje é casado, tem duas filhas e se tornou eletricista.

“Essa data me marcou porque a enchente foi um dia depois do meu aniversário. E outro fato que marcou muito foi por se tratar de uma criança que no meio daquela tempestade estava desprotegida e em perigo real de morte”, conta Joanézio, que hoje é subtenente na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul.

Ele narra que no dia da tempestade ele estava de folga, mas ao saber da destruição e buscas por desaparecidos no córrego se voluntariou para ajudar os colegas de trabalho, mesmo sem saber nadar. “Então sempre fiquei com essa ocorrência na cabeça. Eu já não tinha mais o rosto do menino na minha mente, mas tinha toda a situação, e nunca fui capaz de esquecer”.

Depois do nascimento do primeiro filho, foi o privilégio de acompanhar o desenvolvimento da criança que despertou no policial a vontade de rever o menino que um dia foi levado naquela enchente. “Eu olhava para o meu filho e ficava pensando o que aconteceu na vida daquela criança, o que virou dele”.

Emoção fez policial e eletricista quebrarem o protocolo por alguns segundos. (Foto: Marcos Maluf)
Emoção fez policial e eletricista quebrarem o protocolo por alguns segundos. (Foto: Marcos Maluf)

Reencontro – Na manhã de ontem (11), o policial finalmente pode rever o menino que um dia ajudou a salvar. O Lado B acompanhou o reencontro no local de trabalho de Ezídio. Emocionados e com olhos cheios d’água, os dois acabaram quebrando o protocolo de distanciamento social e se abraçaram fortemente por alguns segundos.

“Eu peço desculpas, mas vou quebrar o protocolo. Me emociona ver esse menino, que hoje é um homem, vivo e bem”, disse o policial, que no abraço ouviu do eletricista que ele também sonhava em ser militar, mas o caminho que levaria ao mesmo destino do seu "herói" mudou de rota pelas adversidades da vida, como o falecimento do pai.

"Nos mudamos para uma casa no Aero Rancho após a inundação e meu pai morreu assassinado por assaltantes. Foi um momento muito difícil para minha mãe, acabamos nos mudando para outra casa e eu comecei a trabalhar mais cedo, o estudo foi pouco para seguir carreira”, explica.

No entanto, se diz um homem realizado com a família e as novas oportunidades de tabalho. “Conheci a elétrica quando morei em Santa Catarina e acabei me apaixonando. Hoje trabalho, sustento a minha família e sou muito feliz”.

Agora, com o reencontro, tudo o que ele quer é fazer um novo amigo. “Eu espero que a gente continue se falando, sinto que somo amigos de anos, só faltava esse reencontro”. O policial garantiu que sim e, antes da despedida, entregou uma camiseta da PM e prometeu que, após a pandemia, o churrasco em família está garantido.

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Distantes, os dois tiraram a máscara por pouquíssimos segundos para mostrar o sorriso do reencontro. (Foto: Marcos Maluf)
Distantes, os dois tiraram a máscara por pouquíssimos segundos para mostrar o sorriso do reencontro. (Foto: Marcos Maluf)


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