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Comportamento

Até com pistola rosa, Lu se faz respeitar há duas décadas na polícia

Quando Lucilene entrou na Polícia Civil, dos 350 integrantes, apenas 50 eram mulheres na turma

Por Aletheya Alves | 10/09/2024 06:15
Lucilene vai completar duas décadas na Polícia Civil. (Foto: Campo Grande News)
Lucilene vai completar duas décadas na Polícia Civil. (Foto: Campo Grande News)

Em uma de suas primeiras missões na Polícia Civil, Lucilene Souza precisou ouvir de um colega que não daria conta nem de levar uma viatura por ser mulher e, no fim das contas, foi justamente o homem que acabou sofrendo um acidente por falta de atenção. Praticamente duas décadas se passaram com a coordenadora de segurança se fazendo respeitar na corporação e, hoje, algo que poderia ser visto como algo que a desqualifica, é sua marca: uma pistola rosa.

Antes do concurso que garantiu a trajetória de Lucilene ser lançado, a agente era bancária e nunca havia se imaginado trabalhando no ramo da segurança pública. Mas, considerando o contato de demissões e o medo de perder o emprego, ela decidiu tentar.

Hoje, pensando em tudo o que viveu e sentiu, ela garante que o caminho foi algo com influências divinas. “Na formação profissional, que é na academia de polícia, eu tive a certeza de que meu lugar era na instituição, que Deus tinha esse propósito em minha vida. Não nego que sofri muito na Acadepol, chorava, mas mesmo com a dificuldade na academia por ser puxado com exercícios intensos, simulações reais, noites acordada, treinamentos diários e provas, era o que eu queria para minha vida”.

E, lá mesmo, já nos treinamentos, decidiu que não deixaria de ser ela mesma. Na prática, isso implicava em coisas que podem parecer simples como a presença de seu batom.

“Entrei na polícia em 2005, ano que vem minha turma de 350 pessoas, sendo só 50 mulheres, completa 20 anos na instituição. Minha primeira lotação foi em Miranda, cidade que tenho um profundo carinho. Fomos entre sete policiais, duas mulheres, sendo uma escrivã e uma investigadora, o restante era de investigadores”, explica.

Ao todo, foram cerca de três anos trabalhando em Miranda e morando em Campo Grande com três filhas pequenas, sendo que a mais nova tinha apenas três anos de idade. “Pensei algumas vezes em desistir por conta das meninas, porém Deus me capacitou e eu superei os desafios que não foram poucos”.

Pistola rosa é exemplo de como ela faz questão de manter sua personalidade presente. (Foto: Campo Grande News)
Pistola rosa é exemplo de como ela faz questão de manter sua personalidade presente. (Foto: Campo Grande News)

Desde então, ela já passou pela 1ª delegacia de Campo Grande, Delegacia Geral, assessoria de comunicação e, hoje está na Assembleia Legislativa como coordenadora de segurança.

Pensando sobre a necessidade de se impor, Lu descreve que o respeito com as mulheres existia, mas dividindo espaço com preconceitos enormes. “Lembro que tive muitas vezes que provar que podia fazer o mesmo que os homens, afinal eu tinha sido treinada como eles, não houve diferença e todo treinamento era feito por homens e mulheres".

No episódio da missão com a viatura, ela narra que o delegado passou tarefas a todos e sua função era levar um dos carros. Rapidamente, um dos colegas pediu ao delegado que ele levasse a viatura, “o dr. falou que se eu quisesse poderia passar sim a função ao colega. Eu prontamente falei que não, que eu iria cumprir a missão que havia sido delegada. Ele então argumentou e por final disse que não iria comigo na direção, que ele estava mais preparado para levar a viatura, que eu poderia ficar nervosa e atrapalhar tudo”.

Esse colega resolveu ir em outra viatura e Lu seguiu o caminho sem problemas. “Porém, o colega teve um problema. No mesmo dia após a missão, todos estacionaram as viaturas e esse colega estacionou a dele, mas não puxou o freio de mão, vindo a acontecer um acidente. A viatura desceu e bateu no muro da frente, ocasionando danos graves no muro e na viatura”, relembra Lucilene.

Até hoje ela conta sobre como teve o prazer de dizer que ele não havia conseguido nem mesmo estacionar a viatura, quem dirá participar de uma missão com ela. No fim das contas, o grupo fez uma vaquinha e ajudou o policial a pagar os danos.

“Antigamente, as mulheres passavam por isso. Já há algum tempo, tudo isso melhorou muito e o preconceito diminuiu drasticamente. Vejo isso todos os dias, houve mudanças e valorização do nosso trabalho, confiança”, descreve.

Em meio ao cenário, a presença de seu batom persistiu e ainda ganhou como companhia uma pistola Taurus G2C rosa de nove milímetros. “Quando entramos na polícia, recebemos o material de trabalho, sendo colete, algema, munições e arma. Recebi, quando entrei, uma pistola Imbel e achei enorme, pesada. Sempre fui muito vaidosa desde pequena, sempre usei batom mesmo em operações ou na academia de polícia. Achava minha arma muito feia, sem graça e um dia pesquisando armas vi que existiam de outras cores”.

Segundo Lucilene, os policiais podem ter sua arma particular mesmo com a cautelada. Foi assim que há sete anos ela comprou a pistola rosa. “Quando os colegas viram foi um comentário só. ‘Lu, ninguém vai acreditar que é uma arma de verdade, como assim você policial com arma rosa?’. Porém, aos poucos se acostumaram e acabaram perguntando sobre onde comprar”.

Na prática, ela explica que unindo sua postura, a instituição que representa e como porta a arma faz com que não diminua a “eficiência” da mensagem a ser passada. “Acho que talvez as pessoas não acreditem na potência da arma, mas não vão pagar para ver”.

Sem dúvidas sobre ter tomado o caminho certo em entrar para a polícia e se esforçar para não perder sua personalidade, Lu completa dizendo que a presença de mulheres na corporação é sempre uma vitória. Exemplo disso é que uma de suas três filhas seguiu o caminho da segurança pública e se tornou delegada.

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