Casa de professora guarda coleção com mais de 100 bonecas negras
Após ganhar de presente da irmã e do marido, Eugênia iniciou coleção da bonecas que são usadas em palestras
A coleção de bonecas negras de Eugênia Portela, de 59 anos, começou através de um presente e depois de uma promessa. A professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) tem cerca de 130 bonecas de diferentes tamanhos e estilos, que não ficam somente em casa. Elas também são levadas para exposições e palestras educativas em escolas ou igrejas.
A história dela com a primeira boneca teve início no aniversário de 36 anos. O presente veio da irmã, que era ligada ao movimento negro do Estado e sabia do interesse de Eugênia de trabalhar com pautas étnico raciais.
“A minha irmã mais velha Edna Portela sempre atuou no movimento negro no Mato Grosso do Sul. Ela sempre foi militante e quando iniciou a carreira no magistério fazia ações de promoção à igualdade social e combate ao racismo. No meu aniversário, ela me deu essa boneca porque sabia do meu interesse em trabalhar na perspectiva das relações étnico-raciais”, conta.
Dez anos depois, Eugênia ganhou a segunda boneca do esposo, que fez a promessa que resultaria na rica coleção. Caso ela passasse no concurso da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), os dois iriam reunir as peças para exposição.
O processo seletivo foi bem concorrido e contava com apenas uma vaga para professora na Faculdade de Educação. A vaga em questão ficou com Eugênia. “De 2011 para cá, fomos colecionando, comprando, outras ganhava, comprava fora de Campo Grande porque não é fácil encontrar, são poucas que são fabricadas”, afirma.
Das 130 bonecas, a professora cita como favoritas as que ganhou da irmã, do marido, as trigêmeas que comprou e outras duas dadas por amigas durante seminário na Europa. Outro especial é o boneco, segundo a professora, é difícil de encontrar a versão masculina.
“Tem um boneco que ganhei da Camila Jara, nossa atual deputada federal. É um boneco preto com a característica fenotípica bem de pessoa negra, tem um cabelo afro e a cor da pele é bem escurinho. Tem um significado pra mim também, porque era dela quando era criança”, fala.
Para além da coleção, as bonecas servem como material para atividades educativas. A professora não tem ciúmes de emprestar os itens que são solicitados em datas pontuais. “Quando posso faço a exposição, faço palestras e levo as bonecas ou empresto para as pessoas levarem para escolas, igrejas, onde quiserem. Geralmente as pessoas fazem essa ação no mês da Consciência Negra em novembro, mas outras escolas pedem em outubro pelo mês da criança. Assim a gente segue”, diz.
Outro ponto importante, conforme Eugênia, é a reflexão que as bonecas causam em quem as vê. “As pessoas admiram a coleção e passam a refletir sobre essa imposição do eurocentrismo. A partir do momento que a pessoa vê a exposição, a gente consegue produzir essa reflexão do quanto que os brinquedos seguem a lógica da branquitude”, pontua.
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