Casamento acabou, mas amor de irmão ficou no 'até que a morte nos separe'
Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. Essas são promessas feitas perante Deus quando nos casamos. Elas são quebradas quando nos separamos? Não. Nem sempre. Meus pais nunca tiveram um casamento 100% feliz. Minha irmã e eu fomos criadas num ambiente bom, mas aquele amor entre os pais nunca rolou.
Aliás, meu pai sempre amou minha mãe, porém minha mãe não o amava como marido por inúmeros motivos dos quais eu não tiro razão dela. Tanto que após 24 anos juntos, depois de muitas tentativas frustradas, ela saiu de casa. Deixou tudo para trás e foi reconstruir sua vida. Não quis nada do pouco que tinham juntos.
Começou do zero. Meu pai, embora sabendo da culpa que tinha nisso tudo, nunca se recuperou por completo. Teve umas namoradas, mas estava sempre sozinho. Minha mãe se casou de novo. Só que eles nunca romperam a relação total. Meu pai nunca saiu da família da minha mãe. A gente até brincava que ela era a Dona Flor e Seus Dois Maridos. A brincadeira não agradava no começo, depois foi aceita com certo humor.
Não havia relacionamento amoroso entre meu pai e minha mãe, mas também eles não se desconectaram. E nos últimos meses da vida dele, mesmo separados há quase duas décadas, ela se debruçou nos cuidados com a saúde daquele que era seu ex. Correu atrás de morfina, alimentação, equipamentos. Ficou ao seu lado por dias e até noites no hospital. O levou para quimioterapia e radioterapia. E quando a doença o levou, chorou sua morte tanto quanto minha irmã e eu.
Das promessas feitas no altar, ela cumpriu todas até o fim, mesmo não sendo mais a esposa dele. Ela diz que fez isso por mim e pela minha irmã, só que a gente sabe que foi por muitos mais. Foi por uma relação em que ela não o queria como marido, mas o teve como irmão. O amou de forma fraternal. E nos ajudou nos dias mais difíceis de nossas vidas.
Tenho certeza que só a presença da minha mãe deixou meu pai mais feliz na reta final em que tudo foi tão rápido e doloroso. Por isso, o julgamento dos homens pode até dizer que ela quebrou promessa divina quando se separou do meu pai, entretanto ficou mais que provado que o amor não precisa cumprir protocolos para existir. Obrigada mãe por cuidar do meu pai até o fim. Te amo!
Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae
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