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Comportamento

Cenas que só o isolamento social proporciona: ver araras tão de perto

Paula Maciulevicius Brasil | 13/04/2020 09:36



"Agora,
que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?

Hoje eu recebi procuração de um pássaro
para abrir a manhã e fechar o anoitecer.
Fiquei amoroso da natureza com essa distinção.
Não sei se vou dar conta"

É da poesia de Manoel de Barros que emprestamos palavras para descrever as cenas que só o isolamento social pode proporcionar, como ver as araras tão de pertinho, a mais ou menos três capivaras de distância.

O vídeo rapidinho, gravado como stories para ser postado também no feed do perfil @med_mamae da doce Sofia Dias Figueira, mostra o que antes da quarentena passava "batido". O voo das araras atrás de frutos maduros.

Sofia e a filha Maria Flor, na praça em frente ao condomínio, de onde se vê as araras. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sofia e a filha Maria Flor, na praça em frente ao condomínio, de onde se vê as araras. (Foto: Arquivo Pessoal)

Há sete anos Sofia e a família moram no Villagio Parati, e como sempre, costumam passear em frente à pracinha de casa. Isolada há quase um mês, desde o dia 17 de março, Sofia sai com a filha Maria Flor, de 3 anos, para o passeio como forma de buscar respiro e alívio em meio à quarentena, sempre tomando todos os cuidados com a higiene.

"Eram duas araras e eu estava a uns três metros delas. Sempre amei ver as araras da cidade, para mim é um privilégio parar uns segundos para olhar, acho que dei sorte, não teria pegado elas tão se estivesse em um dia 'normal'", afirma.

Estudante do 3º ano de Medicina na UFMS, Sofia se divide entre a profissional de saúde que estuda para ser e a mãe, e neste misto, sente o desespero quando percebe a forma leviana como as pessoas estão encarando a pandemia. "Como tenho noção de microbiologia, fico louca toda vez que saio de casa. Quando tenho que ir ao mercado, por exemplo chego em casa, tiro os sapatos, corro para o fundo e tiro todas as roupas. Tomo banho lavando a cabeça, e só depois que vou brincar com a Maria", conta.

A saída da filha se resume apenas a ida na pracinha, para ela soltar as energia. "Faço isso uma vez por dia, às 5h da manhã, porque sei que não tem ninguém lá", comenta.

O vídeo foi gravado na semana passada e é revisto por Sofia e Maria Flor, que sentem através do voo das aves, um recado.

"Como se Deus tivesse me dado 'bom dia', e dizendo que vai ficar tudo bem. Percebi que os passarinhos, inclusive as araras estão mais frequentes, acredito que seja porque os carros diminuíram. A gente tem visto revoada de maritacas, a coisa mais linda..."

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