Cercada pelo amor de 64 netos e bisnetos, Maria ganhou festa e valsa
Artesã teve infância difícil, mas hoje maior alegria é estar perto dos seus e com força para trabalhar
Na companhia do companheiro de uma vida e dos 64 netos e bisnetos, Maria Dalva de Souza celebrou a passagem dos cinquenta para os sessenta rodeada de amor. A celebração rica em afeto foi realizada nesta semana em aldeia "Mãe Terra" no município de Miranda, a 182 km de Campo Grande.
De vestido azul, cabelos soltos e uma tiara de princesa, Maria, que é da etnia terena, comemorou mais um ciclo de vida. A artesã ganhou a festa de aniversário com direito a balões decorativos, bolo combinando com a cor do vestido e muito refrigerante para a família e amigos. Para completar, ela até dançou valsa com o esposo João.
A melhor parte, conforme a aniversariante, foi poder estar próximo das pessoas que ama. “Foi a maior felicidade para mim como mãe ver os filhos tudo crescidos, sendo pais. Um outro já é sogro, a filha mais velha do meu filho mais velho vai ter bebê”, conta.
Em meio aos balões, a velinha do bolo e tantos parabéns, Maria confessa que a festa trouxe as partes boas, porém não a poupou de sentir saudades da mãe que faleceu há quatro anos e também da irmã que se foi recentemente. “A gente sabe né? Quando a gente sente falta da pessoa mais querida da vida, né? Que é a mãe. Senti falta dela [...] mas me deixou alegre ver meus netos tudo com sorriso no rosto”, expõe.
O sentimento se estende quando ela compartilha que jamais esperou ganhar uma comemoração nessas proporções. Até o longo vestido e o cabelo envolveram o cuidado dos filhos, netos e bisnetos. “Eu não estava esperando que eles iam fazer aquela festa. Fiquei bem surpresa”, revela.
Por trás de tanta alegria e carinho, Maria carrega uma história de muita luta. Ela mal tinha saído da infância quando começou a trabalhar aos 13 anos para ajudar a mãe nas contas de casa. Na época, ela trabalhava no serviço e somente dois dias da semana ficava com a mãe.
Nessa parte do relato vem a emoção que escapa dos olhos e transborda uma gratidão antiga que Maria sente pela primeira patroa que teve. “Quando chegava o mês que eu vinha pra casa da minha mãe ela fazia bastante compras, pagava meu salário e entregava tudo na minha mãe. Assim ia e eu fui crescendo. Agora tô aqui com meus sessenta anos”, afirma.
Maria tem mãos habilidosas para a cestaria que garante uma renda a mais no fim do mês. O talento para o trabalho manual ela aprendeu observando a mãe, pois há décadas atrás elas faziam para vender em Miranda e outros municípios. Naquele tempo, a mãe virou chefe de família após ser abandonada pelo companheiro tendo nove filhos para criar.
Com a mãe, a artesã relata que tirou algumas lições da vida. “Minha mãe não me ensinou a ficar pedindo as coisas, ela falava: ‘Filha, vem cá, vamos aprender’. Eu ficava pertinho da minha mãe fazendo cesta. Quando não tinha onde entregar íamos para Aquidauana, Campo Grande e já era uma ajuda”, recorda.
Nessa parte da entrevista, Maria comenta que não tem estudo e que abandonou os livros no mesmo momento que o pai saiu de casa. Por ser a “mais grandinha” dos irmãos, ela desabafa que ficou com dó de ver a mãe trabalhando sozinha. “Aí eu deixei de estudar e fui ajudar para sustentar meus irmãozinhos”, diz.
Apesar de não ter estudo, a artesã aponta para a própria cabeça com confiança e declara: “Tudo que tenho na cabeça eu não esqueço”, destaca. Isso é uma frase que os nove filhos de Maria já ouviram inúmeras vezes quando a mesma aconselhava sobre a importância de não deixar o caderno de lado.
Força - Aos 60 anos, Maria sente muita vontade de seguir trabalhando para a comunidade e ao ver os filhos fazendo o mesmo só multiplica a força que carrega. Na comunidade, a família trabalha com um projeto de extrativismo que envolve cumbaru, bocaiuva, jatobá e outros frutos.
Nessa nova fase, a artesã destaca que está satisfeita por estar com os seus. “Hoje sou feliz porque Deus tá me dando mais um ano pra viver com meus netos e junto com meu esposo”, frisa. Ao ser questionada sobre como espera estar aos 70 anos, Maria resume o desejo com as seguintes palavras:
O que eu quero pra vida é ir vivendo a vida”, finaliza.
*Com colaboração de Pedro Braga
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