Contra rodas indesejadas, comerciantes irritados proíbem o tereré
Pode ser cultural, tradicional, indispensável, fundamental em uma roda de amigos, mas o tereré não é unanimidade, até mesmo na terra da erva com água gelada. Pelo contrário, vem ganhando inimigos, gerando stress entre donos de bares em Campo Grande. A chateação é tanta com a galera do tereré que a bebida mais tradicional do Estado passou a ser proibida em alguns lugares da cidade.
Na conveniência conhecida como "Postinho", no Parque dos Poderes, e no Kiwi bar, na avenida Afonso Pena, roda de tereré não é bem vinda. Até placa foi colocada para deixar clara a censura. Em ambos a justificativa é a mesma: prejudica a venda de outros produtos e gera aglomeração, sem gerar lucro.
"Não quero bagunça", enfática, a proprietária do Postinho, a paulista Vânia Maia, proibe o consumo da bebida no posto. Segundo ela, além de impossibilitar o próprio comércio, a proposta do estabelecimento é outra. “Meu público frequente é quem gosta de rock e blues. O tereré traz consigo camionete, sertanejo, som alto e vulgaridade e não quero isso aqui”, justifica.
Algumas situações nada agradáveis por conta do tereré renderam transtorno e discussão, garante a empresária, que decidiu de vez acabar com o consumo do mate que é vício para muita gente. Mesmo assim, garante que não tem nada contra a bebida.
Com o calor que o campo-grandense enfrenta, o tereré é uma trégua. Por conta disso, rodinhas da bebida são parte da paisagem da cidade.
Mas a turma do contra defende que tudo tem lugar certo, inclusive, espaço mais adequado para tomar a bebida. “Aqui é um comércio, o tereré é de graça, como fica?”, diz Vânia, que quer vender, não só servir de espaço para aglomerações.
A proibição foi parar nas mídias sociais, sempre com ares de espanto. "Já proibiram som em um monte de lugar, fecharam bares, casas de show, agora querem proibir até o tereré? Só em Campo grande mesmo", reclama a universitária Rose Souza.
Da amiga, ela ouviu o relato. "Quando vi a placa no Kiwi, fiquei pasma. Gente, que mal faz o tereré?"
A empresária Helena Maria, de 42 anos, é frequentadora do Postinho e lembra que a proibição do tereré no local já gerou bastante assunto entre os amigos. “A proibição de um ato tão saudável quanto o tereré abre precedentes para a bebida alcóolica e, isso está errado, além do que aqui é cheio de gente praticando esporte, seria bom poder relaxar após a corrida e tomar um tereré, por exemplo”.
Já a amiga, Sonia Prado, de 45 anos, acredita que a confraternização à base da bebida deve ser limitada, “O tereré prejudica o comércio. O consumo dele não paga imposto e inviabilizam locais como esses, próximo a natureza. Não faz sentido levar tereré em um bar.”
Em busca de um lugar sem perturbação, os amigos Gustavo Gutieres, 33 anos, e Carolina Abreu, se reúnem pelo menos uma vez na semana na Orla Morena para tomar a bebida e jogar conversa fora.
“Concordo com a proibição, pois se deixarem liberar vão sentar no estabelecimento e não vão consumir tudo", diz Gustavo. Mesmo assim, lamenta a limitação em alguns cenários da cidade. "No postinho, o local é ótimo pra isso, é uma pena não poder”.