Coreanas que aprenderam a gostar de futebol aqui, hoje querem ganhar dos russos
Ao contrário do que se pensa é difícil, e muito, achar coreano em Campo Grande. Os donos dos olhos puxados são na maioria chineses. Entre tantos sotaques diferentes na 14 de Julho, encontramos duas comerciantes coreanas com camiseta do Brasil e nome dos jogadores na ponta da língua. “Neymar, Oscar, Hulk...” a lista só tinha quem veste a camisa verde e amarela. Da Coreia mesmo, só dois foram citados pela comerciante Min Jung Park.
“Sabe mais do Brasil mesmo. Agora muda, a cabeça é Brasil”, explica-se, ainda com dificuldade no Português. Com 44 anos, Min Jung ela já está há duas décadas no país do futebol, o que justifica saber mais dos atacantes daqui, do que os de lá.
A Coreia do Sul enfrenta a Rússia às 6h da tarde, horário de Mato Grosso do Sul, em Cuiabá. Min e a amiga, também comerciante, Cláudia Kin Kwon, de 54 anos, vão assistir o jogo em casa. “Sim, sim, vou ver. 18 horas, Cuiaba, não é?”, responde. Min só esqueceu do acento de Cuiabá.
Na loja as duas gritavam “Brasil, Brasil, Brasil”, como quem torce mesmo pela seleção brasileira. “Com certeza, eu vou torcer para o Brasil e depois torcer para a Coreia”, afirmava Cláudia. Sobre a camisa verde e amarela, as duas só responderam que tinham mesmo que vestir.
Hoje o comércio fecha às 14h por conta da partida entre Brasil e México. Mas se não fosse pela seleção, as duas ficariam sem ver pelo menos os primeiros minutos do jogo da Coreia. “Só jogo na Coreia não fecha, porque mais importante é o Brasil”, conta Min.
As expectativas para a estreia da Coreia na Copa são bem mais realistas. Se fossem brasileiras, elas com certeza palpitariam um placar muito maior, de goleada mesmo. “Rússia é difícil, mas penso positivo, empata 1x1 ou ganha a Coreia. Meu sonho é ganhar, não empatar, de 2x1”, chuta Min.
Cláudia também vai na onda e aposta um placar tímido, porém esperançoso. “Tomara que seja 1x0, pelo menos”.
As duas coreanas contam que antes de pisar na terra do futebol nem sequer gostavam do esporte. “Estou gostando mais aqui, aqui é mais futebol. A conversa é futebol, torce para São Paulo, Santos, Corinthians, por isso aprendi futebol”, descreve Min.
A amiga não era das mais fãs, só que já responde como qualquer torcedor de mundial. “Agora é Copa, não é?”, indaga Cláudia.
Se, por uma hipótese, Brasil enfrentasse Coreia do Sul numa final, o que Cláudia acha muito difícil, o coração nem ficaria dividido. “Não vai, eu sei que não vai, mas se for, tem que torcer pela Coreia não é?”
Nas andanças pelo comércio, o Lado B se deparou com Cheng Weichi. Um operador de caixa chinês que não fala nada em português a não ser o preço. “R$ 11,40”, repetia para uma criança que pagava por umas cornetinhas verde e amarela.
Ele não deveria entrar na matéria, mas pelo sorriso e pela empolgação, merece. De verde e amarelo dos pés à cabeça, com camisa, chapéu e colar, ele só fez sinal de quem torce e sabe, seja em qual língua for, que o Brasil entra em campo hoje.