Covid-19 faz casais juntarem escovas de dente e encarar vida de casado
Pandemia chegou estreitando relações e se ideia é o isolamento, nada melhor que experimentar vida a dois, definitiva ou temporária
O coronavírus chegou com tudo em Campo Grande, fazendo casais estreitarem relações e juntarem as escovas de dente para garantir o amor. Foi o vírus chegar que algumas pessoas colocaram o sentimento à prova e se mudaram para a casa dos parceiros. Já que a ideia é o isolamento, nada melhor que experimentar a vida a dois, seja de forma definitiva ou temporária.
“Acredito que não são os opostos que se atraem e sim os dispostos, pois a gente sempre tem que estar pronto para o que der e vier. Assim, espero que seja conosco, uma vida de disposição a dois, de compartilhamento que em meio a esse momento caótico e triste em que vivemos, onde tanta gente está perdendo seu emprego, nos dispusemos a enfrentar as dificuldades juntos, nos fortalecer e formar nossa família forte e unida”, destaca Iolanda Souza.
Aos 29 anos, ela trabalha na área de administração e há nove meses namora o estoquista, Augusto Santos, de 26. Se conheceram através de Daniel Júnior, primo dela. “Eles são amigos e trabalhavam na mesma empresa. Frequenta festas em minha casa e nos tornamos amigos. Na época, tínhamos relacionamento com outras pessoas”, conta Iolanda.
Tempo depois, o casal chegou a perder o contato, mas quando voltaram a se ver, ambos estavam solteiros. “Aí rolou o primeiro beijo”, lembra ela. A partir daí o relacionamento despontou. Os finais de semana de Iolanda e Augusto costumavam ser um pouco mais agitado.
“Fazíamos churrasquinho na minha casa ou na casa dele, com um casal de amigos nossos Raiane e Diego, e meus primos. Íamos em tabacaria e frequentávamos muito os pagodes. Isso está sendo difícil no momento, faz falta”, relata o casal.
Quando a quarentena começou na cidade, o serviço de Iolanda parou por 15 dias, mas o de Augusto não. “Na minha casa tem minha mãe e avó que são do grupo e risco, então já não nos víamos tanto. Chegava a ir para à casa dele no sábado e voltava domingo”, recorda ela.
Antes do vírus se espalhar, ela já estava mexendo num processo de compra de uma casa. “Aí resolvemos dar mais um passo no nosso relacionamento e unir as escovas de dentes. Assim iríamos nos ver com frequência, cuidando um do outro, afinal na casa só ficaríamos nós dois”, afirma Iolanda.
Desde então, a rotina mudou completamente. “Antes chegava do trabalho e tinha tudo pronto, agora não. Voltamos para casa e juntos, cuidamos dos afazeres. Para tomarmos essa decisão teve muito diálogo e amadurecimento, afinal casar não é brincar de casinha, né”, brincam os dois.
Temporário – A publicitária, Mayara Monteiro e o arte-educador, Israel Zayed também juntaram as escovas de dente. Os dois têm 31 anos, estão namorando há um ano e três meses. Se conheceram pelo aplicativo de paquera “Tinder” e resolveram tentar.
“Nunca tinha entrado no app e resolvi abrir a possibilidades, fiz um perfil, mas achava todos desinteressantes. Estava desinstalando o aplicativo, pois fazia me sentir apenas um pedaço de carne pelo jeito que os caras abordam a gente. Mas, vi o perfil dele, tinha descrição e estava escrito de forma correta. Conversamos e nos demos bem”, lembra ela.
Não demorou muito e o casal marcou o primeiro encontro numa cafeteria, e ficou horas conversando. “Se não desse certo, seria no mínimo um grande amigo. Ele conhece várias pessoas e por onde passamos sempre tem gente cumprimentando”, conta Mayara.
O namoro despontou e os dois costumavam se ver mais nos fins de semana, quando iam à casa um do outro. “O que mais fazíamos era ir na casa ou receber os amigos, cozinhar, tocar violão e jogar conversa fora. Estamos sentindo muita falta disso”, diz a namorada.
O casal é bastante ligado à arte e educação, antes da epidemia gostava de visitar os museus da cidade e ir aos cinemas. Quando os primeiros casos do vírus foram anunciados na Capital, Mayara e Israel passaram a se articular. “Uma amiga que mora comigo, apresentou os sintomas e foi tratada como se tivesse coronavírus, mas depois foi diagnosticada com H1N1”, recorda ela.
Logo Mayara foi liberada para trabalhar em home office. “Achei que fosse surtar se ficasse sozinha e ele também ia ficar na casa dele. Conversamos sobre passar juntos por esse período, para que pudesse unir os esforços. No dia 18 de março fui para a casa dele”.
No início foi um pouco difícil, mas o casal se acostumou com a companhia um do outro. “Os desentendimentos demoram para acontecer e quando acontecem, temos resolvido melhor. Estamos se conhecendo mais e a gente se diverte muito”, afirma Mayara.
A relação tem dado certo, eles têm divididos os afazeres de casa. Enquanto um cozinha outro lava a louça e por assim vai. Com esses dois a parceria é fechada, mas Mayara acredita que após o fim da epidemia, volta a ser cada um em sua casa.
“Não vai mudar a relação, a diferença é que não vai ter uma pandemia. Propus a gente continuar, mas ele é cauteloso. Vou sentir falta. Sempre passo na minha casa para alimentar meu gato e fico um tempinho lá, para manter nossa individualidade”, diz ela.
Para Israel, a convivência tem sido um presente. “Temos tentado criar uma rotina juntos. Nosso trunfo é o diálogo, sabemos ouvir, acolher e conversar. Como o vírus mudou o mundo, tem dias que eu ou ela não estamos bem, porém conseguimos manter o diálogo. Nunca vamos dormir quando tem algo pendente”, explica Israel sobre a relação com a namorada.
Israel acha possível que, pós pandemia, o casal permaneça na mesma casa. “Nos amamos e pretendíamos ter a experiência, porém isso só se adiantou. Estamos nos protegendo, se ajudando é o estágio de um casamento”, destaca ele.
Test drive – Os jornalistas, Letícia Ávila e João Pedro Godoy chegaram a morar juntos por algum tempo. No entanto, após ela conseguir um emprego, voltou para a casa onde vivia. “Com a quarentena não podíamos sair, foi uma oportunidade da gente avaliar as coisas. Como moro sozinha há muito tempo, tenho meu jeito. Foi um test drive”, diz ela.
Eles estão juntos há um ano e oito meses. Se conheceram em Rondonópolis – MT, durante as férias de Letícia. “Ele era de Bauru – SP, mas trabalhava lá. A gente conversou pelas redes socais e decidimos nos encontrar. Fiquei por lá duas ou três semanas. Não imaginava que daria um relacionamento”, lembra.
Ela retornou para Campo Grande e o casal passou a namorar a distância. Foi assim por um ano, até João Pedro conseguir transferência para a Capital. “Nosso relacionamento sempre foi bom, a diferença é que agora estamos mais perto”.
Eles são mais tranquilos e antes do coronavírus, costumavam ficar em casa, ir ao cinema e até visitar os parques da cidade. Após voltar à rotina, de ser cada um na sua residência, Letícia comenta. “Hoje não me sinto preparada para ter um espaço com ele. Cada um tem sua individualidade. Vimos que precisamos nos organizar. Foi uma experiência bacana, de ver que a gente a diferente”.
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