Covid levou Valdecir e Osmarina, que na morte, confortam os filhos
Casal foi internado junto, e faleceu com seis dias de diferença, deixando um legado de amor e integridade
O último dia 21 de abril foi o dia mais triste angustiante da vida de Renato. Na recepção do Hospital Regional, ele recebeu a notícia da morte de sua mãe ao mesmo tempo que precisava saber como estava seu pai, que não faleceu naquele momento, mas seis dias depois.
Os dois foram internados às pressas por conta de complicações decorrentes da covid-19. Casados durante 39 anos, Osmarina Ferreita de Almeida Zanre e Valdecir Zanre de Almeida terminaram suas jornadas, pelo menos nesse plano, segundo a fé deles, juntos.
Renato Zanre, filho caçula de 32 anos, ainda tenta entender tudo que aconteceu e por que aconteceu. Ele o irmão, Renê, eram muito próximos dos pais e após mais de um ano de pandemia, se viam quase “livres” dessa enfermidade.
“Quando tudo acontece a gente não tem noção da gravidade, é uma mistura de sentimentos, mas vai passando os dias e a gente vê que é difícil”, lamenta Renato.
Renato é farmacêutico de profissão, mas também pastor. A família sempre foi envolta de muita fé, e isso que tem confortado o coração de dele nesse momento.
“Me conforta bastante saber para aonde eles foram, e é nisso que eu me apego de saber que um dia ainda vou encontra-los no céu”.
Valdecir apresentou primeiro os sintomas. Osmarina adoeceu logo depois. Os dois receberam tratamento isolados um do outro em quartos separados dentro da própria.
No dia 21, os dois amanheceram com piora no quadro e foram levados às pressas para o hospital. Duas ambulâncias foram buscá-los, porém os filhos tiveram o cuidado de retirá-los separados para nenhum saber da gravidade do outro.
Pouco tempo depois de dar entrada no hospital, com dificuldade de ser intubada, Osmarina não resistiu. Foi ali, ainda tendo que saber o que seria de seu pai, que Renato e Renê tiveram que viver um luto ainda tomado de angústia, de medo, sem saber se perderiam as pessoas que mais amavam no mundo de uma vez, numa manhã. Não aconteceu.
Valdecir não ficou sabendo da morte da esposa, pelo menos por aqui. Sedado lutou até o dia 27 quando, também de manhã, partiu para encontrar a esposa.
“Antes de ser internado, mas já com o vírus, meu pai perguntou pra mim se eu via o jardim verde florido a frente dele. Como se ali ele já vislumbrasse o paraíso”.
A esposa de Renato está grávida do primeiro filho do casal. “Eu queria, claro, que meus pais conhecessem o neto, mas costumo dizer que nem tudo a gente vai entender, não dá pra negociar a bondade de Deus”.
O carinho e afeto de amigos e familiares têm sido essenciais na vida de Renato. Ele diz que tem um pouco dos pais em cada um que os conheceram.
“O que fica da minha mãe é a fé, ela era uma mulher de muita fé, era uma mulher de muita intimidade com Deus, resumindo uma mulher de muito amor. Já quando penso no meu pai penso integridade e honestidade, desde as finanças até nas relações”
Em meio a esse turbilhão de sentimentos, a força de Renato é movida pela fé. “Eu prefiro agradecer os 32 anos que vivi com eles do que lamentar o fato de não viver mais agora, principalmente por que sei que vamos nos ver de novo”.
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