Depois de morar 554 dias na Santa Casa, criança é adotada por família
Na manhã deste sábado, um menino embarcou para uma nova vida ao lado de familiares que vieram de longe para adotá-lo, dando um final feliz à história de 554 dias passados dentro da Santa Casa.
A narrativa é de aquecer o coração, de uma mãe que há duas décadas se dedica à maternidade, biológica e principalmente adotiva. A família não quis se identificar, preferindo deixar que a história fale por si só e a ação ultrapasse nomes e rostos.
O caçula é o quinto filho e chega para ocupar o coração da mãe e das irmãs. É o primeiro menino, e vem logo depois de uma perda. Em março, a irmã que ele só vai conhecer através de fotos e lembranças, morreu. O quarto deles será o mesmo, que agora ganha tons de azul. Por telefone, a mãe conversou com o Lado B.
"Nos encontramos através do meu perfil, que era de uma criança especial", conta a mãe, de 49 anos. A filha que morreu tinha AME (atrofia muscular espinhal tipo 1) e usava estrutura de home care, a mesma aparelhagem que agora vai receber o menino daqui de Campo Grande.
"Eu já vim decidida para assinar a guarda de adoção. Com a minha outra filha a gente se apaixonou e conheceu o que é o amor incondicional, a decisão de amar uma criança assim, e o perfil dele se encaixava naquilo que a gente queria dar continuidade", descreve.
Ela já é avó, e fora os cinco filhos, sendo quatro adoções, e uma biológica, já acolheu 35 crianças em casa que precisavam de um lar até poderem voltar às suas famílias de origem. "Eu já trabalhava no voluntariado antes, e aí 23 anos atrás, fiz minha primeira adoçõa, onde hoje minha filha tem 27 anos", recorda.
O cadastro sempre foi aberto, sem preferência por etnias, e nem se limitando para não receber de braços abertos crianças que pudessem ter doenças. Depois da filha que faleceu, o menino é o segundo a ir para casa necessitando de cuidados especiais.
A família optou por não dar detalhes da condição, e sim falar da escolhe de amar incondicionalmente.
"Quando a gente decidiu adotar e chegou a informação de que tinha uma criança, na hora eu vim. Fiquei sabendo na sexta-feira e na quarta estava aqui", fala. Foi só o tempo de organizar a papelada.
"A primeira vez que eu o vi, não sei explicar, com tudo o que ele tem, eu só passei do lado dele e disse: 'a mamãe chegou' e ele deu um sorrisinho para mim, mesmo com toda dificuldade que ele tem para se expressar e sorrir, ele deu um sorriso, já me conheceu", acredita a mãe.
O menino que viveu praticamente toda a vida dentro de um hospital se despediu também dos funcionários. Afinal, foi a enfermagem sua primeira família. O Lado B apurou que a criança deu os primeiros passinhos nos corredores, mas por intercorrências, hoje não caminha, não fala e depende de aparelhos para sobreviver.
Para a mãe que o leva agora, nada disso importa. "Quando você decide ter um filho, não sabe se ele vai parecer com o pai, com o avô lá atrás, se vai ter pele escura. Tudo isso pode ser especificado no cadastro ou não. As pessoas têm todo direito, mas gostaria que elas começassem a pensar que adoção não é uma criança idealizada, é um filho. Na adoção você quer um filho", ensina. "E ele não vem da forma como você quer, da personalidade que você quer. Lógico que toda mãe e todo pai ora para ter um filho perfeito, mas nem sempre isso acontece", completa.
Enquanto o Lado B conversa com ela pelo viva-voz, chamadas de vídeo entravam. Eram as irmãs que a todo tempo queriam ver o mais novo bebê da casa.
"Amor de mãe é você tomar a decisão de amar. Amar seu filho incondicionalmente, seja ele biológico, adotivo, seja adoção tardia ou especial, é a decisão de amar. A felicidade da gente que é mãe é quando seu filho está feliz", diz a mãe.
Se cabe mais um por lá? A mãe não titubeia ao afirmar que sim. "Independente de qualquer coisa, a gente está sempre aberto e sempre cabe mais um".
Segundo a Vara da Infância, Adolescência e do Idoso existe na fila de adoção uma criança surda, um adolescente com paralisia cerebral, outro com diabetes tipo 1 e um pré-adolescente autista.