Distância assusta, mas orgulho é ver filho sair do Noroeste para o Canadá
Mesmo sem condições de pagar por escola de elite, Guilherme conseguiu bolsa para estudar no Canadá
De família simples e com poucas condições de pagar pelas melhores escolas da cidade, o estudante Guilherme Giovani Ribeiro sempre foi um destaque em todas as escolas por onde passou. Agora, aos 18 anos, ele está a poucas semanas de embarcar para uma das maiores experiências de sua vida até o momento. Morador do Bairro Noroeste, em Campo Grande, ele foi uma das 16 pessoas selecionadas para receber uma bolsa de estudos para ingressar em uma universidade no Canadá.
Para a mãe, a professora pedagoga Regiane Ribeiro, de 37 anos, a conquista recente do filho não foi nenhuma surpresa. Isso porque, segundo ela, a trajetória escolar do filho sempre foi recheada dessas "surpresas", conquistadas com bastante esforço e dedicação de Guilherme.
Ainda no ensino fundamental, a mãe relembra que a primeira "surpresa" em relação ao desempenho escolar do filho ocorreu quando sua participação na Fetec MS (Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul) lhe rendeu uma bolsa em uma das melhores escolas particulares da cidade.
Na ocasião, Guilherme apresentou um dicionário ilustrado com termos regionais pouco conhecidos e utilizados, retirados de músicas. O projeto ficou em segundo lugar e lhe garantiu uma vaga na escola bilíngue GAPPE, onde cursou o oitavo e nono anos.
“Para nós já era inacreditável, porque você pensa numa família como a nossa, que não teria condições de pagar um ensino no GAPPE, por exemplo, uma escola bilíngue. A escola tem um ensino muito bom, mas também um custo que a gente não conseguiria arcar”, expressa Regiane.
A mãe relata que o filho sempre deixou claro o interesse em estudar fora de Mato Grosso do Sul, mas não imaginava que seria a mais de cinco mil quilômetros de casa.
“Eu imaginava que seria longe, tipo Curitiba ou São Paulo. Eu nem sei te dizer como vai ser quando ele for, porque é uma experiência única. É muito assustador, muito difícil lidar com a ideia de o filho estar estudando tão longe, mas eu penso que não posso colocar as minhas necessidades acima do sonho dele, porque ele sempre deixou claro para mim que o sonho dele seria estudar fora”, declara.
Altas habilidades
Desde o ensino fundamental, Guilherme já demonstrava ser um aluno "acima da média" e era descrito pelos professores como uma criança bastante concentrada e interessada nos estudos, conforme relata Regiane.
Já na fase de ingresso no ensino médio, o estudante se inscreveu no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), onde cursou o ensino técnico em informática. Na instituição, foi solicitada uma avaliação com a equipe do Ceam (Centro Estadual de Atendimento Multidisciplinar para Altas Habilidades/Superdotação), e Guilherme recebeu o laudo de altas habilidades.
Regiane relata que, ao longo de toda a vida escolar do filho, tanto os professores quanto ela mesma observaram as habilidades e o foco de Guilherme em suas áreas de interesse. Até então, havia apenas suspeitas de possíveis laudos para Guilherme, mas o teste veio como uma "resposta" para todos os questionamentos da mãe acerca do comportamento do filho.
“Quando ele estava na educação infantil, já tinha um nível bacana e apresentava um comportamento diferenciado. Os laudos de altas habilidades e os laudos de autismo são coisas muito novas, então, foi tudo muito surpreendente. Quando saiu o laudo de altas habilidades, veio como uma resposta para todas essas perguntas”, declara Regiane.
Além dos projetos de extensão, Guilherme também participou de diversos esportes, como xadrez, jiu-jitsu, atletismo, clube de teatro, canto e olimpíadas de conhecimentos, que lhe renderam muitos certificados e medalhas.
Intercâmbio no Canadá
Guilherme conseguiu uma bolsa de 100% para estudar bacharelado em Liderança em Ações Climáticas no Pearson College, na cidade de Victoria, no Canadá. O curso tem duração de dois anos e a bolsa cobre alojamento nas dependências da universidade e alimentação.
No total, foram quase 12 meses de processo seletivo, incluindo uma prova de conhecimentos gerais, um questionário socioeconômico, uma entrevista virtual com o Comitê Nacional da UWC Brasil, a organização responsável pelo intercâmbio, e dois encontros presenciais em São Paulo. Cada uma das etapas era de caráter eliminatório, e, entre os 35 candidatos, Guilherme foi um dos 16 a conseguir a bolsa.
Guilherme conta que sempre gostou bastante das áreas de saúde, biologia, filosofia, matemática e ciências biológicas. O interesse no curso de Liderança em Ações Climáticas surgiu do desejo de estudar os impactos sociais da humanidade no meio ambiente, além de aprender sobre novos locais e culturas.
“Eu creio que será bem enriquecedor, porque é uma experiência toda em inglês, terei choques culturais interessantes e estou bem animado para entender um pouco mais sobre o mundo global, de uma perspectiva mais social e de ciências climáticas. Acredito que posso ser um grande contribuinte e sinto que esse convívio pode mudar tudo, especialmente pelo perfil das pessoas que vou encontrar por lá e pelas oportunidades que podem surgir”, expressa Guilherme.
Após o intercâmbio, Guilherme revela que pretende voltar ao Brasil para cursar ciências biológicas em alguma universidade federal, com o intuito de, assim como sua mãe, se tornar professor.
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