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Comportamento

Durante anos, Ide escreveu cartas para reunir toda a família Kintschner

Na busca incansável de encontrar seus antepassados, militar escreveu mais de 600 cartas

Thailla Torres | 05/04/2021 06:09
A lista de endereços aos quais ele enviava as mais de 600 cartas. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
A lista de endereços aos quais ele enviava as mais de 600 cartas. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)

Na semana passada, Ide Kintschner completaria 85 anos de vida se estivesse vivo. Seu aniversário não passou batido e ganhou homenagem de uma das netas que vive em Campo Grande, a jornalista Fernanda Kintschner. Na lembrança, ela destacou um dos maiores sonhos do avô, que era reunir o máximo de pessoas com o mesmo sobrenome que o da sua família.

Quem conta com detalhes a história é sua filha, a professora Katia Kintschner, de 59 anos. “Ele começou a enviar cartas em 1988. Ele não chegou a conhecer a internet, muito menos as redes sociais, as quais certamente facilitaria sua vida”, lembra a filha.

Ide nasceu em 31 de março de 1936 e partiu em 26 de abril de 2010. Ele era natural de Galópolis, Caxias do Sul (RS) e era militar aposentado do Exército.

Ele chegou a enviar aproximadamente 600 cartas. Katia contou os endereços deixados em uma pasta de arquivos, cada página tem 50 endereços entre Kintschner, Kisner, Kientsc, Kintcher,Kincher, Kirschner, Kirtschner etc.

Modelo que ele enviava junto as cartas para serem preenchidos. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
Modelo que ele enviava junto as cartas para serem preenchidos. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)

No conteúdo das cartas, primeiro ele se apresentava e explicava que gostaria de montar uma árvore genealógica da família Kintschner e gostaria de reunir o máximo possível dos seus iguais. Nas cartas, muitas vezes ele mandava um envelope preenchido e com as perguntas datilografadas para que todos que as recebessem, respondessem a ele.

“Ele sempre teve orgulho do seu sobrenome: Kintschner, cuja origem veio de uma região que existia entre a Alemanha e a Áustria uma região chamada Boémia”

A República da Áustria Alemã ou Áustria Germana, (em alemão: Republik Deutschösterreich), é o nome que recebeu o Estado austríaco logo após o desmembramento do Império Austro-Húngaro, ao finalizar a Primeira Guerra Mundial. “E foi de lá que partiram para o Brasil meus bisavós”, conta a professora.

Uma das respostas que até hoje estão arquivadas. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
Uma das respostas que até hoje estão arquivadas. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)

A história é motivo de orgulho para filha. “Para mim o que ficou mais marcado em meu pai, foi sua coragem e determinação. Ele era incansável, não desistia fácil das batalhas que a vida lhe impôs”.

A paixão pelos netos também se tornou inesquecível. “Todos lembram dele com muito carinho. Amava a todos, ele juntava notas de R$ 2,00, as grampeavas e esperava os netos chegarem para visitá-lo. Eram apenas vinte reais. Mas as 10 notas faziam volume e parecia uma fortuna”.

Ide ao lado de todos os netos. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
Ide ao lado de todos os netos. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)

Ide ficou órfão muito cedo, perdeu seu pai aos 8 anos de idade. A mãe de quem cuidou, faleceu acometida pela tuberculose, quando ele tinha apenas 9 anos. Muito cedo aprendeu que para comer e viver precisava ter dinheiro no bolso. Então foi a Caxias do Sul onde aos 11 anos um senhor o deixou dormir dentro de uma relojoaria em troca da limpeza (banheiro e estabelecimento comercial). De tanto observar o conserto dos relógios ele aprendeu a profissão.

Foi relojoeiro até aos 18 anos, a essa altura já sabia consertar relógio de cuco, o que necessitava de muita habilidade. Também aprendeu a confeccionar anéis e brincos. Foi chamado a servir o quartel, e ali viu uma possibilidade de crescimento, o que para muitos era um tormento ter que servir o quartel, para ele foi uma benção, pois teria alojamento, uniforme e alimentação e a possibilidade de seguir uma carreira.

“O meu pai era do Batalhão de Engenharia e abria túneis nas estradas. Morávamos muitas vezes no mato, acompanhando a abertura de estradas. E quando havia uma montanha, meu pai explodia as rochas para a abertura dos túneis. O mais interessante é que nossa casa, nessa época era de madeira e ia acompanhando a expansão da estrada, era desmontada e montada pós túnel pronto”.

Casa de madeira que era desmontada. Na foto está Katia ao lado de sua boneca. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
Casa de madeira que era desmontada. Na foto está Katia ao lado de sua boneca. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
Esse era Ide, antes de se aposentar. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)
Esse era Ide, antes de se aposentar. (Foto: Arquivo Pessoal/Katia Kintshcner)

Ide pai sempre teve interesse em saber mais sobre os seus antepassados. “Por isso no dia 31 de março em uma homenagem que fiz a ele em uma rede social na internet, lamentei o fato dele ter morrido antes de conhecer a internet. Com certeza, suas pesquisas teriam se adiantado muito mais com a ajuda dos sites de pesquisa existentes na atualidade”, finaliza a filha.

Hoje, um dos netos criou um grupo no Whastapp e tenta reunir o maior número Kintschner que estão na lista do avô, na busca de tentar montar a árvore genealógica.

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