Durante anos, Ide escreveu cartas para reunir toda a família Kintschner
Na busca incansável de encontrar seus antepassados, militar escreveu mais de 600 cartas
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Na semana passada, Ide Kintschner completaria 85 anos de vida se estivesse vivo. Seu aniversário não passou batido e ganhou homenagem de uma das netas que vive em Campo Grande, a jornalista Fernanda Kintschner. Na lembrança, ela destacou um dos maiores sonhos do avô, que era reunir o máximo de pessoas com o mesmo sobrenome que o da sua família.
Quem conta com detalhes a história é sua filha, a professora Katia Kintschner, de 59 anos. “Ele começou a enviar cartas em 1988. Ele não chegou a conhecer a internet, muito menos as redes sociais, as quais certamente facilitaria sua vida”, lembra a filha.
Ide nasceu em 31 de março de 1936 e partiu em 26 de abril de 2010. Ele era natural de Galópolis, Caxias do Sul (RS) e era militar aposentado do Exército.
Ele chegou a enviar aproximadamente 600 cartas. Katia contou os endereços deixados em uma pasta de arquivos, cada página tem 50 endereços entre Kintschner, Kisner, Kientsc, Kintcher,Kincher, Kirschner, Kirtschner etc.
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No conteúdo das cartas, primeiro ele se apresentava e explicava que gostaria de montar uma árvore genealógica da família Kintschner e gostaria de reunir o máximo possível dos seus iguais. Nas cartas, muitas vezes ele mandava um envelope preenchido e com as perguntas datilografadas para que todos que as recebessem, respondessem a ele.
“Ele sempre teve orgulho do seu sobrenome: Kintschner, cuja origem veio de uma região que existia entre a Alemanha e a Áustria uma região chamada Boémia”
A República da Áustria Alemã ou Áustria Germana, (em alemão: Republik Deutschösterreich), é o nome que recebeu o Estado austríaco logo após o desmembramento do Império Austro-Húngaro, ao finalizar a Primeira Guerra Mundial. “E foi de lá que partiram para o Brasil meus bisavós”, conta a professora.
A história é motivo de orgulho para filha. “Para mim o que ficou mais marcado em meu pai, foi sua coragem e determinação. Ele era incansável, não desistia fácil das batalhas que a vida lhe impôs”.
A paixão pelos netos também se tornou inesquecível. “Todos lembram dele com muito carinho. Amava a todos, ele juntava notas de R$ 2,00, as grampeavas e esperava os netos chegarem para visitá-lo. Eram apenas vinte reais. Mas as 10 notas faziam volume e parecia uma fortuna”.
Ide ficou órfão muito cedo, perdeu seu pai aos 8 anos de idade. A mãe de quem cuidou, faleceu acometida pela tuberculose, quando ele tinha apenas 9 anos. Muito cedo aprendeu que para comer e viver precisava ter dinheiro no bolso. Então foi a Caxias do Sul onde aos 11 anos um senhor o deixou dormir dentro de uma relojoaria em troca da limpeza (banheiro e estabelecimento comercial). De tanto observar o conserto dos relógios ele aprendeu a profissão.
Foi relojoeiro até aos 18 anos, a essa altura já sabia consertar relógio de cuco, o que necessitava de muita habilidade. Também aprendeu a confeccionar anéis e brincos. Foi chamado a servir o quartel, e ali viu uma possibilidade de crescimento, o que para muitos era um tormento ter que servir o quartel, para ele foi uma benção, pois teria alojamento, uniforme e alimentação e a possibilidade de seguir uma carreira.
“O meu pai era do Batalhão de Engenharia e abria túneis nas estradas. Morávamos muitas vezes no mato, acompanhando a abertura de estradas. E quando havia uma montanha, meu pai explodia as rochas para a abertura dos túneis. O mais interessante é que nossa casa, nessa época era de madeira e ia acompanhando a expansão da estrada, era desmontada e montada pós túnel pronto”.
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Ide pai sempre teve interesse em saber mais sobre os seus antepassados. “Por isso no dia 31 de março em uma homenagem que fiz a ele em uma rede social na internet, lamentei o fato dele ter morrido antes de conhecer a internet. Com certeza, suas pesquisas teriam se adiantado muito mais com a ajuda dos sites de pesquisa existentes na atualidade”, finaliza a filha.
Hoje, um dos netos criou um grupo no Whastapp e tenta reunir o maior número Kintschner que estão na lista do avô, na busca de tentar montar a árvore genealógica.
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