Elizena diz que já foi furtada 25 vezes, mas não larga casa que ficou da mãe
Apesar dos furtos e mais de sete cadeados pela casa, Dona Elizena jura que é feliz e é do tipo que sabe tudo da vizinhança
Alguns minutos de conversa é uma injustiça para dona Elizena Silvana Amarante, de 64 anos, campo-grandense nascida e criada no bairro Taveirópolis. Ela ama conversar, mas não pode ser pouco. As horas passam voando na porta de casa porque o que não falta é história para contar.
Na busca por casas históricas na região, o Lado B deu de cara com a gentileza da moradora, que nem questionou o interesse da reportagem e logo fez o convite para o tereré. Sentada com os amigos ela aproveita o interesse para contar sobre a violência no bairro, mas de um jeito tão bem-humorado que fica até difícil imaginá-la descontente por ali.
“Eu já fui assaltada 25 vezes, isso é só o que eu contei. Já roubaram até meu botijão de gás. Uma vez até mandei pessoalmente o bandido ir embora daqui porque cheguei e ele estava ali dentro”, conta gargalhando das correntes que ela foi obrigada a espalhar pela casa.
A história até poderia ser trágica levando em conta que a aposentada vive trancada, com pelo menos sete cadeados pela da casa de madeira que resiste há 35 anos no bairro. Mas o lar é a única lembrança que ela tem da mãe, que partiu há 9 anos.
Disposta para fotos, ela até reproduz uma das fotografias que fica na sala, em que a mãe posa ao lado de uma roseira na frente da casa, que ainda tinha a cor rosa e azul da parede intactos. Hoje, com a pintura desgastada e sem as rosas ao lado, a filha faz a mesma foto. “Isso me faz lembrar quando eu subia nesse muro e ficava tirando foto dela”.
Elizena diz que não tem filhos, é a caçula de três irmãos e garante que está satisfeita com os sobrinhos. “Não preciso de filhos, tenho meus sobrinhos amados, um até mora nos fundos. Aliás depois que ele chegou, parece que a casa ficou mais calma”.
Mas nada tira sua liberdade de falar o que pensa. “Eu falo tudo o que me der na telha, tem uma vizinha que nem vai na igreja comigo, morre de vergonha, porque eu brigo até na igreja se alguém fazer algo errado”, diz.
Os minutos vão passando e fica quase impossível não rir com Elizena, que mesmo entre tantos cadeados, solta a voz para falar o que sabe da vizinhança, é tanta história que para se organizar ela narra os fatos com nome, rua e número da casa dos vizinhos. “Eu sei a história de todo mundo nesse bairro. Moro aqui desde que nasci, minha mãe era uma pessoa muito querida”, lembra.
Aposentada há três anos, o único sofrimento, segundo ela, é com o reumatismo, diagnosticado depois de inúmeros tombos na rua. “Eu andava e caia do nada. Cheguei a pensar que era alguma vizinha fazenda poção mágica para mim, mas era doença mesmo”, ri.
Sem nenhum relacionamento em vista, ela diz que não quer trabalho, mas não descarta um novo amor. “Se eu me apaixonar, quem sabe... Mas não quero homem para me dar trabalho, que fica pedindo sopinha”, brinca.
Hoje, a única vontade é dar uma reformada na casa, que apesar dos cadeados, é seu cantinho preferido. “Até tenho um terreno lá no Santa Luzia, mas essa casa foi a única coisa que minha mãezinha deixou. Eu não pedi, o imposto é caro, mas agora preciso ficar aqui e cuidar”.
Quando não está sentada contando história, Elizena diz que se dedica à costura. “Faço alguns trabalhos com capa de chuva, consertos pequenos e assim a gente vai vivendo. Graças a Deus tenho muitos amigos no meu bairro”.
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