Em 13 dias, pai registra de forma sensível crescimento do filho na UTI
As fotos que ninguém quer, nem os pais desse fofo bebê que você acabou de ver aí em cima, se tornaram alento para um casal que viu o filho nascer como um guerreiro e lutar pela vida durante 13 dias dentro da UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Théo nasceu prematuro e precisou de ajuda para respirar e ganhar peso nos primeiros dias de vida, mas a cena dele dentro da UTI não foi recebida somente com angústia. O pai Marcell Carvalho da Costa Rezende, de 27 anos, com muita sensibilidade, decidiu registrar os "passinhos" do filho dentro do leito e copartilhar com a família.
Marcell usou a fotografia para mostrar cenas emocionantes, com as descobertas de um menininho ao abrir os olhos, ao segurar os dedinhos e até abrir um doce sorriso. O casal, claro, babou a cada pose. E Théo parecia saber do ensaio com movimentos tão fofos.
A maneira como o pai encontrou de registrar essa fase e o que antecedeu a chegada do pequeno ao leito são narrados pela mãe, Jéssica Silveira Campos, de 26 anos, na série Voz da Experiência. Confira também a sequência de fotos feitas pelo pai, todas pelo celular.
Théo foi um bebezinho muito esperado. Nosso sonho era ser pai e mãe, mas o sonho ficou abalado com a realidade de que eu teria que fazer um tratamento para engravidar.
Tive crises de anorexia nos últimos anos três vezes e, por isso, meu útero e ovários atrofiaram e não funcionavam muito bem. Eu já estava há dois anos sem menstruar, mas mesmo assim tentávamos engravidar. Sabe aquela fé e esperança que não some? Era nisso que eu e o Marcell nos apegávamos.
No começo de dezembro de 2019 eu comecei a sentir dores fortes no estômago. Como tenho gastrite, pensei que seria mais uma crise. A preocupação só apareceu porque sou uma pessoa muito ativa, e fiquei bem debilitada, sem sair da cama. Até a atividade física pela qual sou apaixonada e faço seis vezes na semana eu não queria fazer. Decidi então ir ao gastroenterologista, fiz exames e nada apareceu. Numa sexta-feira, dia 13, eu sonhei que estava grávida, de um menino. No sábado, alguma coisa me disse para que eu fizesse um teste, e como tinha guardado um de farmácia, fiz e deu positivo.
O resultado quase me fez cair no chão, não acreditei, mandei a foto do teste para o Marcell e ele também quase desmaiou. Fomos então fazer o teste sanguíneo, que confirmou a gravidez. Mesmo assim custava acreditar, estava incrédula, pois na minha cabeça eu não poderia até fazer os tratamentos. Foi só quando escutei o coraçãozinho dele na primeira ultrassom que passei a acreditar e a agradecer por essa conquista.
Minha gravidez foi bem complicada, não conseguia me alimentar, passava mal com tudo que eu ingeria, perdi 9 kg nos primeiros meses de gestação, e vivia no hospital pela constipação e falta de nutrientes. Durante todo esse tempo o Marcell não saiu do meu lado um minuto.
No dia 3 de junho, logo depois dos meus exercícios matinais e do almoço, comecei a sentir fortes dores na barriga, pareciam com as dores intestinais, então fomos para o hospital pensando que eu tomaria uma medicação e voltaria para casa. Na chegada, soube que eu estava com 2 cm de dilação e em trabalho de parto. Fui internada para que pudesse segurar o Théo ao menos duas semanas.
Foram 8 dias de internação, tomando medicamentos para desenvolver o pulmãozinh dele, vitaminas e suplementos para melhorar o meu peso. Todos os dias sentia contrações, elas não estavam ritmadas, mas estavam constantes. No dia 10 de junho recebemos alta, a dilatação não havia tido progresso e poderíamos continuar o repouso em casa. Arrumamos nossas coisas e ligamos para o meu pai nos buscar. Cerca de 10 minutos antes de descer o elevador senti uma dor muito forte e minha bolsa estourou às 14h30 daquele dia.
Foram 14 hora de trabalho de parto e minha dilatação não passava de 3 cm. Minha médica então voltou a conversar conosco. Eu estava sofrendo muito e o Théo também passaria a sofrer, pois meu colo estava rígido, sinal de que não poderia haver mais dilatação, foi quando tomamos a decisão de partir para cesariana.
Théo nasceu com 42 cm e 1,790 kg, precisava respirar sozinho e ganhar peso, então foi para a UTI.
No primeiro dia foi entubado, pois a respiração era bem cansativa para ele, mas ele se mostrou muito forte e ficou somente algumas horas com o tubo de oxigênio, mas ainda precisava de uma ajudinha para respirar.
Vê-lo se alimentando através de uma sonda partia nosso coração, ver o rostinho dele cheio de fios era um sentimento horrível, e o desespero de quando ele não parava de vomitar, rejeitando o leitinho e emagrecendo era ainda mais doloroso.
Nós nos sentíamos pais desnaturados por apenas poder visitar o Théo. A cada despedida da UTI deixávamos um pedaço nossos corações naquele leito.
Eu sentia muita dor pois estava recém operada, a vinda de carro até o hospital era massacrante, mas tudo isso passava batido quando chegávamos na UTI e víamos aquele rostinho lindo. Cada dia era visto como um passo a mais para ele sair.
Quando eu o peguei pela primeira vez meu coração explodiu de felicidade, e quando o Marcell pegou, seus olhos eram só paixão e gratidão.
Ele ficou 13 dias na UTI, nos últimos dias, era só questão dele aprender a mamar, pois estava já sem aparelho nenhum, sem antibiótico,e quando tivemos esse primeiro contato, foi mágico, nós nos conectamos muito rápido, e em questão de dois dias ele foi para o quarto.
A cada vitória que ele dava, o papai registrava, para que no futuro ele veja e não desista das batalhas que virão, pois ele já nasceu vencedor, já nasceu guerreiro. As fotos também se tornaram uma forma sensível de nossas famílias participarem do desenvolvimento do Théo durante essa pandemia. Elas representam todo nosso amor por ele, derrubando dores e sentimentos. Além disso as fotos também representam a força que um prematuro tem, de conseguir se desenvolver e de lutar todos os minutos pelo ar que respira. As fotos mostram que viver é uma batalha diária e que começa desde o nascimento.
Momentaneamente, o que queríamos através desses registros era um conforto, de saber que mesmo distante de nós, ele estaria bem, sendo bem cuidado e, que no dia seguinte, ele estaria melhor, evoluindo para a tão sonhada alta. Era saber que havia beleza e inocência entre todos os aparelhos e procedimentos pela qual ele era submetido.
No futuro, vamos pegar essas fotos e relembrar esses momentos que foram dolorosos, mas não pensando em como foram ruins, mas em como eles foram bons para sermos os pais que o Théo precisava, fortes e capazes de tudo para que ele pudesse ficar bem".
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