Exaustas de 'boys lixo', mulheres fazem uma pausa até de homens
Já ouviu falar em 'boy sober'? Tendência incentiva mulheres a optarem pela abstinência
Se relacionar ou não com homens, eis a questão. Entre mulheres heterossexuais e bissexuais, a discussão sobre relacionamentos com homens tem ganhado força nas redes sociais, especialmente quando muitas relatam ter percebido que, na maioria das vezes, esses relacionamentos não têm contribuído para suas vidas, seja no âmbito emocional ou sexual.
Cansadas de aplicativos de encontros, decepções amorosas e de lidar com comportamentos tóxicos, muitas decidiram abraçar a "abstinência de homens". Surge assim o conceito “boy sober”, que, traduzido do inglês, seria algo como “sobriedade de homens”.
Essa tendência incentiva a abstinência de relacionamentos românticos como forma de redirecionar energias para outras áreas, como estudos, trabalho, projetos pessoais e saúde mental.
Uma das adeptas dessa prática é a estudante Débora Anelli, de 27 anos, que decidiu, há oito meses, não se relacionar mais com homens. "Eu estou no detox e não tenho previsão de sair dele. Homem não tem me agregado em nada na vida", afirma.
Débora explica que tomou essa decisão após um relacionamento frustrante que durou um ano. “Eu tive um relacionamento com um cara, que foi um ficante de um ano, que sempre dizia que estava emocionalmente indisponível. Só que, dois meses após pararmos de sair, ele começou a namorar”, relata.
A experiência a fez refletir sobre o que os homens têm a oferecer em termos emocionais e sexuais, e sobre a necessidade de se distanciar dos relacionamentos para se reconectar consigo mesma. Para Débora, o "detox" dos relacionamentos é uma forma de protesto. “A gente é criada em uma sociedade patriarcal e misógina, onde a mulher só é vista como completa se estiver com um homem. Quando percebi isso, decidi focar em mim”, conta.
Desde que decidiu parar de procurar por homens, a estudante explica que encontrou tempo e energia para focar nos estudos e dedicar-se ao pole dance, que se tornou uma atividade importante para sua autoestima e satisfação pessoal.
"Quando a questão da satisfação vem de outras coisas, como o pole dance, é algo que me traz uma enorme satisfação, especialmente quando vejo algum movimento que quero fazer e consigo executar. Essa satisfação é suprida em outras áreas, tanto no sentido hormonal quanto de bem-estar”, diz.
Já a diretora financeira Joanna Stippe Rodrigues, de 35 anos, vê o movimento "boy sober" com simpatia, mas admite que ainda sente a necessidade de se relacionar tanto com homens quanto com mulheres. Ela nunca passou mais de três meses sem se envolver sexualmente com um homem.
"Sou uma pessoa que gosta de se relacionar e estar envolvida com alguém. Já senti muito apego, sim, mas hoje minha tendência é me manter apenas no apego sexual", explica Joanna.
Para ela, o importante é que esse "celibato voluntário" tenha um propósito de cura e não sirva como uma forma de afastamento de novas experiências amorosas. Joanna acrescenta que, apesar de ter a intenção de se relacionar futuramente, deseja que seu bem-estar e autoestima não dependam de outra pessoa. "Quero que [minha autoestima] seja construída apenas em mim, embora saiba que é normal na vida humana se importar com o que o outro pensa e desejar aceitação e validação”.
Apesar de não conhecer o termo “boy sober”, a técnica de enfermagem Valéria Carla Eguides, de 33 anos, achou interessante a ideia de “tirar férias de homem”. Ela conta que já havia considerado essa ideia e chegou a passar um ano sem se relacionar com homens antes de conhecer seu último esposo e se casar. “Eu foquei no que queria e vi que funcionou para mim. Mas, quando temos uma companhia, acredito que é melhor, duas cabeças pensam melhor”.
Hoje, após perder o marido recentemente, Valéria explica que não está buscando novos relacionamentos e pretende focar novamente em si mesma. “Não estou procurando, mas se aparecer, apareceu”.
O que a Psicologia diz? - Para entender a tendência do "boy sober" sob a perspectiva psicológica, o Lado B conversou com a psicóloga clínica Cristiane Lang. Segundo ela, esse “detox” pode ser uma oportunidade de cura e reconexão para mulheres que vivenciaram relacionamentos frustrantes.
É um processo que envolve a cura de feridas emocionais e a restauração de um senso de identidade que pode ter sido abalado durante o relacionamento”, explica Cristiane.
De acordo com a psicóloga, a psicologia reconhece que o término de um relacionamento, especialmente um tóxico, desencadeia um processo de luto que exige tempo e autoconhecimento para ser superado. Ela esclarece que, durante esse período de "detox", as mulheres têm a oportunidade de se reconectar consigo mesmas e redescobrir quem são fora do contexto de um relacionamento.
Cristiane também ressalta a importância desse processo para os homens, que frequentemente enfrentam dificuldades em lidar com suas emoções e buscar apoio. O "detox" emocional permite que eles se reconectem com aspectos de si mesmos que foram negligenciados, resultando em um fortalecimento emocional a longo prazo.
Assim como os homens, as mulheres que optam pelo celibato voluntário encontram uma oportunidade de crescimento pessoal. A psicóloga explica que essa pausa nos relacionamentos proporciona uma chance para que as mulheres se reconectem com suas identidades e fortaleçam sua autoestima. Sem a pressão de atender às demandas emocionais de um parceiro, elas podem se dedicar a seus próprios interesses e objetivos.
“A ausência de novos vínculos românticos permite que as mulheres processem suas emoções de maneira mais completa, sem as distrações de um novo relacionamento. Isso favorece uma recuperação emocional mais profunda e evita padrões repetitivos de relações disfuncionais”, esclarece Cristiane.
A psicóloga também destaca que esse período pode melhorar a capacidade de escolha de parceiros futuros, tornando as mulheres mais conscientes de seus padrões emocionais e mais seletivas em suas relações. Além disso, o celibato pode fortalecer as redes de apoio social, já que as mulheres tendem a investir mais tempo em amizades e relacionamentos familiares.
“Esse processo de cura e reconexão consigo mesmas prepara as mulheres para futuros relacionamentos mais saudáveis ou até mesmo para continuarem sua jornada pessoal em paz e realização, independentemente de um parceiro”, conclui Cristiane.
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