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Comportamento

Família faz revezamento para curtir balada com Guilherme na cadeira de rodas

Thailla Torres | 11/04/2017 09:27
Guilherme no show do DJ Alok, super animado.
Guilherme no show do DJ Alok, super animado.

Noite de sexta-feira e Guilherme estava todo animado na Àrea Vip a espera do DJ Alok. Sentado numa cadeira de rodas, não é a deficiência que chama atenção, mas sim ver pai e filho se divertindo juntos na noite eletrônica. Emocionante pela sintonia nos olhos de cada um, a família se reveza para curtir a balada ao lado do filho com paralisia cerebral.

O pai, Robson Eustáquio Andrade, de 46 anos foi quem empurrou a cadeira de Guilherme Lemes Andrade, 15 anos, até a frente do palco. Naquela noite, a mãe estava cansada e Robson assumiu a parceria ao lado do filho. "É ela quem sempre acaba indo com ele, mas ela estava cansada e também não curte muito a música eletrônica", justifica o pai.

Família é unida e parceria nunca falta. (Foto: Arquivo Pessoal)
Família é unida e parceria nunca falta. (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar da dificuldade na locomoção, depois de chegar em uma área reservada, bem em frente ao palco, Guilherme dançou e curtiu como qualquer pessoa, mas com vista privilegiada. "Não é todo lugar que a gente consegue ir por conta da acessibilidade, mas onde ele vai chama atenção, pelo jeito que ele dança. Acho que as pessoas se emocionam por ver que nada impede ele de se divertir", acredita Robson. 

Guilherme nasceu de uma gestação saudável, mas recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral aos 4 meses de vida. "A pediatra percebeu que ele tinha um atraso, mas não comentou conosco. Quando ele teve um início de pneumonia e levamos em outro médico, foi feito um teste com uma toalha no rosto dele e o médico percebeu que ele não se mexia para tirar, o que era um atraso de desenvolvimento. Só que afetou apenas a coordenação motora, hoje ele tem o cognitivo normal", explica.

Desde então, a família começou uma maratona de consultas em busca de tratamento para o filho que já passou por três cirurgias nas pernas, além de uma série de terapias para fortalecer o corpo.

Aos 15 anos, Guilherme tem força para se levantar, mas perde o equilíbrio e por isso a cadeira de rodas é fundamental para sair e frequentar a escolaDentro de casa, é persistente com apoio da família e resolveu abrir mão da cadeira, que agora só fica só do lado de fora. Pelos cômodos, caminha se apoiando em móveis e paredes.

A escolha trouxe a Guilherme independência e tranquilidade ao coração dos pais. Principalmente, à mãe Emília Lemes da Silva, de 39 anos, que abriu mão da profissão de motorista durante 10 anos para cuidar do filho.

"Emília fez de tudo por ele. Enquanto eu trabalhava, ela ficou firme aqui dentro de casa. Foi ela quem começou a levar ele nas festas e se tornou a parceira. Hoje, nos divertindo juntos. E com isso também aprendemos que ele pode e precisa se virar sozinho", diz o pai.

Na rotina, Guilherme e a irmã Gabriele Lemes de Andrade, de 19 anos, vão juntos à escola pela manhã e à tarde fazem companhia um ao outro. "É bom, porque minha mãe voltou a trabalhar e ele aprendeu a fazer as coisas que tinha vontade como tomar banho sozinho, arrumar o lençol e preparar a comida", se orgulha a irmã.

Apesar do medo quanto as dificuldades do filho, Robson diz que os pais nunca quiseram esconder o mundo e a realidade de Guilherme. "Eu já achei que isso não daria certo. Mas quando ele começou a dançar na escola e vi a felicidade dele e dos amigos empurrando a cadeira, percebi que o preconceito estava na gente. Porque nada disso é uma limitação para ele. É claro que ele precisa de um cuidado especial, mas nunca escondemos ou deixamos de ter um rotina normal".

Na entrevista, Guilherme faz questão de explicar porque chama atenção de todo mundo. "Eu sou bem extrovertido. Quando tem uma festa, vou lá e socializo com todo mundo", diz. Sorridente, se preocupa mais com as outras pessoas do que com sua própria história. "Toda vez que eu chego em algum lugar, me perguntam se nasci assim ou foi um acidente, mas respondo numa boa".

E preconceito não tem significado para o estudante. "Nunca tive, meus amigos me zoam muito, mas eu levo na esportiva. Porque a verdade é que todo mundo se diverte empurrando minha cadeira", sorri Guilherme.

A irmã revela situações que ele trata com bom humor. "Ano passado, no meu aniversário, tinha umas amigas que beberam um pouquinho a mais e começaram a dançar com ele sem parar. De repente, alguém tropeçou e ele caiu da cadeira com todo mundo no chão. Mas ele continuou se divertindo e dando risada de tudo apesar da situação. Aqui é assim, ninguém deixa de sair, curtir um show, só por conta da condição dele", reforça a irmã.

Cheio de sonhos, Guilherme está no segundo ano do Ensino Médio, mas já pensa na faculdade e na ideia de trabalhar com programação de jogos. Já sobre as festas, ele aproveita para tentar levar os pais na próxima balada. "Eletrônico é legal, mas gosto mesmo é do funk. Quero muito ir em um baile", diz Guilherme.

O pai parece que vai topar e diz que ver o sorriso dos filhos não tem preço e nem cansaço que supere. "Eu e Emília sempre fomos parceiro dos dois. Ainda temos muitos sonhos para o Guilherme, mas nunca vamos deixar de se divertir com ele. E olha que eu tive que trabalhar cedo no outro dia do Alok, mas ver ele se divertindo foi emocionante e dá sentido a tudo que fazemos juntos", declara.

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Gabrielle, Robson e Guilherme. (Foto: Thailla Torres)
Gabrielle, Robson e Guilherme. (Foto: Thailla Torres)
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