Gente que deixa tudo para trás e agora vive em função da Igreja Católica
Jeniffer Fonseca da Silva, de 24 anos, é economista formada, mas nunca exerceu a profissão que exigiu dela quatro anos de dedicação e muito estudo dentro de uma faculdade.
No ano em que pegou o diploma, a garota resolveu atender a um “chamado vocacional” e, desde então, mora em uma comunidade católica em Campo Grande, junto com outros 10 jovens que decidiram, por vontade própria, seguir o mesmo caminho.
À época, recém-formada, nem o mestrado no Paraná, principal objetivo, a fez desistir do plano. Mas não se tratava de plano. Coisas assim não são planejadas. Surgem de forma inesperada e são inexplicáveis, como os mistérios de Deus, explicou. Quem dera se fosse uma escolha.
A decisão gerou a reação que já era esperada entre familiares e amigos. “Louca” foi uma das palavras mais ouvidas neste período. Mas a explicação nunca deixou de ser dada: “Foi um chamado de Deus. É uma coisa que ninguém entende”, repete ela, incansavelmente.
Jeniffer integra a Comunidade Católica de Vida e Aliança Irmãos de Assis, localizada no bairro Tiradentes, em Campo Grande. No local ela é a responsável pelo trabalho social da Alpa (Associação Lar do Pequeno Assis), entidade filantrópica que atende cerca de 150 crianças em situação de vulnerabilidade social.
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A profissão ficou para trás, mas a dedicação aos estudos continua. Pensando na atividade que desenvolve, ela agora está cursando o primeiro ano de assistência social. Não pretende voltar para casa.
Diferente da economista que ainda é postulante – período de formação no qual o membro se prepara para um compromisso definitivo, que é a consagração –, a responsável pela parte pedagógica do projeto desenvolvido na Alpa, Dayse Cristina Carvalho, de 23 anos, é consagrada.
Ela mora na Comunidade desde os 17 anos. Passou pelos quatro estágios: vocacionado (início, o processo de conhecimento), aspirantado (período de discernimento entre comunidade de vida ou aliança, e casamento ou celibato), postulantado e noviciado (aprofundamento na formação em vista da consagração, um compromisso definitivo).
Dayse optou pela Vida. Não imagina sua vida fora da comunidade. A jovem já fez os compromissos de pobreza, obediência e castidade. Vive da “providência”, do que Deus preparar, disse. Tem de obedecer aos preceitos bíblicos e a fé que profere e deve se manter casta até o casamento. “Não é abstinência sexual, mas a gente dever ser fiel ao esposo”, explicou.
A Comunidade de Vida e Aliança Irmãos de Assis faz parte de um movimento da Igreja Católica chamado Novas Comunidades, que é novo no Brasil. Tem cerca de 50 anos.
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Aos 42 anos, a recreadora Leodete Neri ainda não se decidiu se vai ser Vida ou Aliança. Por enquanto ela é aspirante. Vai descobrir qual é o chamado dela dentro de comunidade.
Independente disso, de uma coisa ela tem a certeza. A realidade mudou bastante e para melhor. Divorciada, mãe de três filhos e de uma família de evangélicos, Leodete afirma, sem medo de errar, que encontrou a verdadeira felicidade.
“Tenho uma alegria que não precisa de bebida e adereços falsos para ser feliz. Preciso de Jesus e mais nada”, disse.
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A título de esclarecimento: As personagens ouvidas nesta reportagem ressaltam que são felizes com as escolhas que fizeram e não foram obrigadas a nada.