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Comportamento

Há 10 anos, solidariedade é principal família deste grupo no Natal

Em Campo Grande, centro espírita leva marmitas e kits higiênicos para pessoas que vivem nas ruas

Por Jéssica Fernandes | 25/12/2023 08:23
Voluntárias preparam alimentos que serão doados como marmitex. (Foto: Marcos Maluf)
Voluntárias preparam alimentos que serão doados como marmitex. (Foto: Marcos Maluf)

A solidariedade e amor ao próximo marcam as vésperas de Natal de um grupo de voluntários em Campo Grande. No dia 24 de dezembro, eles passam metade da manhã cozinhando, preparando marmitas e montando kits de higiene que no dia seguinte são doados para pessoas que vivem em condição de rua.

Há mais de dez anos, eles se reúnem na Sociedade Espírita Pedro de Alcântara. O grupo é composto por voluntários antigos e recém-chegados. A cada ano que passa, alguém se dispõe a somar com os trabalhos e assim o projeto ‘Natal de Rua’ segue ajudando quem mais precisa.

O endereço no Bairro Planalto é o ponto de encontro dos voluntários que pertencem a diferentes centros espíritas de Campo Grande. É na Sociedade Espírita Pedro de Alcântara que dez deles se reuniram às 7h da manhã de domingo (23) para cortar alho, verduras e cozinhar.

Voluntários organizam kits de higiene com escova, sabonete e outros itens. (Foto: Marcos Maluf)
Voluntários organizam kits de higiene com escova, sabonete e outros itens. (Foto: Marcos Maluf)

O resultado dessa união serão trezentas marmitas com arroz, frango empanado, salada e macarronada francesa. Além da comida, as pessoas irão receber kits de higiene com escova de dente, pasta, sabonete, papel higiênico e, no caso das mulheres, absorventes. Para completar serão doados brinquedos e doces, como chocolates e pacotes de pipoca.

Apesar de ter uma década de história, o Natal solidário começou bem antes, quase no começo dos anos 2000. Luciano Sanches, de 46 anos, recorda como foram os primeiros anos da iniciativa que mudou de endereço, mas não perdeu a essência.

“Na Anália Franco esse grupo de pessoas tem uma proposta de trabalho na periferia, temos trabalhos semanais em vários pontos da cidade e no final de ano fazemos o Natal de rua. A ideia é lembrar de Jesus, dos ensinamentos dele. Tem aquela passagem que ele fala: ‘Tive fome e me destes de comer’, diz.

Luciano Sanches fala sobre o começo da ação solidária de Natal. (Foto: Marcos Maluf)
Luciano Sanches fala sobre o começo da ação solidária de Natal. (Foto: Marcos Maluf)

A fisioterapeuta Mayara Caramel Braga, de 31 anos, participa pela primeira vez da ação social. Enquanto a ajudava a picar o alho, ela falou sobre o motivo de querer ajudar com o ‘Natal de Rua’. “Eu gosto de contribuir, participar de ações de cunho social. Eu tô achando bem organizado, legal”, pontua.

Próximo a fisioterapeuta estava Felix Vera Filho, de  57 anos. Ele faz parte do time de voluntários que há muitos Natais não deixa de participar da ação. No dia 24 de dezembro, o servidor federal está ali ‘à frente das panelas’ fazendo tudo acontecer.

Nos últimos seis anos, Feliz não deixou de comparecer nem quando estava se recuperando de um infarto. O motivo da solidariedade, segundo ele, é para pôr em prática o exemplo de Jesus.

Felix Vera Filho diz que solidariedade é seguir exemplo de Jesus. (Foto: Marcos Maluf)
Felix Vera Filho diz que solidariedade é seguir exemplo de Jesus. (Foto: Marcos Maluf)

“É um ensinamento que Cristo deixou, de dar de comer a quem tem fome, dar de vestir a quem está nu. Quando você faz pela primeira vez você não para mais, é o amor ao próximo e tem tanta gente que necessita”, destaca.

Enquanto os colegas estavam envolvidos nos preparativos das marmitas, Severina Evileide, de 50 anos, montava em outra sala os kits de higiene. O marido dela, Cláudio do Carmo, que faleceu há dois anos, foi um dos que iniciou a campanha. “Era uma coisa que ele adorava fazer”, fala.

Após a partida de Cláudio, Severina deixou a função de arrecadação para a de montagem e distribuição. Nas ruas, durante as entregas, encontra muitas pessoas e histórias diferentes. São em lugares que refletem abandono e necessidade que a professora diz encontrar a solidariedade.

Severina Evileide conta que nas ruas encontra pessoas solidárias. (Foto: Marcos Maluf)
Severina Evileide conta que nas ruas encontra pessoas solidárias. (Foto: Marcos Maluf)
Severina segura alguns dos papeis higiênicos e pastas de dente. (Foto: Marcos Maluf)
Severina segura alguns dos papeis higiênicos e pastas de dente. (Foto: Marcos Maluf)

“Eles poderiam pegar até mais do que a gente tá doando, mas eles pegam exatamente o que vão consumir. Às vezes a gente fala ‘pega mais um’, mas eles falam ‘obrigada, deve ter outro na frente que vai precisar’. É uma fala muito comum”, revela.

A solidariedade, aliás, é incompreendida por alguns que questionam o movimento solidário. Quando alguém não entende o motivo de prestar ajuda, Severina explica.

“Ano passado alguém falou: ‘Por que vocês fazem isso todos anos se vocês não vão resolver o problema deles?’. Realmente não vamos, mas é uma ação que chama atenção dos governantes e uma forma também de expressar o amor, carinho de Jesus por cada um de nós”, pontua.

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