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Comportamento

Há 3 anos sem a filha, Suzani viu na corrida jeito de seguir adiante

Em 2020, professora começou a correr em volta de casa para superar o luto e ocupar a cabeça

Jéssica Fernandes | 11/07/2023 07:05
Suzani de Souza começou a correr após perder a filha de cinco anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Suzani de Souza começou a correr após perder a filha de cinco anos. (Foto: Arquivo pessoal)

“Meu mundo  caiu. Comecei a pensar em tudo que sempre procurei fazer para dar o melhor para ela, se realmente tinha sido válido”, comenta Suzani de Souza Pinheiro de Castro, 43 anos. No dia 8 de fevereiro de 2020, a professora perdeu a filha de cinco anos, que se afogou na piscina.

Diagnosticada com síndrome de down e west, Isadora é o tesouro maior pelo qual Suzani fez de tudo. Para sustentar a casa, já que o marido deixou o emprego para cuidar dos dois filhos, ela se dedicou ao centro de treinamento físico.

“Quando ela estava com 2 anos de idade eu consegui abrir o nosso espaço e era o meu sonho, porque queria dar o melhor para ela, o melhor plano de saúde. Ela precisava fazer acompanhamento com fono, fazer fisioterapia. Ela era atendida no Juliano Varela, mas ainda era pouco e ela precisava de algo a mais e eu trabalhei constantemente dia e noite”, fala.

Professora lidera grupo de corrida do centro de treinamento. (Foto: Arquivo pessoal)
Professora lidera grupo de corrida do centro de treinamento. (Foto: Arquivo pessoal)

Entre as coisas que a mãe fez questão de proporcionar estavam as aulas de natação. “As crianças down geralmente fazem aulas e minha filha era apaixonada por água. Durante esses cinco anos de vida dela surgiu a oportunidade de alugar uma casa com piscina. Tínhamos uma professora que ia atender minha filha. Fazia uma fisio com ela”, explica.

Dois meses antes da partida de Isadora, Suzani recorda um milagre que presenciou na saúde dela. “Ela começou a andar, Deus agiu milagre. Eu orava muito e ela era muito esforçada. Eu sentia que ela desejava aquilo, ela se esforçava em todos os movimentos que tentava fazer. Ela tinha uma força de vontade gigante”, ressalta.

Os exames que pediu na época para conseguir ver a recuperação da criança não chegaram a ser feitos. Dias antes da data marcada, Isadora não resistiu depois de se afogar na piscina. "Eu fiz os primeiros socorros da minha filha. [...] No posto três alunas minhas estavam de plantão. Uma equipe médica maravilhosa. Tenho certeza que tudo que poderiam ter feito para salvar minha filha fizeram. Ela teve três paradas. Na terceira não resistiu", recorda.

Em 2022, ela realizou meia maratona em homenagem a filha em Piraputanga. (Foto: Arquivo pessoal)
Em 2022, ela realizou meia maratona em homenagem a filha em Piraputanga. (Foto: Arquivo pessoal)

Três anos após o falecimento da segunda filha, ela vive um dia de cada vez dividindo a rotina entre a casa com o marido e o filho, de 13 anos, a empresa e a corrida. Correr foi uma das formas que Suzani encontrou para lidar com o luto da menina. O falecimento dela ocorreu um mês antes do início da pandemia.

No momento entre a mudança para a nova casa e a quarentena, a professora passou a praticar o exercício. “Eu comecei a correr em volta da minha casa, porque não podia ir pra rua, nada. Eu colocava um louvor e ficava dando voltas, orando e pedindo para Deus me restabelecer, me dá força para continuar. Foi um momento bem assustador para todo mundo e eu ainda recente tinha perdido a minha filha. Fiquei sem saber para onde ir, mas é nessas horas que Deus te mostra o caminho”, comenta.

Além da família, ela também encontrou conforto nos alunos que continuava acompanhando através de aulas online. “Tentando ajudar eles, Deus foi me ajudando. Eu mandava mensagem e eles sabendo o que eu estava passando, me abraçavam”, afirma.

Após a flexibilização da quarentena, Suzani seguiu correndo, mas dessa vez na companhia do marido. “Eu ia na Duque de Caxias com o meu esposo. Íamos correr lá para dar uma ajudada na nossa cabeça, porque a gente ainda estava tendo que engolir tudo aquilo, toda aquela dificuldade, a saudade. A gente estava aprendendo a viver novamente sem a nossa filha”, relata.

Em 2022, a professora decidiu fazer um percurso de 21 km em homenagem à Isadora. Ela comenta que o trajeto não foi nada fácil, pois em outra ocasião a filha tinha estado em Piraputanga. A cada passada, Suzani chorava e assim foi até a linha de chegada,

“A primeira trilha dela foi feita lá. Nós subimos o morro com ela, os três mirantes. O percurso da corrida era justamente subir o morro. Para mim foi muito difícil. Quando cheguei no primeiro mirante lembrei muito da minha filha. Parece que eu senti a presença dela ali naquele momento, mas eu terminei o percurso”, diz.

Apesar do momento delicado devido às memórias revividas durante a corrida, a professora afirma que aquele dia foi importante. “Aquele choro parecia que estava entalado em mim e eu precisava daquilo. Chorei muito, como uma criança no colo do seu pai. Foi assim que eu me senti e eu realizei esse percurso para ela, em homenagem a tudo que a minha filha significou na minha vida”, pontua.

Ainda no ano passado, Suzani assumiu o grupo de corrida do centro de treinamento que administra. Hoje, ela dá aula para noventa alunos que integram a equipe dessa atividade. Seja como professora ou corredora, ela segue com os treinos na expectativa de realizar uma grande maratona.

“Meu projeto para o ano que vem é participar de uma maratona. Se eu conseguir ainda, talvez esse ano. Uma maratona exige um cuidado a mais, um treino mais intenso, uma dedicação maior até com alimentação. Por enquanto fiz duas meias maratona que foi do ano passado da minha filha e no final do ano em Bonito”, conclui.

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