Há 40 anos, Renato Gaúcho estreava como jogador em Maracaju
No Grêmio, Renato jogou profissionalmente pela primeira vez contra o Comercial, na inauguração do estádio "Loucão" de Maracaju
No dia 14 de julho de 1980, um menino de 11 anos viaja eufórico de Maracaju para Campo Grande. Alexandre Fialho estava indo, junto do pai, Francisco Alves Fialho, receber a delegação do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, que desembarcava na capital do recém-criado Estado de Mato Grosso do Sul para uma inédita partida contra o time do Comercial, na cidade de Maracaju.
A partida amistosa, que seria realizada no dia seguinte, marcava a inauguração do Estádio Municipal Luiz Gonzaga Prata Braga ou o “Loucão”, como é conhecido. Tanto o nome quanto o apelido referem-se ao prefeito da época, que batizou o estádio com a própria graça.
Esse jogo é icônico por vários motivos, porém, o principal deles, é porque foi a primeira partida profissional de Renato Gaúcho, considerado por muitos o maior jogador da história do Grêmio, mas na época apenas uma jovem promessa de 17 anos.
O estádio foi mais uma das ideias megalomaníacas de Luiz Prata, o “Louco”, um desses típicos políticos folclóricos que povoam o imaginário popular Brasil afora. O slogan de sua administração em seu primeiro mandato de 1977 a 1982 foi “É tempo de loucura”. Quando se elegeu novamente, para o mandato 1989/1992, o slogan foi “A Loucura continua”.
Ainda vivo, com 82 anos, esse personagem a parte conta que o estádio foi uma promessa de campanha usada para angariar votos para um candidato a deputado estadual da cidade.
“Eu já era prefeito, mas brigava pra tentar eleger um amigo deputado estadual, então disse pra todo mundo que se votasse nele eu iria fazer um estádio de futebol”, lembra Luiz Prata que, como sabemos, cumpriu a promessa.
Gaúcho, assim como muitos maracajuenses, Prata é torcedor apaixonado do Internacional, maior rival do Grêmio. Ele pediu, então, para que o governador da época, Harry Amorim Costa, tentasse viabilizar um jogo do Colorado na inauguração do estádio.
“Harry era gaúcho também e amava futebol. Sabia como um jogo de um time do Rio Grande do Sul seria importante para uma cidade que é quase uma colônia gaúcha. Acontece que ele não tinha tanto contato com o Inter, mas tinha muita influência no Grêmio, seu time do coração e do qual era conselheiro. Ele então me ofereceu o Grêmio, e eu aceitei é claro (risos)”, explica Prata.
No caminho inverso de Campo Grande para Maracaju, o menino Alexandre tirava foto de tudo. Seu pai tinha grande influência política e ajudou na logística da viagem da delegação gremista. Por isso ele teve acesso privilegiado e, inclusive, voltou no mesmo ônibus dos jogadores. Desse dia nasceu mais uma das histórias de Alexandre, hoje um conhecido contador de causos de Maracaju.
“Eu vim ao lado do volante China, viemos conversando e eu prometi que lhe daria as fotos que tirei. Infelizmente o filme queimou e eu perdi tudo. Dois anos depois desse jogo, o Grêmio voltou a MS para um jogo em Campo Grande e o China ainda era jogador do Grêmio. Meu pai, obviamente, iria assistir e me chamou. Disse que não iria porque o China deveria estar bravo comigo por conta das fotos que não mandei. Meu pai riu, achou uma besteira, e me convenceu a ir. Fomos ao hotel onde eles estavam e primeira coisa que China disse quando me viu foi “Cadê minhas fotos guri?”(risos)”.
Na noite anterior à partida, uma saia justa. Fazia muito frio em Maracaju e o hotel onde a delegação do Grêmio se hospedou era novo e com estrutura deficitária. Não havia cobertor para todo mundo, foi então que Luiz Prata e Francisco, pai de Alexandre, correram pela cidade pegando cobertor de moradores.
“Foi um Deus no acuda porque não imaginávamos que ficaria tão frio. Percorremos a casa de vários conhecidos pegando cobertores. Rapidamente conseguimos e o problema se resolveu”, recorda Francisco.
Dia de jogo, o estádio estava lotado mesmo tendo uma capacidade maior que a própria população do município. Eram 15 mil lugares, sendo que Maracaju registrava na época cerca de 10 mil habitantes. Claro que muita gente de fora foi assistir ao jogo. “Colocaram cadeira até na beira do gramado”, conta Alexandre.
Da arquibancada lotada, o hoje professor Cecílio de Souza, de 60 anos, viu Comercial, que jogava a Série B, vencer o então bicampeão gaúcho por 1 a 0. “Apesar do Comercial ser daqui, a maioria das pessoas torceu pro Grêmio”.
Sobre a atuação de Renato Gaúcho, lembra que foi discreta. “Ninguém falava muito o nome ele e durante o jogo também não chamou muito a atenção”.
Cecílio jogou durante 10 anos na seleção de Maracaju e participou de uma espécie de pré-inaugurarão do estádio realizada um mês antes numa partida contra os veteranos do Santos, coincidentemente, seu time do coração. “Foi um período de muitas realizações”.
Voltando a Alexandre, hoje ele está com 51 anos e ganha a vida como comerciante. A experiência foi completa; viu no vestiário a preleção do treinador Valdir Espinoza; entrou em campo com aquele time que tinha outros grandes jogadores, como Paulo Isidoro e Baltazar, o capitão, e com quem Alexandre tem uma foto. Ele também aparece no retrato oficial do Grêmio, junto do prefeito Prata.
“Foi um dia inesquecível, tudo foi mágico, até hoje me lembro dos detalhes, da sensação de estar perto de tantos ídolos”.
Renato saiu de Maracaju rumo a uma carreira de sucesso inigualável no Tricolor Gaúcho, conquistando, entre outros títulos, uma Copa Libertadores e Intercontinental como jogador e uma Copa do Brasil e outra Libertadores, agora como técnico, cargo em que permanece desde 2016.
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