ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

Idosos entram na onda do TikTok graças a equipe de "novidadeiros"

Casa de repouso da Capital inova nas atividades ao convidar residentes a participarem de vídeos engraçados

Raul Delvizio | 26/04/2021 06:18
Equipe de cuidadores de idosos faz dancinha ao lado dos pacientes (Foto: Reprodução/TikTok)
Equipe de cuidadores de idosos faz dancinha ao lado dos pacientes (Foto: Reprodução/TikTok)

A mesma pandemia que isolou um grupo de 18 idosos de uma casa de repouso em Campo Grande também trouxe à eles boas novidades. Sem receberem as costumeiras visitas presenciais dos familiares – com medo de que seus entes queridos e outros residentes possam se contaminar com o vírus –, coube a tecnologia dar uma ajudinha.

Mas isso não só ficou na troca de fotos e chamadas via WhatsApp, não. Por lá, brincar de fazer vídeos para a rede social TikTok virou sinônimo de que espantar o tédio não tem idade.

Veja abaixo:

"Em nosso dia a dia já trabalhamos com músicas e atividades em grupos, mas as dancinhas do TikTok deixaram nossos pacientes bem mais animados, com vontade de entrar na brincadeira também. Eles agora são apaixonados por esse tipo de atividade. Observei que até minha equipe ficou mais leve com o sucesso da investida", afirma Laurigia Dantas, 34 anos, enfermeira responsável técnica da Angeluz Hotel Residência para Idosos.

Em vídeo, Carlos brinca de acompanhar o ritmo do sertanejo em dancinha "autoral" (Foto: Reprodução/TikTok)
Em vídeo, Carlos brinca de acompanhar o ritmo do sertanejo em dancinha "autoral" (Foto: Reprodução/TikTok)

"Eu nunca tinha ouvido falar em rede social, muito menos em TikTok!", brinca Carlos Alberto, antiquário e marchand de arte que mesmo não revelando sua idade já diz muito sobre qual geração pertence.

"Idade para mim é questão de temperamento. Que mané 'terceira idade', isso é um absurdo! Tenho colegas aqui que estão com 90, 100 anos, e duvidar já passaram há muito tempo foi da 'quinta idade'. Eu não consigo associar minha vida ao tempo em si, a idade, mas como eu me sinto aqui e agora. E claro que as experiências vividas, os caminhos percorridos, a maturidade adquirida também fazem parte desse pacote", opina o residente do Angeluz.

Assim como outros moradores, Carlos já está há algum tempo sem ver sua família. Na casa, alguns pacientes recebem visitas literalmente atrás das grades, não entrando na instituição, mas mantendo a distância necessária por trás do gradil.

E é aí que entra o TikTok na jogada, porque é justo uma forma de diversão compartilhada que veio a calhar tanto para os idosos, quanto a equipe de cuidadores e também os familiares que prezam pelos seus "velhinhos". "Achei muito engraçado! A primeira vez que brinquei, foi divertido demais da conta. Cada coisa que a gente faz aqui é para nos alegrarmos um pouco. Se por um lado tem toda a situação da pandemia, por outro sempre vislumbramos um amanhã melhor", diz Carlos, que não cansa de fazer suas dancinhas para a redes social de vídeos curtíssimos.

Ideia do TikTok veio de Laurigia, a enfermeira técnica responsável da casa apaixonada pelo que faz (Foto: Arquivo Pessoal)
Ideia do TikTok veio de Laurigia, a enfermeira técnica responsável da casa apaixonada pelo que faz (Foto: Arquivo Pessoal)

A ideia de utilizar o TikTok veio da própria Laurigia. "No início da pandemia, incluímos as ligações por vídeo para que os nossos moradores tivessem contato com seus familiares. Assim eles se atualizavam um pouco mais, e até já foram ficando antenados com relação ao uso da tecnologia. Por aqui, temos pacientes que possuem celular próprio, que tem WhatsApp e assim conseguem estar próximos da família", detalha. Para a rede social, foi um pulo.

"Todos gostam de muita música e dança. Além disso, os residentes participam das atividades de pintura, massinha, jogo de dominó, cuidam do nosso jardim de flores que eles mesmo plantaram… e agora os vídeos do TikTok!", acrescenta a enfermeira.

Para os idosos que ainda recebem visitas presenciais, elas só acontecem atrás das grades – literalmente (Foto: Arquivo Pessoal)
Para os idosos que ainda recebem visitas presenciais, elas só acontecem atrás das grades – literalmente (Foto: Arquivo Pessoal)

Há 1 ano, após levar um tombo feio em casa, Carlos quebrou o fêmur. Ficou 3 meses na UTI (unidade de terapia intensiva). Sem conseguir andar, foi para na Angeluz, onde se encontra agora há 8 meses. "Não tenho o que reclamar porque aqui eu continuo sendo bem cuidado, e até encontrei novas pessoas, amigos, para ter companhia. É muito bom", agradece.

"Claro que nesses últimos tempos os sentimentos são compartilhados, porque é triste ver as pessoas perdendo a vida assim, por tão pouco. Ao mesmo tempo que nosso país está completamente à deriva, somos nós brasileiros que temos ajudado uns aos outros – e isso é bonito de ver. É como eu me sinto aqui na Angeluz, sendo ajudado. Isso significa que o ser humano é imenso, tem muito amor e esperança para compartilhar. Eu gosto muito de guardar essa alegria no peito. Isso traz um alento danado", exprime.

Laurigia tira selfie com seus "meninos", como chamada carinhosamente o time masculino na casa (Foto: Arquivo Pessoal)
Laurigia tira selfie com seus "meninos", como chamada carinhosamente o time masculino na casa (Foto: Arquivo Pessoal)

Os vídeos do TikTok são postados nos perfis pessoais das enfermeiras mas também nos Stories do perfil da casa de repouso no Instagram. "Também temos grupos no WhatsApp com a família de cada cliente. Com isso, atualizamos eles todos os dias. Mandamos fotos, vídeos, um resuminhos de como o paciente se encontra. E os TikToks. As famílias adoram acompanhar e se divertem juntos", comenta.

Para ela, assim como a equipe de 12 funcionários do hotel residência para idosos, a pandemia trouxe uma pitadinha de criatividade. "E nisso nosso amor por cada idoso aumentou muito mais. Fica até a sensação que são nossos filhos 'grandes'. Em 10 anos trabalhando com isso, vejo como é importante dar qualidade de vida nessa etapa final da vida. Eles nos ensinam muita coisa e vice-versa. Afinal, o idoso é um adulto que foi bem sucedido na arte de sobreviver", finaliza Laurigia.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias