Irmãos guardam o 1º e o último carro do avô, para não deixar história morrer
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Três irmãos e uma Ximbica de 1929 que já passou por três gerações da família Almeida. O carro é mais do que uma relíquia estacionada na varanda de casa. O veículo carrega histórias pra lá de inusitadas e um sentimento de carinho, admiração e fé no coração dos três irmãos que cuidam do veículo com o objetivo de preservar as conquistas do avô, Joaquim Guilherme de Almeida Neto, que morreu em 1989.
Atualmente a Ximbica pertence aos netos Vanderlei e Flavia e o bisneto Joaquim. "Esse foi o primeiro carro do meu avô e do meu pai. Ele representa as conquistas do nosso avô que tem um significado muito maior para gente", explica Vanderlei.
O veículo Ximbica da Ford de 1929 foi comprado pelo avô Joaquim em 1960, após ele ter passado um período muito difícil quando pediu para ser dispensado do Exército. "Naquela época, o meu avô foi dito como comunista e foi dispensado do Exército, ficou sem emprego, moradia e com pouco dinheiro", conta.
A Ximbica foi a primeira compra importante depois da decepção. Depois, começou a trabalhar viajando pela região do Mato Grosso. "Naquele tempo era muito difícil, mas ele começou a usar o carro para fazer as viagens", diz o neto.
Já naquela época, o veículo se tornou o símbolo da família, garantindo que o bem jamais seria desfeito e que passaria de geração a geração. "Com o tempo, meu avô teve outros carros. Teve rural e várias Brasílias. Mas Ximbica sempre permaneceu entre a gente", diz Vanderlei.
O carro que existe há mais de 85 anos carrega inúmeras histórias.
Em 1970, o pai deles participou da Corrida de Ximbicas no centro de Campo Grande. Também passou uma temporada em Corguinho com um primo de Vanderlei, quando serviu para o transporte de noivas e até de um caixão para o cemitério.
Com o passar dos anos, o veículo foi sofrendo com os desgastes do tempo e ao retornar para Campo Grande, precisou ser reformado e hoje permanece na garagem a espera do irmão Joaquim. "Levou 10 anos para fazer a reforma e quem mais se empenhou foi o meu irmão Joaquim, e por isso estamos esperando ele dar uma volta primeiro", conta.
Mas não foi só a Ximbica que a lembrança guardou. Do primeiro ao último carro, hoje os irmãos preservam três veículos como recordação. O último carro do avô foi um Cheve 500 de 1985, azul celeste, e o do pai foi um Opala Comodoro, de 1990, preservado com toda originalidade.
Os dois permanecem estacionados na mesma garagem e o neto garante que jamais serão vendidos. "Cuidar e preservar é uma forma que a gente consegue de passar algumas coisas para a geração que está chegando. Se desfazer é fácil e muitos perguntam por que a gente não vende. Mas se a gente vender, nunca mais vamos ter a história e a satisfação de lembrar da conquista do nosso avô".
Hoje, os mais novos se encantam com carros e toda vez que aparecem na casa da avó, querem entrar e admirar, principalmente, o Ximbica. "Tenho dois sobrinhos, são pequenos, mas eles já sabem da história que está sendo preservada", comenta Vanderlei.
Maria Honória de Almeida, de 67 anos, mãe dos três filhos que preservam a história da família, lembra das aventuras que passou nos tempos de Ximbica. "A gente viajava, e quando o carro estragava na estrada, meu marido e meu sogro tinham que se virar para arrumar. Lembro também que Vanderlei só dormia quando a gente levava perto do carro, quando era pequenininho". Pra ver como o amor é antigo.