Judocas cegos tiveram casamento emocionante com audiodescrição
Érika e Emanuel se conheceram em meios aos treinos e, agora, se uniram pelas palavras do pai do noivo
Sem essa história de amor instantâneo, os judocas Érika Cheres Zoaga e Emanuel Benites Velasquez construíram uma relação pouco a pouco até chegar ao sonho de ambos: se casar em uma cerimônia liderada pelo pai do noivo. E, quando o dia foi definido, os dois, judocas cegos, sabiam que ninguém poderia se sentir de fora. Foi assim que, através da audiodescrição, a emoção foi realmente compartilhada.
“Sempre brinco que ela estava andando, tropeçou e caiu em mim, mas a verdade é que foi mais difícil do que isso. Precisei correr até conquistar a Érika”, garante Emanuel, que estava vestido com seu terno cinza, camisa e gravata brancos. Ao lado, a atleta paraolímpica que foi prata em Paris 2024, com seu vestido branco longo e tiara da mesma cor, seguiu rindo.
Isso porque, durante a cerimônia, em seus votos impressos em braille, ela havia narrado que o marido realmente se empenhou na conquista. E, no fim das contas, como Érika diz, entendeu que Emanuel era o amor para a sua vida.
Com tanta história, apesar de já morarem sob o mesmo teto, o casal queria celebrar a união sob as leis cristãs. Então, quando o momento chegou, contrataram a cerimonialista Roseanne Nantes para celebrar a data. Além dela, a equipe de audiodescrição entrou nos pedidos essenciais: Leia Ferreira Rodrigues, que é consultora na área e uma pessoa com baixa visão, além da profissional Candida Abes.
O evento, inicialmente, seria realizado ao ar livre, mas foi remanejado para um salão de festas devido ao clima. Ali, a decoração foi composta por flores brancas dispostas em pequenos arranjos em caixotes dispostos de ambos os lados do caminho traçado até o altar.
As flores também se tornaram uma espécie de moldura em volta dos noivos em frente ao altar, uma pequena mesa de madeira.
Enquanto esperava pelo início da cerimônia, Emanuel contou que a união com Érika aconteceu graças ao judô. “Nós nos conhecemos pelos campeonatos, treinando juntos. Começamos com uma amizade e um tempo depois ficamos juntos”.
Repetindo o que havia compartilhado em seus votos, Érika contou que não foi muito com a cara de Emanuel no início, mas que o judoca investiu tempo e dedicação para mudar a história. “Ele, com seu jeito tranquilo e de um homem que sabe o que quer, me conquistou”, brinca.
Acessibilidade necessária
Além de se preocupar com detalhes gerais do casamento, Érika explica que contratar uma equipe de audiodescrição era uma necessidade. Como os dois são cegos, sabem como é sair de casa para uma série de eventos sem se sentir parte do que está acontecendo.
Tanto que Emanuel narra como já deixou, e deixa de ir, a vários locais justamente pela falta de acessibilidade. A judoca já havia escutado falar sobre a possibilidade, então quando chegou seu momento de realizar o sonho, não quis sentir que nenhum amigo ficaria de fora.
“A gente fica perdido em muitas situações, então quisemos trazer isso para os nossos colegas que não enxergam. Depois, queremos publicar alguns trechos ou até o casamento na íntegra para quem não enxerga acompanhar e também para quem enxerga ter ideia de como é”, detalha o noivo.
No comando da audiodescrição, Candida Abes e Leia Ferreira Rodrigues explicam que há uma preparação específica para eventos como casamentos. Amiga da noiva, Leia tem baixa visão e atua verificando se a descrição de Candida está sendo realmente útil e válida.
Antes do casamento, é elaborado uma espécie de roteiro pela equipe a partir do informado pelo cerimonial. Nele, há descrição do espaço, decoração, das pessoas que irão integrar o casamento e do que irá ocorrer em tempo real.
Ao chegar no local do evento, tudo é verificado e, antes da cerimônia ter início, a descrição já começa a ser feita. Os convidados de Érika e Emanuel receberam fones e, a partir deles, acompanharam toda a união.
Graças à acessibilidade necessária, entenderam que o pai de Emanuel, Feliciano, foi o pastor responsável pela união, escutaram os detalhes sobre as roupas dos noivos e sobre a decoração. E, é claro, ouviram o casamento pela voz do ministrante.
Emocionados ao fim da celebração, os noivos reforçaram a necessidade da acessibilidade tanto nos eventos quanto no cotidiano em geral. Se não fosse esse direito adquirido, os dois não estariam no judô, por exemplo, Érika não integraria a equipe da seleção brasileira e, talvez, não tivesse conhecido seu grande amor, Emanuel.
Confira a galeria de imagens:
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