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Comportamento

Luis virou artista de rua e cruzou países tocando ‘1001’ instrumentos

Após cruzar a América Latina tocando, ele voltou para cidade onde dá aulas de música em casa

Por Jéssica Fernandes | 16/01/2024 07:37
Viajando, Luis Henrique aprendeu a tocar vários instrumentos. (Foto: Marcos Maluf)
Viajando, Luis Henrique aprendeu a tocar vários instrumentos. (Foto: Marcos Maluf)

É entre os instrumentos musicais que Luis Henrique Bleyer Ferreira, de 33 anos, se sente à vontade. O homem que sabe tocar ‘1001 instrumentos’ aprendeu a maioria deles durante as viagens pelos países da América Latina. Por anos, o paranaense viveu um estilo de vida nômade tocando para ‘levantar moeda’ e passando o chapéu entre paraguaios, chilenos, colombianos e por aí vai.

Há quatro anos, Luis vive uma vida mais tranquila com endereço fixo no Bairro Planalto. Os tempos de andarilho ficaram no passado, porém os de músico seguem firmes. Em casa, ele criou a ‘Escola de Música Histórias do Planeta’ onde dá aulas de musicalização para crianças, aulas de violão para iniciantes e intermediários e percussão geral.

O ex-viajante também fundou o grupo de percussão ‘Na Palma da Mão’ com o amigo Felipe da Cunha, onde seguem o estilo ‘Afro campo-grandense’. Para completar, ele é um dos integrantes da ‘Banda Para a Namoradinha do Menino Abel’ em Campo Grande.

Luis conta motivo que o fez mudar de vida e sair da casa dos pais. (Foto: Marcos Maluf)
Luis conta motivo que o fez mudar de vida e sair da casa dos pais. (Foto: Marcos Maluf)

A história de Luis com a música não começou em casa, na verdade foi o contrário. Ele morava em Dourados com a família onde estudava Engenharia de Produção e dedicava tempo ao jiu-jitsu e MMA. O envolvimento com a luta fazia com ele dedicasse parte do tempo ministrando palestras sobre o esporte.

Uma desilusão amorosa fez com que ele quisesse buscar um novo sentido e assim surgiu a música. “Comecei a buscar uma coisa nova que foi a música e minha família não conseguiu assimilar isso, não conseguiu entender e me mandou embora de casa”, diz. Antes de ser expulso, a intenção dele era estudar para conseguir fazer uma faculdade na área, só que o plano não foi em frente.

Em 2010, já em Campo Grande, o músico dormia na Praça do Rádio. “Realmente já tinha passado na casa de todos os amigos, dormido de favor na casa até de não amigos, já tinha comido de graça em todos os restaurantes que permitiram”, recorda. Aos 19 anos, o trabalho dele era fazer percussão numa banda que tocava uma vez por semana no antigo Lendas Pub.

Veja o vídeo:

Com os R$ 200 que ganhava, Luis não conseguia sequer alugar um quarto e foi na rua que fez amizade com os colombianos que teriam papel importante para o início da jornada como viajante. Com os três novos amigos (Alejandro, Davi, Sebastian), ele fala que começou a cantar em ônibus.

“Esses colombianos chegaram, ensinei algumas músicas, eles me ensinaram e fizemos um pequeno repertório. Tocamos o dia inteiro nos ônibus. Deu noventa reais no final do dia para cada um, era metade do que ganhava no sábado e falei: ‘Posso continuar tocando com vocês?’”, recorda.

Ao invés da rua, ele começou a dormir na Casa dos Artistas próximo à Praça das Araras onde ficavam os viajantes colombianos. “Ficamos ali um tempo e começamos a viajar. Fomos para Dourados onde tinha a Casa dos Ventos. Ali foi um lugar onde conheci muitos dos amigos que tenho hoje”, explica.

Par de flautas estão entre os intrumentos que ele guarda em casa. (Foto: Marcos Maluf)
Par de flautas estão entre os intrumentos que ele guarda em casa. (Foto: Marcos Maluf)

De Dourados, o grupo seguiu para o Paraguai onde eram bem recebidos pelo público que andava de ônibus e micro-ônibus. “Foi aí que comecei a fazer a faculdade de tocar em busão. Os caras chamando, a gente subia, tocava e eles ficavam com a moedinha na mão para colocar no chapéu”, conta.

No retorno, Luis, o amigo Sebastian e a amiga Fabis criaram o ‘Flor de Liz’ e passaram a rodar por diversos municípios de Mato Grosso do Sul. Neste período, Luis conseguiu conhecer o Estado de outra forma como nunca tinha feito antes.

Por causa de um instrumento, ele voltou a colocar os pés na estrada para além das fronteiras do Brasil. “O Davi me motivou a viajar porque ele tocava cúmbia e pra mim era muito diferente. A linguagem dele é muito improvisada e o ritmo acontece. Ele me ensinou umas coisas e foi assim que saí pra Colômbia”, explica.

Felipe e Luis tocam juntos em grupo de percussão da cidade. (Foto: Marcos Maluf)
Felipe e Luis tocam juntos em grupo de percussão da cidade. (Foto: Marcos Maluf)

Levou quase dois anos para que o viajante chegasse ao destino final. A pé, de ônibus, carro, carona e do jeito que dava, Luis e o amigo Davi viajavam passando primeiro por Corumbá, Bolívia e os demais países na sequência, como Venezuela, Chile, Uruguai e Peru.

No caminho, eles tocavam para conseguir recursos e atravessar a América Latina. Apesar das dificuldades, Luis garante ter sido bem recebido especialmente na Bolívia. “Nossos vizinhos são muito abertos à arte de rua”, afirma.

Durante a conversa são vários os destinos, praias, montanhas e ruas que o ex-viajante cita. Para cada lugar, ele tem um instrumento que é dito no espanhol que aprendeu a falar com os amigos e durante os anos de estrada nas costas. Aliás, era basicamente nas costas, junto com a mochila, que Luis carregava os instrumentos.

Como artista de rua e viajante, Luis não só ficava cada vez mais distante do Brasil, mas também do jovem de 19 anos que estudou engenharia e praticava artes marciais. As andanças pela América Latina, segundo ele, proporcionaram vasto enriquecimento musical. "Dentro dessa viagem foi uma pesquisa musical que foi crescendo e me ensinando. Eu fui até a Colômbia para aprender percussão com o Davi apesar de ter ido tocando violão", destaca.

Além da música se virou aprendendo o artesanato que era vendido aonde quer que chegasse. Depois de tanto tempo fora do Brasil, ele voltou em 2018 quando começou a viajar por diversas regiões. "Fui pra Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, continuei por aí. Tinha lugares que conhecia e outros que não", explica.

A pandemia fez Luis parar com a rotina de tocar e passar o chapéu. Ele voltou para a casa da família e durante o período da quarentena ficou no interior até regressar à Capital. Em Campo Grande, ele aprendeu a fazer facas, sendo a cutelaria mais uma habilidade do currículo.

Nessa nova fase, o músico deu um tempo do trabalho nas ruas e nos ônibus. A rotina de 'passar o chapéu' ficou de lado e hoje só de vez em quando Luis toca em algum ônibus público. Às quintas, ele toca na loja Maktub Reggae Shop e nos demais dias divide o tempo entre o grupo de percussão 'Na palma da mão', as aulas da escola e os consertos de instrumentos.

Graças as viagens, o ex-artista de rua sabe tocar alguns dos seguintes instrumentos: violão, congas, atabaques, timbal, djembê, surdos, flautas andinas, guitarra, contra baixo, viola caipira e carron.

Quem quiser acompanhar o trabalho, o perfil no Instagram é @luis__ragnar

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