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Comportamento

Luta de escolinha é manter treino de futebol que afasta criançada da rua

Sem estrutura adequada, projeto funciona há dois anos e atende mais de 30 meninos de 9 a 15 anos

Jéssica Fernandes | 02/07/2023 07:40
Escolinha de Futebol Indígena Kali Sini atende crianças de duas comunidades no Jardim Noroeste. (Foto: Juliano Almeida)
Escolinha de Futebol Indígena Kali Sini atende crianças de duas comunidades no Jardim Noroeste. (Foto: Juliano Almeida)

Aos sábados e domingos a garotada do Bairro Jardim Noroeste acorda cedo para participar dos treinos da Escolinha de Futebol Indígena Kali Sini. O projeto começou há dois anos através da iniciativa de integrantes da comunidade indígena Darcy Ribeiro, que queriam ver as crianças brincando e longe do álcool, drogas e outras problemáticas.

Realizado no campo de terra cedido por uma igreja, os treinos tiveram início com cinco garotos menores de 11 anos. Dois anos depois, a escolinha atende 38 meninos entre 9 a 15 anos que pertencem às comunidades Darcy Ribeiro e Estrela da Manhã, sendo ambas de etnia terena.

O time de atletas ou ‘oncinhas’, que é o significado da palavra ‘kali sini’, cresceu graças ao esforço dos seis coordenadores. Sem apoio ou patrocínio, Jackson Balbino Antônio, Clenivaldo Candelário, Vitor Neves e Matheus Antônio fazem o que podem para manter a escolinha.

Em campo de terra, meninos treinam com bolas remendadas. (Foto: Juliano Almeida)
Em campo de terra, meninos treinam com bolas remendadas. (Foto: Juliano Almeida)

A maioria das chuteiras usadas pelas crianças veio através de doações, assim como os coletes laranja. Alguns dos pares são revezados pelos meninos, que acordam cedo para participar das aulas realizadas das 8h às 11h.

A iniciativa foi idealizada por Matheus Ribeiro que queria manter as crianças ocupadas. “Eu nunca fui de ingerir bebida, usar droga e estava vendo que as crianças novas estavam tendo acesso fácil. Eu pensei em fazer a escolinha para ocupar a cabeça dos meninos porque senão a comunidade não iria ter futuro”, afirma.

Para fazer a escolinha acontecer, ele procurou apoio e não demorou para as crianças ficarem animadas com a ideia.  “Eu tive a ideia faz tempo, mas quem concretizou foi o Jackson. Começou como uma brincadeira, um torneio pros meninos brincarem valendo refrigerante. No outro dia, os meninos já estavam na porta dele de novo. A partir disso começou nossa escolinha”, conta.

Técnico do time, Jackson fala sobre os materiais que escola precisa. (Foto: Juliano Almeida)
Técnico do time, Jackson fala sobre os materiais que escola precisa. (Foto: Juliano Almeida)

O técnico Jackson fala sobre algumas das dificuldades enfrentadas no projeto social. “As bolas que ganhamos furam rápido porque aqui não tem um campo adequado. Nós estamos na área do pastor porque ele cedeu para gente. Estamos aí na luta. A gente precisa de doador, porque precisa de cone e disco para o treino funcional”, diz.

Além da falta de material, desde cones a proteção de tela, a ausência de iluminação no campinho impede que os treinos sejam realizados durante a semana. Segundo Clenivaldo, a diretoria do time já procurou ajuda. "Nós fizemos o pedido e o pessoal da Prefeitura veio, tirou foto e nada foi resolvido. Já faz um mês. Isso é uma necessidade da comunidade", afirma.

A falta de estatura é um problema para a escolinha que conta com jogadores comprometidos e animados para treinar. Se pudessem, os meninos iriam jogar todos os dias. É o que relata Jackson. “Eles gostam, pedem, buscam mais e perguntam porque não faz no dia de semana. Eles não querem que parem”, pontua.

Escolinha é composta por jogadores entre 9 a 15 anos.  (Foto: Juliano Almeida)
Escolinha é composta por jogadores entre 9 a 15 anos. (Foto: Juliano Almeida)

O treino é acompanhado de perto pelas mães de alguns dos meninos. Depois de muita insistência do filho, Juliete Bazan começou a levar Gabriel para treinar. “Meu filho ficou sabendo, ele viu e eu não deixava vir jogar bola porque ficava com medo. Ele está animado, ele acorda bem cedo”, relata.

Suelen Nunes Rondon também vê o trabalho da escolinha com bons olhos. “Esse projeto é muito bom. Meu filho sempre quis treinar, falava: ‘Mãe, eu quero ser jogador’. Mas aí tinha que pagar e só tinha no Tiradentes. Meu esposo que descobriu aqui”, comenta.

Há dois anos, projeto começou com poucos meninos da comunidade. (Foto: Arquivo pessoal)
Há dois anos, projeto começou com poucos meninos da comunidade. (Foto: Arquivo pessoal)

O atacante lateral Juan Gonçalves, de 11 anos, é um dos atletas da escolinha. Ele explica começo começou a treinar e que durante a semana faz o aquecimento em casa. "“Eu já tinha treinado em outra escolinha e me chamaram pra treinar aqui. Eu larguei a outra porque não tinha torneio e ninguém tocava a bola pra mim. Aqui sempre tocam a bola. Toda segunda-feira a sexta eu faço em casa o mesmo aquecimento”, fala.

Nos dias 22 e 23, a Escolinha de Futebol Indígena Kali Sini realiza o torneio com as crianças, a partir das 9h, na Rua Era Atômica, 30.

Quem quiser ajudar o projeto, o perfil no Instagram é @kali_sini01. Uma das principais demandas do time são as chuteiras para os meninos, que calçam de 30 a 38.

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