Mãe batiza os filhos e se assusta ao descobrir intolerância nas redes sociais
Aos 11 anos de idade, Alinny sentiu pela primeira vez a mediunidade aflorar. Na adolescência encontrou consolo e algumas explicações no espiritismo kardecista, nos centros que frequentava em Campo Grande e Paranaíba, onde fez psicologia. Mesmo assim, nunca se encontrou. Sentia que faltava algo. Foi só em 2014 que descobriu as respostas na Umbanda. Convertida ao lado do marido, ela decidiu batizar os filhos na fé que escolheu. Mas ao contar o momento especial da família no Facebook, o que recebeu foi intolerância.
O caminho religioso que percorreu até os 29 anos deu a Alinny a certeza de que deveria batizar os filhos na sua crença. Ao lado do marido, Galdino Afonso Vilela, ela participou de uma cerimônia simples, em que as crianças vestidas de branco e com flores na cabeça receberam a benção para seguir nessa vida. Porém, a fé que não é a da maioria incomodou amigos e familiares, que a condenaram.
“No primeiro momento eu senti raiva. Depois eu fiquei feliz pelas pessoas que me defenderam. Que podem não entender, mas que respeitaram a minha escolha e a do meu marido”, afirma Alinny Karen Bachi Rehbein Vilela.
Na postagem, há quem peça perdão pelos anjinhos, que estariam pagando pela ignorância dos pais.
As crianças, Ana Valentina, 3 anos e João Gabriel, de 1 ano e 3 meses, segundo Alinny, adoram frequentar as cerimônias de Umbanda. A pequena, inclusive, costuma dormir ao som dos cantos. “Eu tinha preconceito também porque a minha formação é católica, meu pai é luterano e minha mãe era católica, é ainda. No próprio espiritismo, algumas pessoas discriminam, mas quando me informei e conheci isso passou”, explica.
Psicóloga por formação e atualmente em casa para cuidar das crianças, a jovem mãe ainda sentiu o nervo ciático atacar. Estudiosa, ela demonstra muito conhecimento na história da Umbanda, em cada representação de divindidade. "Eu leio muito, sempre gostei de me informar, de estudar a fundo", conta
Para ela, o que mais dói é o julgamento. “Era um momento de extrema felicidade nas nossas vidas, que tomou outro caminho por conta da intolerância religiosa das pessoas”, ressalta.
Por incluir a imagem de Nossa Senhora Aparecida na cerimônia, que foi feita no dia 12 de outubro, dia da Santa e das crianças, Alinny foi condenada por alguns católicos. Na crença da Umbanda, Oxum seria a protetora das gestantes, da fecundidade, portanto, uma associação a Nossa Senhora.
“Só usamos flores e cristais, não há sacrifício de animais ou qualquer vibração ruim, não tem excesso de bebida, eu e meu marido nem bebemos. As pessoas confundem muito, criam um misticismo”, explica.
O consolo foi perceber que alguns amigos estão abertos a ouvir e conhecer o outro lado. “Nem todos os padrinhos das crianças foram na cerimônia, mas minha avó e minha mãe sim, muita gente me apoiou no Facebook, na publicação, então sentimos que existe uma compreensão e isso que nos dá forças”, acredita.
O que fica é a lição de que a fé não deve ser julgada por ninguém, apenas respeitada, como uma liberdade essencial do ser, o de acreditar no que quiser. “Meu pai de santo nem dormiu a noite que tudo aconteceu porque ficou triste, ele é a terceira geração de umbandista da família e contou que não queria que nós passássemos pelo que ele passou, de discriminação”, reflete.