Mãe que deixou cartaz para filho tem história complicada, que envolve adoção
“Meu objetivo é que ele, ao passar pelo cartaz, veja a mensagem e se de conta do quanto a família dele o ama”. A declaração é da manicure Ângela Silva de Souza, 37. Há uma semana ela tenta tocar o coração do filho, Gustavo Silva, de 21 anos, colando recados, escritos à mão, em vários pontos de Campo Grande.
O texto de um deles, que virou notícia no Lado B, pede que o rapaz deixe o mundo das drogas e saia das ruas porque está correndo perigo. “Meu filho não está desaparecido. Ele é doente e precisa de ajuda”, esclarece.
O lado mãe falou mais alto. O grito de amor foi parar no papel, mas as lembranças do irmão que, segundo ela, também é usuário de drogas, ampliou o desespero. Por conta do vício, o tio de Gustavo está preso. Há seis anos cumpre pena por formação de quadrilha e roubo, comenta.
Ângela sabe que a realidade do irmão não é das melhores e é por isso que teme pelo futuro do filho. “Eu quis fazer mais além de rezar por ele. Foi aí que tive a ideia de espalhar os cartazes”, conta.
São várias mensagens com números de telefones para contato. Cada uma tem um apelo diferente, mas todas, de forma geral, desejam um destino diferente do vivido pelo irmão: “Gustavo, meu filho, volte. A sua família te espera. Você tem valor” e “cachorro que muito anda apanha de pau” são alguns exemplos.
Ângela não vê o filho há mais de um mês, mas afirma que tem uma boa relação com ele. “Gustavo é muito carinhoso. É uma alegria só quando ele aparece para ver a gente”, diz, ao comentar que o rapaz sempre volta para casa onde mora em busca de comida e banho.
Drama familiar - Com os olhos carregados de lágrimas, a manicure revela que ficou grávida de Gustavo quando tinha 16 anos. Na época, já era mãe de Felipe, que hoje tem 21. “Por motivos de vida”, como costuma dizer, ela decidiu o entregar, com apenas três meses, para os pais de um antigo namorado criar.
O garoto foi criado como neto desta família. Mãe e filho se separaram. Nesse meio tempo, Ângela foi morar na Bolívia e teve um menino e uma menina. Em 2011, 15 anos depois do nascimento de Gustavo, o reencontro com ele aconteceu.
Adolescente, ele já enfrentava problemas com a dependência química. A reaproximação foi delicada. A relação com os pais adotivos, relata, sempre foi envolta em conflitos, mas o contato, garante, melhorou com o tempo. “Ou a gente passava a vida brigando ou começava a se entender”, resume.
Ela agradece os cuidados dos “avós de criação”, não quer expor ninguém além dela e, por isso, não informa qualquer contato para a reportagem confirmar essa versão.