Marmita vegana, ioga... incentivos são mudanças reais no trabalho
Vegano, Rodrigo conta que em 10 anos trabalhando nunca tinham oferecido alternativa de cardápio
Rodrigo Motta é vegetariano desde 2006 e vegano desse 2014. São ao menos 15 anos em que sua alimentação se “diferencia” das demais pessoas.
Em casa isso nunca foi um problema, mas no trabalho sim. Em uma espécie de desabafo em seu Twitter, Rodrigo expressou a alegria de seu veganismo ser lembrado numa confraternização do novo emprego, uma universidade privada.
“Primeiro lugar onde eu trabalho e a diretoria liga pedindo pra eu indicar lugares com comida vegana para que eu possa ser contemplado como todos os funcionários. É sobre isso. É respeito, é educação, é inclusão”, disse.
Rodrigo disse ao Lado B que ficou bem surpreso e até emocionado com atitude da empresa. “Atuo no mercado publicitário aqui da Capital há mais de 10 anos, esta é a primeira vez que uma empresa faz questão de que eu me sinta parte de uma confraternização sem ter que comer em casa antes, ou levar minha própria marmita. E hoje (quase uma semana depois), na comemoração de aniversário de outro colaborador, que recebeu salgadinhos, docinho se bolo, também fui contemplado com um lanchinho especial”, disse Rodrigo que acabado de comer sua tapioca com geleia.
Rodrigo admite que os gestores não necessariamente têm obrigação com sua escolhas pessoais, "mas que atitudes como essa, demonstram que a empresa quer realmente que todos seus colaboradores sintam-se contemplados por um ato que é pro coletivo. Esse acolhimento com certeza faz toda diferença".
Renato Lima, diretor de planejamento da Unigran, onde Rodrigo trabalha, entende que a humanização é a principal mudança no muindo do trabalho atualmente.
"A gente quer ter a humanização como valor e identidade cada um como valor. Olhamos as pessoas como pessoas singulares. Pra nós políticas de inclusão passa por respeitar identidades de gênero, religião e até essa questão da site alimentar".
A pandemia estressou de sobremaneira o mundo do trabalho. Esse modelo difícil de lidar, com metas, prazos, carga horária exaustiva, foi ainda mais pressionado com a impossibilidade de conviver em sociedade, medo de morrer, de perder alguém querido.
Por isso muitas empresas viram a necessidade de oferecer mudanças reais a seus funcionários, que do contrário, poderiam sucumbir aos reflexos terríveis desses tempos sombrios.
A Cassems decidiu fornecer aula de ioga de graça para os funcionários. "Veio num momento muito bom pra mim, tinha acabado de ser mãe. Estava voltando para o ambiente de trabalho. É um momento muito bom para equilibrar as emoções, de respirar antes da decisão", disse Adrianna Ceres Araújo, analista financeira da Cassems.
Segundo Maria Auxiliadora Budib, diretora de Assistência à Saúde, a escolha do Yoga para colaboradores nasceu da compreensão que estão todos vivendo um looping, um aceleramento e não é diferente com ninguém. A empresa, antes da pandemia, iniciou turma em período pós expediente em duas vezes na semana. Práticas de meditação, de hatha yoga. Um momento para “respirar”.
"Aí veio o vírus, o lockdown em Campo Grande , o medo e as normas de segurança. Um pouco depois , a onda que trouxe ao nosso maior hospital o drama de colaboradores sob estresse ; medo de adoecimento e sobretudo de levarem para suas famílias a infecção. Assistir ao sofrimento, na linha de frente do cuidado, fez muita gente desabar emocionalmente ou ficar a beira do burn out (esgotamento físico/mental). Víamos milagres, vidas, transformações e de repente, pacientes críticos, famílias apartadas no cuidado".
Maria conta que diferente do que pensam, medida não apensa um "curativo" empresarial. "Sabíamos da importância real para ajudar nos difíceis processos que cada um está travando em uma realidade que jamais sonharia. Assim veio o ioga para todos mas em especial, de forma voluntária, não obrigatória e com aprendizado de se auto cuidado".
É o suficiente? – Existem críticos ao modo como algumas empresas lidam com isso, como se essas medidas fossem uma cortina de fumaça que "esconderia" os reais problemas no mundo corporativo, como carga horária pesada, prazos exíguos, pressão por produtividade, então essas medidas representariam quase “esmolas".
Para a experiente consultora de RH Márcia Fachini, essa "cortina de fumaça" poderia até existir, mas antes da covid-19. "Agora as empresas perceberam que precisam da real satisfação do funcionário e isso causa mudanças estruturais no mundo do trabalho".
Essa lógica que esgarçava o ambiente de trabalho do anos 2000, de meta, tarefa e resultado, para Márcia acabou, e quem ainda insiste, vai ficar para trás.
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